Valor econômico, v. 18, n. 4486, 19/04/2018. Política, p. A10.

 

Marina irá reciclar programa de 2014 em sua proposta econômica

Daniela Chiaretti/ Cesar Felício

19/04/2018

 

 

Os economistas Eduardo Giannetti e André Lara Resende, coordenadores do capítulo econômico do programa da pré-candidata à Presidência Marina Silva, do Rede, têm à frente a tarefa de atualizar e revisar o programa elaborado para a eleição de 2014. O equilíbrio fiscal, por exemplo, deve ganhar destaque na nova edição, assim como as reformas da Previdência, tributária e trabalhista.

Na campanha de 2014 fazia sentido ter medidas para controlar a inflação e promover o reajuste de tarifas, o que ocorreu em 2015, na gestão de Dilma Rousseff. "Hoje, contudo, temos uma situação muito mais grave de dívida pública", diz Bazileu Margarido, ex-presidente do Ibama, engenheiro com mestrado em economia e coordenador de estrutura e finanças do programa de Marina Silva.

Giannetti e André Lara coordenam o capítulo econômico, mas acertaram que ficarão em segundo plano no contato com a imprensa. O coordenador de todo o programa é o biólogo João Paulo Capobianco, que foi secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente na gestão da ex-ministra.

"Conceitualmente não haverá grandes mudanças no programa econômico em relação ao de 2014, mas os focos e as prioridades serão objeto de revisão", registra Bazileu.

"Aquele programa refletia uma conjuntura econômica e uma situação da coalizão em torno da candidatura", continua, referindo-se ao tempo em que Marina foi vice da chapa encabeçada pelo pernambucano Eduardo Campos (PSB), morto em acidente de avião em agosto de 2014.

A defesa da autonomia institucional do Banco Central era uma posição de Campos. Marina defende, desde 2010, que o Banco Central tenha autonomia para definir a política monetária, mas não com mandato fixo para seus dirigentes.

A pré-candidata também não defenderá "posição dogmática sobre privatizações", adianta Bazileu. Esta foi uma das questões do público de 600 investidores depois de sua palestra em evento promovido pelo Banco Santander, em São Paulo, na terça-feira. Marina não defende a privatização da Petrobras e do Banco do Brasil por considerar que desempenham funções em setores estratégicos. "Mas temos 150 empresas estatais", segue Bazileu.

"Marina acredita que é preciso estabelecer relações republicanas com empresas estatais", segue ele. "A estatal não pode ter uma relação privilegiada com os órgãos reguladores", exemplifica.

Ela discorda da maneira como está sendo proposta a privatização da Eletrobras. "Antes, e mais importante que isso, é preciso discutir quais as diretrizes da política energética que se quer", defende Bazileu. "Se for para privatizar dentro deste modelo de construção de grandes barragens, e continuar como um entrave para a maior diversificação para outras fontes limpas de energia, sustentáveis e seguras, então é a política energética que está errada."

Em seu twitter, ontem à tarde, Marina citou também o economista Ricardo Paes de Barros como colaborador de seu programa econômico. Outro nome, principalmente focado em reforma tributária, será o economista Bernard Appy, de forma institucional, via o Instituto da Cidadania Fiscal.

A reforma tributária também foi uma questão da plateia do evento do Santander. Marina respondeu que as diretrizes da reforma deveriam levar em conta a simplificação do sistema, a equidade e a justiça tributária.

Marina Silva também espera a colaboração dos economistas Marcos Lisboa (do Insper), Paulo Sandroni e Samir Cury.