Título: A volta de Lula ao palanque
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Fonte: Correio Braziliense, 15/04/2012, Política, p. 7

Ainda com voz debilitada e interrompida por tosses, ex-presidente discursa em evento para promover a aproximação entre Fernando Haddad e Marta Suplicy

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda em recuperação de um câncer de laringe diagnosticado em outubro do ano passado, fez ontem o seu primeiro discurso público, após finalizar as sessões de químio e radioterapia. No palanque, o petista demonstrou estar com a voz debilitada e falha, tossiu algumas vezes, e precisou interromper a fala pelo menos três vezes para beber água. Lula, inclusive, brincou com a situação. "Se eu tivesse juízo, eu não estaria falando, porque minha garganta ainda não está boa. Mas eu espero que daqui 15, 20 dias eu esteja apto a me dirigir aos companheiros e companheiras pelo Brasil afora para ajudar nosso partido a continuar crescendo, elegendo pessoas", disse em discurso de sete minutos. No fim, Lula prometeu: "no próximo (discurso) eu estarei muito melhor, para falar muito mais coisas".

O esforço feito por Lula foi claramente com a intenção de incentivar e promover uma aproximação pública do candidato petista à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, e a senadora Marta Suplicy (PT-SP). O encontro ocorreu durante a inauguração do Centro Educacional Unificado (CEU) Regina Rocco Casa, no município paulista de São Bernardo do Campo. A escola leva o nome em homenagem à mãe da ex-primeira-dama Marisa Letícia. Além de Marta e Haddad, Lula estava acompanhado da mulher e do prefeito da cidade, Luiz Marinho (PT).

Apesar da cordialidade e dos afagos trocados durante a inauguração, Marta havia mantido até ontem uma postura bem resistente a participar ativamente da campanha do ex-ministro da Educação. A parlamentar ficou sentida com a escolha de Haddad como pré-candidato oficial do partido. No mês passado, publicações de Marta no Twitter indicavam que ela estaria incomodada com a pressão do Palácio do Planalto e do PT para ajudar na campanha de Haddad, principalmente na periferia, onde ela teve boa votação em outras disputas. A senadora já havia dado declarações de que o PT havia errado na campanha. "No processo eleitoral de São Paulo, é preciso reconhecer que erramos. Fomos precipitados", publicou em seu microblog.

Ausência de tumor A expectativa é de que, a partir de agora, Lula participe mais ativamente dos eventos de campanha. No fim de março, o ex-presidente realizou exames que mostraram a "ausência de tumor visível", depois de se tratar por quase seis meses com sessões de químio e radioterapia, no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Para garantir a recuperação total, Lula continua indo ao hospital para sessões de fonoaudiologia e tem sofrido avaliações periódicas. A cura do câncer só é anunciada pela equipe médica cinco anos após o sumiço do tumor, conforme informou o hospital no mês passado.

Após o evento, o prefeito Luiz Marinho afirmou que Lula está iniciando processo de fisioterapia para recuperar massa muscular e que, com o tempo, vai reassumir os compromissos que não pôde cumprir durante o tratamento, mas que o PT e os partidos aliados precisam saber que não poderão contar com o ex-presidente como em outras eleições. "Ele falou, falou bem, mas ainda não está conseguindo falar por muito tempo", constatou.

Sarney faz exames em São Paulo

Após se sentir mal na noite de sexta-feira, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), 81 anos, antecipou os exames de rotina e deu entrada na tarde de ontem no Hospital Sírio-Libanês para um checape. De acordo com boletim médico divulgado pelo hospital, Sarney permanecerá internado e iniciou a avaliação médica, que estava prevista para esta semana. O presidente do Senado está aos cuidados do cardiologista Roberto Kalil Filho, o mesmo que foi responsável pelo tratamento de câncer da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.