Polícia Federal. Nos últimos cinco anos quase 900 pessoas foram presas pelo crime no País durante investigações da PF; ápice foi em 2015, no decorrer da Operação Lava Jato
Daniel Bramatti
Fábio Leite
Marcelo Godoy
Um a cada seis inquéritos de corrupção (16% do total) concluídos pela Polícia Federal levou algum acusado à prisão no País entre 2013 e 2017. O número de detenções se multiplicou à medida que a Lava Jato avançava. O ápice ocorreu em 2015, quando, por exemplo, os empreiteiros Marcelo Odebrecht e José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, foram presos na fase de investigação. Foram 293 prisões naquele ano ante 65 em 2013, ano imediatamente anterior ao início da operação.
Os dados indicam, no entanto, arrefecimento no último ano. Em 2017, esse número caiu para 116 prisões no País. O Estado analisou informações de 3.018 inquéritos abertos pela PF em todo Brasil, envolvendo os crimes de concussão e corrupção ativa e passiva, nos cinco anos entre 2013 e 2017. Do total, 1.729 (57%) foram concluídos.
Levando em conta apenas o universo dos inquéritos encerrados, constata-se que sete em cada dez terminam sem nenhum indiciamento. Um inquérito acaba sem indiciamento quando não se alcança prova suficiente de autoria do crime ou da existência do fato.
As prisões nessa fase são temporárias ou preventivas e têm caráter excepcional. Elas ocorrem só quando o acusado é pego em flagrante, se é uma ameaça à investigação ou quando ele pode cometer novos crimes.
Os dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação mostram que os 3.018 inquéritos resultaram na prisão de 886 pessoas – na média, há 5 prisões a cada 10 inquéritos. A maioria (62%) foi detida após expedição de mandado de prisão, como no caso do ex-ministro José Dirceu, preso em 2015. Nos demais casos, houve flagrante.
Para o criminalista Luís Henrique Machado, que defende o exgovernador do Distrito Federal José Roberto Arruda e o senador Renan Calheiros (MDB-AL), o número de indiciamentos e prisões é razoável, levando em consideração o que chama de “o clima punitivista” no País. “Se não há elementos suficientes a PF não indicia, ela se restringe aos fatos.”
Os totais de indiciamentos e de prisões não seriam necessariamente um índice de impunidade. Machado lembra, por exemplo, que desde 2007, por decisão do Supremo Tribunal Federal, a PF está impedida de indiciar parlamentares. Já os delegados dizem que o índice de 30% de indiciamentos é um número “razoável” para esses inquéritos.
“Quando trabalhei na divisão de combate ao crime organizado a gente tinha um índice de 45% de indiciamento e 75% de resolução dos inquéritos. Em muitos inquéritos a gente chega à conclusão de que não houve crime ou que há uma irregularidade administrativa e não um crime”, afirma Edvandir Paiva, presidente da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal.
Relevância. Para os delegados, importaria “resolver” o caso e isso pode significar arquivá-lo até pela inexistência de crime. “Na maior parte dos casos, haveria só fumaça e não fogo, como diz o ditado”, afirmou Manoel Galdino, diretor executivo da ONG Transparência Brasil.
É o que lembra também a subprocuradora-geral da República, Mônica Nicida, coordenadora da Câmara de Combate à Corrupção do Ministério Público Federal. “Muitas denúncias chegam sem dados que permitam confirmá-la ou a suspeita é infundada ou irrelevante. Em outras, a informação não nos chega em um tempo razoável, pois é preciso esperar pela conclusão das apurações da Receita e do Tribunal de Contas para recebermos os dados.”
Para Mônica, o sistema de investigação da corrupção pode ser mais eficiente. Seria preciso aumentar a integração dos órgãos de investigação com os de controle do Estado e aprofundar os investigações por meio de ferramentas tecnológicas para a análise de dados a fim de acabar com a dependência de denúncias nas investigações.
Segundo Galdino, é natural que o Estado aplique mais recursos em casos como a Lava Jato pela magnitude dos crimes e pelo montante envolvido. Não faria sentido “gastar no combate a um desvio de R$ 100 mil o mesmo que gasta em um esquema que desviou bilhões de reais”. “O Estado tem recursos finitos e precisa concentrar seus gastos nos casos mais importantes.”
Tempo
“Muitas denúncias chegam sem dados que permitam confirmá-la ou a suspeita é infundada ou irrelevante. Em outras, a informação não chega em um tempo razoável.”
