Correio braziliense, n. 20126, 29/06/2018. Política, p. 2

 

PSB prepara o "sim" a Ciro

Bernardo Bittar

29/06/2018

 

 

ELEIÇÕES 2018 » Apesar da resistência do diretório pernambucano, caciques do partido acertam a aliança com o PDT na corrida presidencial, mas anúncio oficial deve ocorrer apenas depois da reunião da Executiva Nacional na semana que vem

Dirigentes do PSB dão como certo o apoio à candidatura presidencial de Ciro Gomes (PDT). Em conversa ocorrida ontem, governadores pressionaram o partido a unir forças com o pedetista e evitar a “carreira solo” nas eleições de outubro. Em caráter extraoficial, decidiram pela aliança com Ciro. A reunião da Executiva Nacional, que deve ocorrer na próxima semana, servirá apenas para anunciar o já que foi sacramentado nos bastidores.

A coalizão entre socialistas é avalizada por um punhado de caciques, entre eles os governadores Márcio França (SP) e Rodrigo Rollemberg (DF), o único que declara abertamente o apoio a Ciro. O vice-presidente nacional do PSB, Paulo Câmara, governador do Pernambuco, é um dos únicos ainda reticentes sobre o tema. Em nota, o diretório regional de Pernambuco informou que “permanece o diálogo com lideranças nacionais e locais de diversos partidos do campo democrático”. “Continuaremos a defender, dentro e fora do PSB, uma aliança com o Partido dos Trabalhadores, priorizando a candidatura do ex-presidente Lula”, afirmou.

Fechar com o PSB é uma tarefa cumprida cuidadosamente por Ciro, que enfrentou a tendência de o partido se aliar com os tucanos. O namoro entre PSB e PSDB foi anunciado logo depois da desistência de Joaquim Barbosa, que, mesmo com 14 milhões de votos apontados em pesquisas, preferiu não concorrer. “O Márcio queria fazer coalizão com o Alckmin, mas não deu certo, eles não queriam ceder um vice. Essa conversa com Ciro parece ter deixado essa possibilidade mais aberta, mas quem definiu a aliança foi uma parte da legenda em Pernambuco. São Paulo estava inclinado a continuar negociando, mas não dá mais tempo. Estamos em cima da hora. Não adianta dizer que o eleitor só vai se interessar pelo pleito em agosto”, detalhou um dos dirigentes do PSB.

A assessoria de imprensa do PSB disse que “nenhuma decisão será efetivamente tomada sem que haja reunião da Executiva Nacional”. Dirigentes do partido, aliás, demonstraram surpresa com a aliança, anunciada a conta-gotas pelos representantes dos caciques em Brasília. A ideia era manter a discrição até o próximo encontro oficial, agora, servirá apenas para confirmar o que todos já sabem nos bastidores.

Desde que lançou Ciro Gomes como candidato ao Planalto, o presidente do PDT, Carlos Lupi, disse que seria necessário buscar uma aliança com outras forças. Colocou-se à mesa a ideia de aproveitar a falta de um candidato petista para angariar os apoios que seriam de Lula. Um dos obstáculos era evitar a rejeição dos antilulistas, considerados parte do quinhão de eleitores de Ciro.

Dada a dificuldade do PT em decidir sua vida sem Lula, uma das ideias foi unir-se ao DEM e aproveitar o tempo de tevê. O candidato oficial do partido é o presidente de Câmara, Rodrigo Maia, que tem menos de 1% das intenções de voto, segundo as últimas pesquisas. O parlamentar fluminense deve acabar, no entanto, tentando a reeleição. “Se o partido apoiar o candidato que chegar efetivamente ao Planalto, Maia consegue continuar como presidente de Câmara e, de quebra, manter uma pauta minimamente comum com o próximo governo”, disse um de seus conselheiros.

Entre o leque de opções estaria Ciro, que desperta o interesse do presidente do DEM, ACM Neto. Ele, inclusive, veio a Brasília especialmente para se encontrar com o candidato cearense. “No cenário atual, não há ninguém tentando amarrar tantos acordos, em tantas frentes e com pessoas de perfis tão diversos quanto o Ciro”, explica o cientista político Thiago Vidal, gerente de análise da Prospectiva.

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Contagem regressiva

Deborah Fortuna 

29/06/2018

 

 

A contagem regressiva para as eleições de outubro começou, mas a 100 dias da disputa do primeiro turno, os candidatos ainda não estão oficializados. Nesse mesmo período, em 2014, mesmo com os jogos da Copa do Mundo, os políticos já traçavam estratégias para conquistar votos e davam início às campanhas eleitorais. Em 2018, o tempo encurtou pela metade e, agora, a corrida se acirra para saber quem consegue mais voto, em menos tempo.

A diminuição de 90 dias para 45 dias de campanha não é a única mudança. Também foi criado o Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC),  já que a doação de empresas e pessoas com Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) está vetada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O valor do montante foi definido em R$ 1,7 bilhão.

Segundo o calendário eleitoral, a partir de amanhã, está vedado “às emissoras de rádio e de televisão transmitir programa apresentado ou comentado por pré-candidato”. Desde o começo da Copa do Mundo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comenta as partidas de futebol da Seleção, de dentro do presídio, na sede da Polícia Federal, em Curitiba. O petista escreve os comentários em cartas, que são lidas por um locutor do programa do jornalista José Trajano, Canal 44,1 (HD) e na Rádio Brasil, atual 98,9. O TSE informou que a regra é válida para todos os pré-candidatos dos partidos.