Título: Obama reafirma combate a drogas
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 14/04/2012, Mundo, p. 23
Envolta em temas que tendem a desafiar a política norte-americana para a região, tem início hoje a 6ª Cúpula das Américas, em Cartagena, na Colômbia. Fortalecidos multilateralmente, os 33 países participantes devem deixar em evidência, nos debates que se seguem até amanhã, as diferenças com os Estados Unidos, a quem acusam de ter relegado a região a segundo plano. Antecipando eventuais críticas, o presidente Barack Obama, em conversa com um grupo de jornalistas latino-americanos, antecipou que buscará o diálogo sobre temas como o combate ao narcotráfico, mas .
Assim como na reunião anterior, em Trinidad e Tobago, em 2009, a ausência de Cuba será um dos temas centrais. O país foi suspenso em 1962 da Organização dos Estados Americanos (OEA), por seu alinhamento com o bloco soviético, e proibido de participar de reuniões interamericanas. A suspensão foi revogada em 2009, mas o regime de Raúl Castro não pediu o reingresso formal à OEA, embora tenha demonstrado interesse em assistir à cúpula, caso fosse convidado. Washington tomou posição contra a participação de Havana, sob a alegação de que o regime não respeita a cláusula democrática estabelecida no encontro de 2001.
Apesar da pressão dos países da Aliança Bolivariana (Alba) para que os EUA retirassem o veto, a ilha não foi convidada pela Colômbia. Em protesto, o Equador decidiu boicotar a reunião em Cartagena. Outros presidentes, como Hugo Chávez, da Venezuela, mantiveram o suspense e só confirmaram presença no último momento, mas não sem protestos. Até mesmo a presidente Dilma Rousseff foi resoluta na afirmação de que esta seria a última cúpula sem a presença cubana.
Outro assunto polêmico será o combate às drogas, como explicou ao Correio o professor Héctor Luis Saint-Pierre, do programa de pós-graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp e PUC-SP) e consultor do Conselho de Defesa da União das Nações Sul-Americanas (Unasul). Enquanto os EUA tratam a questão como problema de segurança internacional e adotaram uma guerra contra as drogas — termo abandonado pela administração Obama —, outros países querem buscar alternativas a uma política que resultou em dezenas de milhares de mortes na América Latina, especialmente na Colômbia e, mais recentemente, no México.
Sem refúgio Em entrevista ao Grupo de Diários América (GDA), Obama disse que os EUA buscarão reforçar a cooperação, para deixar os chefes dos cartéis "sem lugar para se esconder", como publicou o jornal mexicano El Universal. O presidente explicou que, para atingir esse objetivo, pretende reforçar a Iniciativa de Segurança do Caribe, lançada na cúpula de 2009, e descartou apoiar a legalização ou despenalização das drogas, o que, segundo disse, "não eliminará o perigo gerado pelo crime organizado transnacional". Países como a Guatemala impulsionam um debate sobre a descriminação do consumo. Nesta semana, o presidente Otto Pérez disse que pretendia ao menos formar um grupo de especialistas para estudar experiências de outros países com a despenalização.
A esses temas soma-se a polêmica envolvendo a Argentina, com o apoio dos latinos, e sua pretensão de incluir na declaração final da cúpula a disputa com o Reino Unido sobre as ilhas Malvinas. A proposta tem forte oposição dos EUA e do Canadá.
Para Saint-Pierre, a reunião demonstrará que os EUA precisam compreender o novo cenário na sua vizinhança. "A América do Sul elabora uma concepção estratégica que ainda não está definida, mas trata-se de uma construção pensada e voltada para os sul-americanos. Os EUA têm de começar a conviver com isso", afirmou.
Vários presidentes latino-americanos, entre eles a presidente Dilma, e o primeiro-ministro do Canadá, Stephen Harper, desembarcaram ontem na Colômbia. Hoje, a líder brasileira participa com Obama e o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, de um encontro empresarial paralelo ao evento. Após o encerramento da cúpula, amanhã, ela manterá encontro com Santos com o objetivo de "examinar formas de estimular o comércio e o investimento entre os dois países", segundo o Itamaraty.
Rendimentos de quase US$ 1 milhão O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, candidato à reeleição em novembro, divulgou ontem sua declaração de imposto de renda, que mostra receitas de US$ 800 mil em 2011. A revelação aumentou a pressão sobre seu adversário republicano, Mitt Romney, que tenta manter discrição sobre o tema. Obama informou ter ganhado US$ 789.674, no ano passado, com o salário de presidente (US$ 400 mil por ano) e com a venda de seus livros. Obama pagou US$ 172.074 de imposto de renda, equivalentes a 20,5% dos rendimentos. Tanto o presidente como seu vice, Joe Biden, publicaram suas receitas desde o ano 2000, diferentemente do milionário Romney. "Mitt Romney ainda não publicou sua declaração de impostos da época em que ganhou centenas de milhões de dólares como empresário e como governador de Massachusetts", disse Jim Messina, diretor de campanha de Obama. O candidato republicano à Casa Branca, que em mais de uma ocasião cometeu gafes ao exibir a condição de milionário, declarou em 2011 ganhos de US$ 29,9 milhões.