Correio braziliense, n. 20122, 25/06/2018. Mundo, p. 11

 

Seguem divergências após minicúpula

25/06/2018

 

 

Convocada às pressas e sob um clima de tensão, a prévia do debate sobre a questão imigratória na Europa terminou, em Bruxelas, sem soluções claras para a cúpula de quarta e quinta-feira. Há um leque de propostas para blindar as fronteiras exteriores da União Europeia (UE) e muitas divergências sobre como lidar com os limites internos. Dezesseis dos 28 líderes sentaram-se, ontem, à mesa, e as peças-chave saíram do encontro com discursos que ainda buscam conciliação.

“Houve muita boa vontade e também algumas divergências, mas ainda resta um terreno comum”, disse a chanceler alemã, Angela Merkel. Na chegada, Merkel reiterou que suas expectativas para a cúpula não são muito otimistas. “Sabemos que, no Conselho Europeu, infelizmente, não teremos uma solução completa para a questão da migração.”

Inicialmente, oito países participariam da minicúpula  — França, Alemanha, Itália, Espanha, Áustria, Bulgária, Grécia e Malta.  O número dobrou depois que outros oito pediram para fazer parte do encontro — Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Dinamarca, Suécia, Finlândia, Eslovênia e Croácia. O chanceler austríaco, Sebastian Kurz, cujo país assumirá a liderança na presidência rotativa da UE em 1º de julho, também chegou  pouco animado. “Infelizmente, tenho pouca esperança de um resultado importante”, admitiu.

Proposta italiana

Os líderes concordaram em medidas para reduzir a migração irregular e proteger as fronteiras europeias, mas não há acordo quanto à acolhida de imigrantes. As regras europeias de refúgio, conhecidas como Regulamento de Dublin, estabelecem que o primeiro país onde o migrante chega é responsável por administrar o pedido de proteção internacional. Esse princípio foi revogado durante dois anos, período em que os países da UE se comprometeram em seguir um sistema de cotas. As nações do mediterrâneo, porém, alegam que continuaram encarregadas da maioria dos casos.

O cenário levou o novo governo italiano a chegar a Bruxelas defendendo que a responsabilidade de acolhida seja estendida aos 28 países, sob risco de sanção. “Quem desembarca na Itália desembarca na Europa”, justificou o plano apresentado pelo primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte. Pelo Twitter, ele se disse satisfeito com a reunião, que, seguiu “a direção justa no debate em curso”.“Após anos de silêncio, a Itália recupera uma voz forte na Europa!”, tuitou seu ministro de Interior, Matteo Salvini.

Diante da falta de consenso, os representantes da França, Emmanuel Macron, e da Alemanha, Angela Merkel, declaram a intenção de avançar “um interesse comum” entre vários países da UE caso não seja possível um acordo geral. Os líderes defendem “uma solução europeia” para a questão migratória, considerando a importância de “acordos bilaterais ou trilaterais de interesse mútuo”. Enquanto as medidas eram discutidas, um navio humanitário com 239 passageiros rejeitado pela Itália e por Malta esperava, em águas internacionais, por um destino.