Correio braziliense, n. 20094, 28/05/2018. Economia, p. 7

 

Preço da gasolina dispara e atinge R$ 5

Hamilton Ferrari e Ingrid Soares

28/05/2018

 

 

CRISE DOS COMBUSTÍVEIS » Sindicombustíveis justifica que há menos etanol na composição do produto que está chegando aos postos do Distrito Federal. Efeito cascata atinge supermercados e consumidores reclamam que valores de alguns alimentos dobraram em uma semana

Enquanto o governo anuncia medidas para redução do diesel, ignora a gasolina e os preços disparam nos postos. O litro do combustível encosta em R$ 5 na capital federal, variando entre R$ 4,78 e R$ 4,90. Em alguns casos, a aditivada atinge R$ 7,90. Os valores estão sendo impactados pela falta do produto nos estabelecimentos e pela alta procura dos motoristas, que ainda enfrentam grandes filas.

Além disso, há outro fator que está elevando os custos da gasolina no Distrito Federal. O produto que está chegando nos postos tem um percentual menor de etanol na composição. De acordo com as novas exigências da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o combustível poderá ter apenas 18% de etanol anidro, frente aos atuais 27%, possibilitando o encarecimento do produto.

Segundo o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e de Lubrificantes do Distrito Federal (Sindicombustíveis-DF), o consumidor está comprando uma gasolina “mais parecida com as de nível internacional”. “O que resulta em um ganho e melhora na autonomia e na elevação do rendimento médio de consumo do combustível”, informou a entidade em nota. A mudança foi adotada pela ANP para viabilizar a venda do combustível, já que a distribuição do etanol está prejudicada.

Enquanto isso, os consumidores criticam os postos. Depois de passar mais de uma hora na fila de um posto em Candangolândia, o barbeiro Boaventura Silva, 38 anos, reclamou dos altos preços da gasolina. “Antes, colocava R$ 50 por dia, mas agora só posso pagar metade”, contou. “Acho que esse aumento é uma falta de respeito com o consumidor, que paga imposto e ainda tem que aguentar fila para comprar gasolina. Um absurdo”, completou. De acordo com o Sindicombustíveis-DF, a população “não precisa se alarmar com a falta de combustíveis na cidade”, porque, aos poucos, os postos estão sendo reabastecidos.

Em nota, a Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet) defendeu que, para reduzir os preços, é preciso mudar a política de preços adotada pela estatal. A entidade alegou que a empresa “existe para contribuir com o desenvolvimento do país” e para abastecer o mercado aos “menores custos possíveis”. “A maioria da população quer que a Petrobras atue em favor dos seus legítimos interesses, enquanto especuladores do mercado querem maximizar seus lucros de curto prazo”, comunicou.

Reação em cadeia

Não são só os motoristas estão revoltados com os preços. Nos supermercados, os consumidores também reclamam da alta dos valores nas prateleiras, principalmente entre as carnes, frutas e verduras. A dona de casa Regínea Célia Araruma, 47 anos, alegou que quase todas as mercadorias estavam mais em conta há uma semana. “Praticamente tudo aumentou. As frutas, pão, carne. Tudo está mais caro”, reclamou. “Por mês eu pago R$ 800. Se eu for comprar a mesma quantidade de produtos, o gasto vai ultrapassar R$ 1 mil”, acrescentou.

O advogado André Pitaluza, 37, percebeu um forte aumento no preço da batata. “Saiu de R$ 3 para R$ 6. Ou seja, dobrou”, disse. “Há uma alta generalizada, que, provavelmente, está associada à greve dos caminhoneiros. A quantidade de produtos diminuiu nas prateleiras. Por isso, reduzi as compras e vou esperar a situação se normalizar”, completou.

O chefe da divisão econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes, afirmou que a inflação, de um modo geral, está sendo afetada. “Os combustíveis representam 5% do orçamento das famílias diretamente, mas também há o impacto indireto nos outros produtos”, disse. “Por conta da alta dos valores e do consumo ainda contido, o varejo, que vinha tendo um resultado razoável, deve ter um tropeço em maio. Pensando no PIB (Produto Interno Bruto), vamos revisar novamente nossas projeções de crescimento para algo na ordem de 2%. Ou seja, pioramos nossa análise”, destacou o especialista.

Segundo Bentes, a pressão inflacionária da alta dos combustíveis pode fazer com que o Banco Central (BC) antecipe a subida da taxa básica Selic. “Com os preços subindo, contaminados por essas altas, o BC pode aumentar os juros num horizonte não muito distante, e sacrificar o crescimento maior da economia para tentar segurar a inflação”, afirmou o especialista.

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Petroleiros param hoje

28/05/2018

 

 

A dois dias da greve nacional de 72 horas marcada para começar quarta-feira, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) convocou para hoje uma mobilização em todas as unidades da Petrobras pelo país. A ideia é que os petroleiros não assumam seus postos no turno da manhã, informou o coordenador-geral da FUP, José Maria Rangel. Mobilizações do tipo já foram feitas ontem em seis refinarias e duas fábricas de fertilizantes. Segundo o líder sindical, a mobilização prévia será um “esquenta” da greve e não deve parar a produção, por isso, os atos deverão se concentrar nos turnos da manhã.

No sábado, a FUP entregou o comunicado de greve à Petrobras. A lista de reivindicações inclui cinco pontos, entre eles, a demissão do presidente da companhia, Pedro Parente. Os sindicalistas pedem também a redução dos preços dos combustíveis e do gás de cozinha; a manutenção de empregos e a retomada da produção interna de combustíveis; o fim da importação de derivados de petróleo; e a desmobilização do programa de venda de ativos promovido pela atual gestão da estatal.

Para Rangel, a pauta de reivindicações “dialoga” com os pedidos feitos pelo movimento grevista dos caminhoneiros e com uma preocupação da sociedade. “A sociedade está sendo penalizada pelos preços abusivos dos combustíveis”, afirmou. Ontem, o governo federal começou a estudar a possibilidade de entrar com ação na Justiça para tentar barrar a greve dos petroleiros. A ação teria de ser impetrada pela Advocacia-Geral da União (AGU), possivelmente no Supremo Tribunal Federal (STF).