Título: Dilma critica países ricos
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Fonte: Correio Braziliense, 15/04/2012, Política, p. 10

Em Cartagena, na Colômbia, a presidente voltou a afirmar que exportações dos países emergentes são prejudicadas pela política monetária expansionista das economias desenvolvidas

Durante o fórum "CEO das Américas", realizado ontem antes da cerimônia de abertura da 6ª Cúpula das Américas, em Cartagena das Índias, na Colômbia, a presidente Dilma Rousseff participou de um debate com o presidente anfitrião, Juan Manuel Santos, e Barack Obama, dos Estados Unidos. Mais uma vez, a presidente criticou o protecionismo internacional, afirmando que essa postura não leva ao crescimento econômico, tampouco à prosperidade. Santos disse compartilhar da preocução de Dilma. Obama não comentou diretamente a crítica e disse que o comércio entre os Estados Unidos e a América Latina vem aumentando.

Segundo a presidente, a expansão monetária dos países desenvolvidos, especialmente os da zona do euro, é uma forma de protecionismo e um obstáculo ao comércio de bens e serviços dos países emergentes. "A política monetária expansionista, sozinha, contém um fator de protecionismo que se caracteriza pelo fato de que essas moedas, quando elas não têm para onde ir, elas vão para aqueles mercados que são vistos como mais estáveis", analisou. Diante desse cenário, Dilma explicou que os países emergentes precisam se defender. "É claro que nós temos de tomar medidas para nos defender — veja bem, eu usei a palavra defender e não proteger. Defender é diferente de proteger. A defesa significa que nós vamos ter de perceber que nós não podemos deixar que nossos setores manufatureiros sejam canibalizados", declarou.

Apesar de estar entre 31 chefes de Estado e de governo, Dilma sabe que o Brasil é um dos países em evidência no encontro. Por isso, um dos objetivos da presidente é mostrar que o país não está tomando medidas protecionistas e que os investimentos estrangeiros são bem-vindos. A preocupação é devido à repercussão negativa das últimas ações de defesa comercial anunciadas pelo governo brasileiro, no início de abril, para incentivar a indústria nacional, por meio do aumento de tributação em produtos importados estrangeiros. O pacote de medidas também engloba a ampliação do processo de desoneração da folha de pagamentos; aumento da oferta de crédito para o setor produtivo e o lançamento de um novo regime automotivo — que pretende estimular investimentos no Brasil e aumento de peças nacionais.

A presidente Dilma ressaltou no encontro a importância da integração entre os países da América Latina. Ela defendeu que um "relacionamento virtuoso" passa pelo respeito à soberania dos países e pelo desenvolvimento recíproco. "O modelo que eu acredito que é o adequado é de parceria e de diálogo entre iguais. No passado, as relações assimétricas entre o Norte e o Sul foram responsáveis por processos negativos em nosso país", disse.

O tema da 6ª Cúpula das Américas é "Conectando as Américas: parceiros para a prosperidade". No sábado, primeiro dia do evento, Dilma participou de debates com outros líderes mundiais, além de um jantar oferecido pelo presidente da Colômbia, em homenagem a todos os chefes de Estado e de governo. O embarque para Brasília está previsto para hoje às 22h30. Na terça-feira, a presidente Dilma participa com a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, da 1ª Conferência Anual de Alto Nível da Parceria para Governo Aberto — acordo feito pelos governos para implementar medidas de prevenção à corrupção, promoção da transparência de dados públicos e utilização de ações que dão mais poder aos cidadãos e às populações em geral.

Antecedentes

Em visita aos Estados Unidos, no último dia 9, Dilma Rousseff também saiu em defesa da ampliação dos mercados externos para o Brasil e os países emergentes, condenando a postura do protecionismo internacional, adotado principalmente pelas nações desenvolvidas, que impõem restrições às exportações. "O governo repudia toda e qualquer forma de protecionismo, inclusive o cambial", disse ela na ocasião. A presidente apelou para que mais investimentos norte-americanos fossem feitos em território brasileiro. "Somos um país pronto para cooperar e estabelecer parcerias", ratificou Dilma.