NO TWITTER, CADA PRÉ-CANDIDATO TEM DISCURSO PRÓPRIO

Eleições

Rodrigo Menegat

Cecília do Lago

 

O Estado analisou 15.654 posts de pré-candidatos à Presidência da República e descobriu o que diferencia seus discursos. As palavras mais características de ,um político são as que ele usa muito e os demais pouco,  proporcionalmente.

Por exemplo, a cada dez mil palavras ditas por Marina Silva (Rede), "sustentável" ocorre 42 vezes. Nos outros candidatos, essa taxa foi menor que 1. O termo é, portanto, típico dela. Há relação ainda entre as palavras destacadas e o perfil de cada um dos pré-candidatos. Geraldo Alckmin (PSDB) enfatiza  "obras" que entregou. Lula destaca as suas "caravanas".

Para fazer a comparação, foram considerados 15 presidenciáveis e as palavras citadas por pelo menos dois deles. O levantamento incluiu publicações feitas entre setembro de 2017 e abril de 2018.

Veja os gráficos dos seis mais bem colocados nas pesquisas.

 

Lula (PT)

Até o ex-presidente ser preso, seu discurso no Twitter foi marcado pela narrativa de que sua condenação foi injusta. Na comparação com os adversários, o petista é o que mais usa na rede social palavras como "inocente", "tranquilo", "indignado" e "triplex" referência ao imóvel que, segundo os juízes que o condenaram, foi recebido como propina da empreiteira OAS. Dos temas mais relacionados à campanha eleitoral, um se sobressai: "revogatório"- que remete à promessa de, em caso de vitória, convocar um referendo para que a população decida se mantém ou revoga iniciativas do governo Temer. Outros termos alusivos à corrida eleitoral e ao legado de seu governo são "pobre", "caravana", "Prouni", "Fies" e "elite". A palavra 'reforma" aparece associada à bandeira da reforma agrária e ao MST, uma das suas principais bases de apoio político.

Discurso procurou difundir tese de condenação Injusta - (Inocente)

 

Jair Bolsonaro (PSL) A palavra mais característica do pré-candidato é "canalhas". Com ela, ele ataca tanto criminosos quanto adversários e setores da sociedade que o rejeitam. "Esquerda", "PT", "PSOL", "MST", outro grupo de palavras muito utilizadas, também vem sempre associado a algum ataque. "Vagabundos" é um termo frequentemente vinculado a esse espectro ideológico. Bolsonaro cita menos a palavra "segurança" do que outros pré-candidatos. Pode soar contraditório, afinal é a principal bandeira do presidenciável na campanha, mas ele enfatiza o tema sem usar a palavra especificamente.

Seu modo de se expressar no Twitter faz alusão frequente à criminalidade, mencionando "bandidos" e "terroristas", termos mais usados do que "polícia" e "intervenção". Outro destaque são posts em que coloca em dúvida a segurança das urnas eletrônicas.

Ataques à esquerda fazem com que esse pólo ideológico,  apareça com destaque

 

Marina Silva (Rede) Se há uma palavra em 2018 que está no centro do debate nacional e que foi evitada por Marina Silva, pelo menos no Twitter, é "Lula". De todos os concorrentes ao Planalto, ela foi o que menos citou o ex-presidente, hoje preso em Curitiba: apenas duas vezes, ao comentar seu julgamento na primeira instância e ao repudiar os tiros contra a caravana do petista na passagem por Quedas do Iguaçu, no Paraná. Entre as palavras mais características da ex-senadora estão diversas referências baseadas em seu lado religioso: "Cristo", "Jesus", "pastor", "senhor" e "Deus". Além disso, fazendo jus à trajetória de ambientalista, ela fala bastante em "floresta", "índios" e termos correlatos.

Ela é a que mais tem tweets manifestando preocupação com a "polarização", clamando por investigações contra quem "rouba" o dinheiro público, e rejeitando a busca por "salvadores da pátria ".

Referências religiosas estão entre as que mais marcam o discurso da ex- senadora

 

Geraldo Alckmin (PSDB) Nenhum pré-candidato a presidente falou mais a palavra "entregamos" do que o ex-governador de São Paulo. Foram 59 tweets anunciando a entrega de alguma obra, dentre elas as 10 estações de trem ou metrô inauguradas neste ano. Também há menções a "liberamos", "concessão", "convênios", "rodovias", "infraestrutura", "metrô", "CPTM", "inauguramos", "Rodoanel" e "melhorias", todas fazendo alusão à gestão encerrada no início de abril, com a renúncia para disputar a Presidência. "Temer" é a palavra menos característica de Alckmin, ou seja, todos os adversários citaram o atual presidente com mais frequência do que ele. O tucano quase não usa os temas mais presentes no debate político: "Marielle", "investigação", "intervenção", "corruptos", "STF", "prisão", "Lula" e "PGR" passam longe de seus 280 caracteres .

Divulgação de obras era algo frequente no Twitter do ex-governador

 

Ciro Gomes (PDT) Na ponta da língua de Ciro está a sigla de sua legenda atual, o PDT. É por esse partido que ele pretende ser eleito e implantar uma agenda pela revogação da reforma trabalhista e a favor de uma reforma na Previdência. Na disputa pelos votos órfãos de Lula após a prisão do petista, Ciro só o mencionou duas vezes, menos do que os outros presidenciáveis monitorados no período.

Nomes de universidades, principalmente estrangeiras, estão no topo da lista das mais típicas de Ciro. Além de "Harvard" (onde estava no dia da prisão de Lula), ele cita as inglesa "Sussex" e "Oxford", junto com a portuguesa "Coimbra" e a brasileira "FAAP". Segundo um de seus tweets, ele já visitou mais de 30 instituições brasileiras e 7 estrangeiras, falando para mais de 35 mil estudantes neste período que antecede a campanha oficial.

O pré candidato do  PDT divulgou roteiro por universidades estrangeiras e brasileiras

 

Álvaro Dias (Podemos) Se a eleição fosse decidida em número de posts, ele já estaria com a faixa presidencial. Com 3.803 publicações, foi o pré-candidato mais ativo no Twitter. Para chegar longe nas redes, o senador escolheu um tema caro para boa parte dos brasileiros: a operação "Lava" "Jato". Na tecla do discurso contra a "corrupção" ele bate com "mensalão", "petrolão", "ladrões" e "corruptos". Não à toa, "balcão" de "negócios" é sua expressão favorita para descrever como funciona a política nacional. Porém, o bordão nada tem a ver com economia, já que Dias não costuma falar sobre "banco", "dinheiro", "investir", "PIB", "mercado" ou "indústria". Todos os concorrentes usaram tais palavras mais que ele. O pré-candidato não esquece das raízes "paranaenses" e menciona com frequência cidades importantes do Estado que o elegeu senador com 77% dos votos, como "Maringá" e "Londrina".

Discurso anticorrupção é marca do senador

 

Joaquim Barbosa (PSB) Só teve um único tweet: anunciando que há um texto em sua página no Facebook. Em post fechado, ele revelava ter se filiado ao PSB