Valor econômico, v. 18, n. 4486, 19/04/2018. Agronegócios, p. B12.

 

Pedro Parente, solução para disputa na BRF

Luiz Henrique Mendes e Graziella Valenti

19/04/2018

 

 

Pedro Parente aceitou convite para comandar conselho de administração da BRF

 

 

Pedro Parente, presidente executivo da Petrobras desde 2016, é o nome chancelado pelo mercado para assumir a liderança do conselho de administração da BRF e dar fim à disputa entre os acionistas pelo comando da companhia. A indicação do executivo agregou R$ 1,7 bilhão ao valor de mercado da BRF, que saiu de R$ 17 bilhões para R$ 18,7 bilhões no pregão de ontem - valorização de quase 10% em apenas um dia.

Parente é "oficialmente" uma indicação feita pela Península Participações, holding de investimentos de Abilio Diniz, para ser votada na assembleia do próximo dia 26. O empresário preside o conselho da BRF desde 2013. Em fevereiro, após a companhia anunciar um prejuízo de R$ 1,1 bilhão em 2017, tornou-se alvo de uma ofensiva dos fundos de pensão Petros e Previ, os dois maiores acionistas do negócio, para que fosse encerrada sua ascendência sobre a empresa.

Com a indicação de Parente, Abilio constrói uma narrativa na qual conseguiu fazer seu sucessor. De fato, o nome de Parente ganhou força com o endosso das fundações Petros - da qual a Petrobras é a patrocinadora - e Previ. "A fundação acredita que o executivo reúne competências e experiências que, indiscutivelmente, contribuirão para viabilizar a recuperação da companhia", informou a Petros em comunicado.

Abilio não apresentou resistência para deixar o colegiado, mas vinha tentando influenciar a composição final. Com as articulações do empresário, estabeleceu-se uma disputa pelo comando da companhia.

Juntos, os principais e mais atuantes acionistas da BRF - fundos de pensão, as gestoras de recursos Tarpon e Aberdeen, Abilio e famílias herdeiras da Sadia - têm cerca de 40% do capital da empresa.

A Tarpon, hoje com 7,2% das ações, foi a mentora do movimento que levou Abilio à presidência da BRF, há cinco anos, com apoio da Previ à época. A Aberdeen, sócia mais recente com uma fatia de 5% do capital, vinha apoiando a iniciativa das fundações e atuando como difusora das propostas com outros investidores estrangeiros.

A indicação de Parente foi antecipada no início da tarde de ontem pelo Valor PRO, serviço de tempo real do Valor. Logo após a divulgação da informação, as ações da BRF, que registravam alta moderada (ver Missão dada é missão cumprida), subiram fortemente.

Em nota à imprensa, o executivo confirmou que aceitou o convite e informou que, se eleito na BRF, vai renunciar à presidência do conselho de administração da B3 (Bolsa Balcão Brasil), cujo mandato vai até abril de 2019. Ele disse que, com isso, mantém o acordo firmado com o conselho de administração da Petrobras de participar do colegiado de uma única empresa não integrante do sistema da estatal. Na petroleira, não há nenhuma alteração nas funções e atuação de Parente.

O Planalto não vê empecilhos à indicação, porque Parente já tem o aval do presidente Michel Temer para acumular funções. Fontes do palácio não confirmam que Temer esteja acompanhando a movimentação, embora seja próximo a Abilio. Mas é interesse do governo a plena recuperação da companhia.

Os desafios na BRF não serão pequenos, e a disponibilidade de tempo é o único ponto de preocupação de alguns investidores. Além de conseguir dar coesão ao novo conselho de administração, Parente terá de ser o maestro da recuperação da companhia.

Pelos planos, o presidente executivo da BRF, José Aurélio Drummond, seguirá à frente da empresa, num primeiro momento. Há confiança de que o executivo teria tranquilidade para implementar as mudanças que pretende fazer para reestruturação operacional do negócio.

A expectativa é que, além da reforma operacional da BRF, Parente, junto com todo o conselho de administração, promova uma reforma na estrutura de governança da empresa, com a revisão do papel dos órgãos de gestão e comitês existentes.

Para completar o cenário desafiador, a BRF tornou-se alvo atrativo para ofertas hostis após a acentuada perda de valor que sofreu nos últimos meses. Quando Abilio assumiu, a companhia valia R$ 40 bilhões e chegou a R$ 63 bilhões, em 2015.

Conforme o Valor apurou, mais de um grupo estuda a possibilidade de lançar uma oferta pelas ações da BRF. Como é uma companhia sem controlador definido, cabe ao conselho, nessas circunstância, negociar pelo melhor interesse da empresa e de seus acionistas.

Antes da estatal, Parente, 65 anos, presidiu a Bunge Brasil, de janeiro de 2010 a abril de 2014. De 2003 a 2009, atuou como vice-presidente do Grupo RBS. Foi Ministro de Estado (1999-2002) e o coordenador da equipe de transição do Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso para o Presidente Lula. Neste período, também presidiu a Câmara de Gestão da Crise de Energia (2001-2002).

O executivo iniciou a carreira no serviço público no Banco do Brasil em 1971. Dois anos depois, foi transferido para o Banco Central. Também foi consultor do Fundo Monetário Internacional (FMI) e de instituições públicas no País, incluindo Secretarias de Estado e a Assembleia Nacional Constituinte de 1988.

A BRF deve promover um ajuste no plano de remuneração para contemplar a chegada de Parente. O executivo, que recebe cerca de R$ 2,2 milhões na Petrobras, tinha um pacote de R$ 3,5 milhões na B3. Abilio Diniz recebia R$ 1,5 milhão por ano pela atuação no conselho. (Colaborou Andrea Jubé, de Brasília)