O Estado de São Paulo, n. 45480, 25/04/2018. Política, p. A8
Presidente do PP e alvo da Lava Jato
Fabio Serapião, Igor Gadelha e Breno Pires
25/04/2018
Polícia Federal faz buscas em gabinete e na casa do senador Ciro Nogueira, acusado de ameaçar ex-assessor que ajuda nas investigações
A Polícia Federal realizou ontem operações de busca e apreensão no Congresso, nos gabinetes do presidente do Partido Progressista (PP), o senador Ciro Nogueira (PI), e do deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), como parte da Operação Lava Jato. A ação foi um desdobramento de inquérito sigiloso que tramita no Supremo Tribunal Federal para apurar se os dois parlamentares e também o ex-deputado Márcio Junqueira atuaram para obstruir investigação em curso na Corte.
De acordo com a Procuradoria-Geral da República, Ciro e o deputado, conhecido como Dudu da Fonte, “tentavam comprar o silêncio de um ex-assessor que tem colaborado com as investigações” em andamento no Supremo. Junqueira, o exparlamentar cuja prisão foi determinada pelo ministro da Corte Edson Fachin, seria o “intermediário do esquema”.
Segundo a Procuradoria, a prisão e as buscas realizadas ontem nos gabinetes e nas residências dos parlamentares têm como objetivo reunir mais provas sobre a suposta compra de silêncio do ex-assessor. Os pepistas teriam ameaçado o ex-funcionário e oferecido o pagamento de despesas pessoais para que ele mudasse o teor das informações fornecidas em depoimento aos investigadores.
Como a investigação está em sigilo, a Procuradoria disse que não revelaria o nome do assessor que colabora com as investigações e que teria sido ameaçado pelos parlamentares. Ele chegou a prestar depoimento no inquérito, um dos primeiros da Lava Jato, que fala de repasses da construtora UTC para Ciro. O senador teria recebido R$ 1,8 milhão por meio de contratos fictícios intermediados pelo doleiro Alberto Youssef.
Dinheiro em casa. Tanto o senador como o deputado não estavam em Brasília enquanto a PF cumpria os mandados. O presidente do PP está na Europa em missão oficial e Dudu da Fonte estava no Recife. Ao realizar buscas na residência do senador, a PF encontrou R$ 200 mil em espécie. A informação sobre a apreensão de valores foi confirmada pelo advogado de Ciro, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay.
De acordo com Kakay, o fato de a PF ter encontrado valores na residência do senador é “facilmente justificado”, uma vez que ele “tem em seu Imposto de Renda valores em moeda regularmente declarados”. Segundo o criminalista, consta na declaração oficial do senador o valor de R$ 180 mil em espécie guardado em casa. O advogado disse que vai solicitar a devolução dos valores e, também, dos pertences encontrados dentro de um cofre da casa. Os objetos, afirmou Kakay, seriam da mulher de Ciro, a deputada federal Iracema Portella (PP-PI).
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que foi comunicado previamente da operação e que o Ministério Público e a Justiça “cumpriram” suas funções ao pedirem e autorizarem, respectivamente, a operação da PF. “Não é um ato que nos deixa feliz, mas a democracia é assim: todos podem ser investigados”, declarou Maia.
No Supremo, Ciro e Dudu da Fonte foram denunciados no caso conhecido como “quadrilhão do PP” e são investigados em inquérito que investiga o repasse de R$ 1,6 milhão recebido por meio de um intermediário que fazia a ponte entre políticos e a Diretoria de Abastecimento da Petrobrás.
O presidente do PP também foi citado na delação de executivos da Odebrecht. Chamado pelo codinome “Cerrado”, o senador foi citado por três delatores da empresa como destinatário de R$ 1,3 milhão nas campanhas de 2010 e 2014.
Ciro ainda é suspeito de recebimento de vantagens indevidas pelo PP para apoiar a reeleição de Dilma Rousseff (PT), em 2014, e não agir contra a presidente cassada no processo de impeachment instaurado no Congresso. O pedido de instauração de inquérito, de dezembro, é baseado na colaboração premiada do Grupo J&F
No caso do PP, o valor “pelo apoio” para a campanha da presidente cassada teria sido repassado ao senador. O valor inicial teria sido estipulado em R$ 20 milhões, mas, segundo o executivo da J&F Ricardo Saud, a empresa “acabou pagando R$ 42 milhões” diretamente ao presidente nacional do PP.
Ministérios. O PP controla três ministérios com grande capilaridade política. São indicados do partido os ministros das Cidades, da Agricultura e da Saúde, além do presidente da Caixa Econômica Federal. Com a ação de ontem, essa é segunda ofensiva da Operação Lava Jato sobre a legenda.
Responsável pela indicação de Paulo Roberto Costa para a área de Abastecimento da Petrobrás, o PP foi o primeiro partido a ser alvo das delações premiadas. Os dois primeiros delatores, Alberto Youssef e Costa, relataram à força-tarefa em Curitiba como funcionava o repasse de propinas proveniente da estatal para campanhas de políticos da sigla.
Câmara
Agentes da PF deixam o gabinete do deputado Eduardo da Fonte, do PP, após a realização de buscas e apreensão no local