Título: GDF nega que a Delta tenha sido favorecida
Autor: Correia, Karla; Calcagno, Luiz
Fonte: Correio Braziliense, 25/04/2012, Política, p. 4

O GDF apresentou ontem informações sobre os contratos com a empresa Delta, responsável por 70% dos serviços de limpeza do Distrito Federal, com objetivo de eliminar suspeitas de que a empresa tenha sido favorecida por influência do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Na avaliação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, o Ministério Público ainda não encontrou elementos suficientes para comprovar uma suposta ligação do governador do DF, Agnelo Queiroz, com Cachoeira. "Em relação ao governador, o Ministério Público não reuniu ainda elementos suficientes, porque a análise que fizemos do material da Operação Monte Carlo, no momento do encaminhamento ao Supremo para instauração do inquérito, foi parcial", afirmou Gurgel.

Investigações relacionadas à Operação Monte Carlo da Polícia Federal apontam para a existência de um elo entre a Delta e a rede de negócios de Cachoeira, acusado de comandar uma vasta rede de jogo ilegal no estado de Goiás. A Delta mantém contratos de limpeza urbana com o GDF desde 2010 e foi uma das empresas beneficiadas com a prorrogação de contratos essenciais da administração do DF feita em 2011 — no final do governo de Rogério Rosso — a pedido de Agnelo, que acabara de ser eleito. "Não era sobre a Delta apenas, mas 15 empresas que prestam serviços essenciais para o DF e que se tivessem o contrato encerrado iam agravar mais a crise da região", esclareceu ontem o porta-voz do GDF, Ugo Braga. "Além disso, A Delta assumiu no fim de 2010. No período, faturou 19 milhões. Os outros 92 milhões foram em todo o ano de 2011. O governador auditou as contas da Delta assim que assumiu o governo. E reduziu o faturamento da empresa", afirmou o porta-voz.

De acordo com o secretário de Transparência do GDF, Carlos Higino, em janeiro de 2011 o governo fez uma auditoria para verificar a existência de problemas no cumprimento de contratos essenciais firmados durante o governo anterior. "Foram encontradas irregularidades e o resultado do trabalho foi encaminhado ao Tribunal de Contas e ao Ministério Público", afirma Higino. Entre os problemas detectados na prestação de serviços pela Delta, o secretário cita a ocorrência de cobranças em duplicidade de trechos na limpeza de ruas e o descumprimento de exigências dos contratos, como varreção mecânica e o estabelecimento de horários fixos para os serviços.

Apesar de serem consideradas "de médias a graves", as irregularidades não justificavam a recisão dos contratos com a Delta, afirma Higino. "Tomamos providências desde o início do governo", argumentou o secretário, rejeitando a possibilidade de favorecimento da Delta pelo GDF. O governador Agnelo Queiroz minimizou ontem a possibilidade de sua administração ser atingida com a criação pelo Congresso Nacional de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar as ligações entre Carlinhos Cachoeira e o meio político. "Eu não vou perder um minuto do meu tempo em tratar desse assunto", afirmou Agnelo. "Essa crise não é nossa, é do DEM de Goiás. Querem botar no nosso colo".