Correio braziliense, n. 20125, 28/06/2018. Política, p. 4

 

PSB aponta para Ciro

Ingrid Soares

28/06/2018

 

 

ELEIÇÕES 2018 » Ao longo dos últimos dois dias, integrantes do partido estiveram reunidos em Brasília para amarrar os últimos acordos regionais antes do anúncio de apoio, no primeiro turno, ao ex-governador cearense, do PDT. Próximos 15 dias serão decisivos

Nas últimas 48 horas, durante reuniões dos diretórios e da cúpula dos partidos em Brasília, os integrantes do Partido Socialista Brasileiro (PSB) começaram a fechar os últimos pontos de um acordo nacional com o pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes. A tendência, segundo apurou o Correio, é que, nas próximas duas semanas, a legenda anuncie oficialmente o apoio ao ex-governador do Ceará e ex-ministro dos governos Itamar Franco e Luiz Inácio Lula da Silva.

Na terça-feira, os presidentes dos diretórios regionais do PSB consideraram que, entre três alternativas — candidatura própria, neutralidade e apoio a um nome de outro partido que seja cabeça de chapa —, a saída para manter a força e a unidade partidária é fechar aliança com o Partido Democrático Trabalhista (PDT), de Ciro. A formação das chapas para as eleições deve estar definida entre 20 de julho, quando começam as convenções partidárias, e 5 de agosto, prazo final.

Se a candidatura própria já havia sido descartada com a desistência do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, a neutralidade — defendida por uma minoria dentro da legenda — é vista como alternativa arriscada, pois os diretórios estaduais poderiam ficar livres para firmar acordos próprios, deixando o comando central do PSB sem controle. A dificuldade é unir o desejo de todos os estados em prol de um único presidenciável. Para o presidenciável Ciro, o único entrave ainda é um acordo em Pernambuco, terra do governador Paulo Câmara. Lá no estado ainda há um flerte entre o PSB e o PT para lançar a candidatura de Marília Arraes (PT), que também pleiteia o cargo de governadora do estado, e faz oposição ao projeto de reeleição de Câmara.

Ciro foi ao Recife na terça-feira e se encontrou com Câmara para tentar adesão do diretório do PSB, um dos mais influentes por contar com a prefeitura do Recife e com o comando de outros 60 municípios do estado. Na ocasião, segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, o governador de Pernambuco afirmou que Ciro possui “um importante projeto para o Brasil”. Foi o aceno mais importante do grupo pernambucano em relação a Ciro.

Sobre as chances da proximidade com Ciro enfraquecer uma possível aliança com o PT, Câmara disse que o PSB olha para o “futuro”. “Alianças nacionais envolvem reciprocidade”, disse. “A gente sabe do papel do presidente Lula, mas temos que olhar para o futuro, para as opções que sejam melhores para o Brasil”. Ciro conversou com Renata Campos, viúva do ex-governador Eduardo Campos e um dos nomes mais influentes no jogo da legenda.

Petistas

Os petistas — sabendo da força que uma aliança entre o PSB e o PDT pode gerar no campo da esquerda — tentam minar o acordo de Ciro com o partido de Câmara. No Distrito Federal, por exemplo, o governador Rodrigo Rollemberg é o articulador e principal interessado, por ganhar o apoio do PDT, partido de Joe Valle, presidente da Câmara Legislativa. Entre as unidades federativas, as principais apostas do PSB estão em Pernambuco, com Paulo Câmara; DF, com Rollemberg; Minas, com Marcio Lacerda; e São Paulo, com Márcio França.

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Meirelles atrás das mulheres

28/06/2018

 

 

O pré-candidato do MDB à Presidência da República, Henrique Meirelles, decidiu adotar tom mais agressivo contra os adversários Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT), na tentativa de conquistar principalmente o público feminino. Um vídeo da campanha de Meirelles, que será postado hoje nas redes sociais, exibe cenas de violência verbal de Bolsonaro contra mulheres, além do destempero retórico de Ciro.

A estratégia foi desenhada para expor fragilidades e polêmicas dos dois rivais de Meirelles, com o objetivo de mostrar os riscos de o eleitorado apostar naquilo que a campanha do MDB chama de “aventura” nas eleições de outubro.

O vídeo recupera um episódio de 2013, quando Bolsonaro xingou a deputada Maria do Rosário (PT-RS) de “vagabunda”, no Salão Verde da Câmara. Líder nas pesquisas de intenção de voto, o deputado é réu por incitação ao crime de estupro. Foi denunciado pelo MP por dizer à petista, em 2014, que ela não merecia ser estuprada porque era “muito feia”.

Em outra cena do filme, Bolsonaro aparece irritado em uma entrevista coletiva. “Você é uma idiota. Você é uma analfabeta”, diz ele a uma jornalista.

Ciro é apresentado como um político de temperamento explosivo. “O Lula é um merda”, afirma o pré-candidato do PDT na gravação, em referência ao ex-presidente, de quem foi ministro.

Com 1% das intenções de voto, Meirelles faz agora um movimento de ataque para se diferenciar na corrida eleitoral. No Planalto, auxiliares do presidente Michel Temer avaliam que o ex-titular da Fazenda precisa vestir o figurino de candidato, subir o tom e mostrar não ter medo do confronto.

Em conversas reservadas, dirigentes do MDB afirmam que Meirelles tem prazo até meados de julho para crescer. A candidatura do ex-chefe da equipe econômica ainda precisa passar pelo crivo da convenção do MDB, que ocorrerá no fim de julho ou início de agosto.

Pesquisas internas da campanha emedebista revelam que, a quatro meses da eleição, as mulheres são as mais indecisas sobre o voto e têm mais resistência a Bolsonaro. As sondagens também mostram que Ciro, muitas vezes, é associado à imagem de machista.

A equipe de Meirelles pretende explorar esses pontos dos adversários e, ao mesmo tempo, exibir o ex-ministro da Fazenda como um homem de diálogo e “experiência”. O vídeo faz questão de “humanizar” o pré-candidato do MDB, que aparece na companhia da família e de amigos.

“Este ano tem eleição para presidente. Em qual tempo está o candidato em que você está pensando em votar?”, pergunta um locutor em off, no filme que traz a hashtag #ChamaOMeirelles. Em seguida surgem outras indagações, entremeadas por cenas constrangedoras para Bolsonaro e para Ciro. “No tempo do preconceito? No tempo de quem acha que ainda se ganha no grito?”, provoca o narrador.