Mônica Nicida
COORDENADORA DA CÂMARA DE COMBATE À CORRUPÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
RAIO X DOS INQUÉRITOS
Investigações da Polícia Federal sobre concussão e corrupção ativa e passiva abertas entre 2013 e 2017
O funil das investigações
EM NÚMERO
Total de inquéritos - 3.018
CONCLUÍDOS - 1.729
COM PELO MENOS UM INDICIAMENTO - 473
COM PELO MENOS UMA PRISÃO - 282
DOS INQUÉRITOS CONCLUÍDOS, 73% NÃO PROPUSERAM NENHUM INDICIAMENTO, E 84% NÃO RESULTARAM EM PRISÕES
Inquéritos por Estado
ESTADO
Rio Grande do Norte
INQUÉRITOS CONCLUÍDOS- 24
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - 42%
DURAÇÃO MÉDIA
MESES - 8
DIAS - (-)
ESTADO
Ceará
INQUÉRITOS CONCLUÍDOS -34
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - 38%
DURAÇÃO MÉDIA
MESES - 8
DIAS - 27
ESTADO
Paraná
INQUÉRITOS CONCLUÍDOS - 228
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - 25%
DURAÇÃO MÉDIA
MESES - 9
DIAS - 26
ESTADO
Roraima
INQUÉRITOS CONCLUÍDOS - 28
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - 25%
DURAÇÃO MÉDIA
MESES - 6
DIAS - 28
ESTADO
Amazonas
INQUÉRITOS CONCLUÍDOS - 28
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - 21%
DURAÇÃO MÉDIA
MESES - 15
DIAS - 10
ESTADO
Goiás
INQUÉRITOS CONCLUÍDOS - 44
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - 20%
DURAÇÃO MÉDIA
MESES - 11
DIAS - 22
ESTADO
Minas Gerais
INQUÉRITOS CONCLUÍDOS - 121
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - 20%
DURAÇÃO MÉDIA
MESES - 12
DIAS - 26
ESTADO
Pará
INQUÉRITOS CONCLUÍDOS - 71
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - 20%
DURAÇÃO MÉDIA
MESES - 16
DIAS - 19
ESTADO
Rio de Janeiro
INQUÉRITOS CONCLUÍDOS - 112
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - 17%
DURAÇÃO MÉDIA
MESES - 16
DIAS - 5
ESTADO
Mato Grosso do Sul
INQUÉRITOS CONCLUÍDOS - 84
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - 17%
DURAÇÃO MÉDIA
MESES- 11
DIAS - 16
ESTADO
Mato Grosso
INQUÉRITOS CONCLUÍDOS - 72
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - 17%
DURAÇÃO MÉDIA
MESES - 10
DIAS - 20
ESTADO
Rondônia
INQUÉRITOS CONCLUÍDOS - 38
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - 16%
DURAÇÃO MÉDIA
MESES - 11
DIAS - 15
ESTADO
Sergipe
INQUÉRITOS CONCLUÍDOS - 13
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - 15%
DURAÇÃO MÉDIA
MESES - 10
DIAS - 13
ESTADO
Espírito Santo
INQUÉRITOS CONCLUÍDOS - 28
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - 14%
DURAÇÃO MÉDIA
MESES - 10
DIAS - 20
ESTADO
Tocantins
INQUÉRITOS CONCLUÍDOS - 45
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - 13%
DURAÇÃO MÉDIA
MESES - 13
DIAS - 14
ESTADO
Bahia
INQUÉRITOS CONCLUÍDOS - 53
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - 13%
DURAÇÃO MÉDIA
MESES - 14
DIAS - 8
ESTADO
Pernambuco
INQUÉRITOS CONCLUÍDOS - 54
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - 13%
DURAÇÃO MÉDIA
MESES - 10
DIAS - 17
ESTADO
Paraíba
INQUÉRITOS CONCLUÍDOS - 16
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - 13%
DURAÇÃO MÉDIA
MESES - 15
DIAS - 10
ESTADO
Rio Grande do Sul
INQUÉRITOS CONCLUÍDOS - 141
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - 12%
DURAÇÃO MÉDIA
MESES - 16
DIAS - 4
ESTADO
São Paulo
INQUÉRITOS CONCLUÍDOS - 217
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - 12%
DURAÇÃO MÉDIA
MESES - 11
DIAS - 21
ESTADO
Piauí
INQUÉRITOS CONCLUÍDOS - 19
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - 11%
DURAÇÃO MÉDIA
MESES - 13
DIAS - 3
ESTADO
Maranhão
INQUÉRITOS CONCLUÍDOS - 29
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - 10%
DURAÇÃO MÉDIA
MESES- 15
DIAS - 13
ESTADO
Distrito Federal
INQUÉRITOS CONCLUÍDOS - 93
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - 8%
DURAÇÃO MÉDIA
MESES - 15
DIAS - 3
ESTADO
Amapá
NQUÉRITOS CONCLUÍDOS - 14
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - 7%
DURAÇÃO MÉDIA
MESES - 16
DIAS - 18
ESTADO
Santa Catarina
INQUÉRITOS CONCLUÍDOS - 85
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - 7%
DURAÇÃO MÉDIA
MESES- 16
DIAS - 18
ESTADO
Acre
INQUÉRITOS CONCLUÍDOS - 19
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - 5%
DURAÇÃO MÉDIA
MESES - 9
DIAS - 12
ESTADO
Alagoas
INQUÉRITOS CONCLUÍDOS - 14
INQUÉRITOS QUE RESULTARAM EM PRISÕES - (-)
DURAÇÃO MÉDIA
MESES - 13
DIAS- 21
As prisões ano a ano
EM NÚMERO / PRESOS POR MANDATOS / PRESOS EM FLAGRANTE
2013
PRESOS POR MANDATOS – 46
PRESOS EM FLAGRANTE - 19
TOTAL - 65
2014
PRESOS POR MANDATOS – 200
PRESOS EM FLAGRANTE - 49
TOTAL – 249
2015
PRESOS POR MANDATOS –152
PRESOS EM FLAGRANTE -141
TOTAL – 293
2016
PRESOS POR MANDATOS – 84
PRESOS EM FLAGRANTE - 79
TOTAL – 163
2017
PRESOS POR MANDATOS – 69
PRESOS EM FLAGRANTE - 47
TOTAL - 116