Título: Pente-fino nos estádios
Autor: Siqueira, Humberto
Fonte: Correio Braziliense, 16/04/2012, Ciência, p. 16
Com base em tecnologia criada em Israel, grupo de empresas brasileiras testa biometria facial para identificar infratores e brigões na Copa do Mundo de 2014
Belo Horizonte — Em 1992, durante a disputa de vôlei masculino dos Jogos Olímpicos de Barcelona, um foragido da Justiça brasileira foi visto entre os torcedores nas imagens da televisão. A identificação foi ao acaso, mas ações planejadas poderão vir a localizar infratores no futuro. De olho na disputa da Copa do Mundo de 2014, uma parceria entre um grupo de empresas brasileiras propõe o monitoramento dos estádios por meio de um circuito fechado de TV de alta definição capaz de identificar "bagunceiros" graças a um sistema de biometria facial. A tecnologia funciona por meio de de algoritmos inteligentes que ajudam a reconhecer pessoas de maneira não invasiva, rápida, segura e sem causar constrangimentos, pois os usuários não têm de interagir com nenhum equipamento.
A tecnologia foi desenvolvida em Israel, para ser usada em fronteiras, mas ganhou novos usos, como em arenas multiúso, plataformas de trem e metrô, segurança pública, portos, aeroportos e rodoviárias. Uma demonstração da técnica foi feita no mês passado durante o clássico entre Corinthians e Palmeiras, disputado no Estádio do Pacaembu, em São Paulo. O jogo teve muita confusão entre as torcidas e colocou à prova o sistema de monitoramento. "Conseguimos identificar vários brigões e encaminhar as imagens e a identificação de cada um deles para a polícia", garante Sandro de Souza, diretor comercial da Policom.
O sistema funciona da seguinte forma: na entrada ao estádio, todos os torcedores são filmados por câmeras de 2 megapíxels (MP). Os equipamentos são interligados ao software de biometria facial. As pessoas ligadas às torcidas organizadas, previamente cadastradas, também são adicionadas ao banco de dados do sistema. As arquibancadas são filmadas por câmeras de 16MP e 29MP, de altíssima resolução. "Uma câmera de 29MP tem 15 vezes mais resolução que uma TV Full HD", compara Souza. As câmeras são fixas e cobrem uma área preestabelecida da arquibancada. "Câmeras dome, que são as móveis, correm o risco de estar direcionadas para um ponto e o problema ocorrer em outro", acrescenta.
O sistema tem outro benefício, graças também ao software. É possível abrir uma segunda janela de visualização de uma mesma câmera e, com ela, dar zoom em algum acontecimento, enquanto na primeira janela a filmagem a distância prossegue. Assim, é possível ter a imagens gerais e aproximadas de uma mesma ocorrência. Ao fazer o zoom, a câmera pode reconhecer o brigão pela biometria. Ela funciona calculando cerca de 100 pontos, ou distâncias, no rosto da pessoa. Como por exemplo a distância entre os olhos, do nariz para a boca e muitos outros. E para garantir a segurança das imagens e captações, tudo é gravado.
Com a identificação dos torcedores problemáticos, pode-se tentar intervir no mesmo momento. Mas, se não for possível, será colocada uma restrição para aquele rosto no sistema e, numa próxima visita ao estádio, o infrator é reconhecido logo na entrada. Daí, um alerta é emitido imediatamente aos operadores e ele é impedido de assistir ao jogo. O sistema também funciona para combater outros problemas nos estádios, além das brigas, como identificar torcedores que apontam laser no rosto dos jogadores ou que arrancam cadeiras da arquibancada.
Disfarce Nem o uso de óculos e boné é suficiente para despistar. "Na entrada, policiais orientam os torcedores a retirarem esses acessórios, ao passar pela câmera que faz o cadastro das pessoas. Depois, na torcida, mesmo que de óculos e boné, o sistema pode comparar outros pontos que continuam expostos e ter uma confirmação aproximada. Além disso, o monitoramento é constante durante a partida, e um suspeito pode ser abordado", pontua Souza. Há estudos para implantar o sistema nos estádios do Mineirão e no Independência, em Belo Horizonte, mas a negociação ainda está em estágio inicial.
Ainda segundo Sandro de Souza, o método é eficiente e econômico, por exigir poucos equipamentos em relação a outros sistemas. O uso de 28 câmeras de 16MP atinge o mesmo nível de qualidade que seria obtido com a instalação de 1.360 câmeras analógicas convencionais. Há redução de custo na instalação, pois são necessários menos cabos, funcionários e menos tempo, assim como otimização dos recursos humanos na sala de segurança, redução dos custos de manutenção e suporte.
A solução tecnológica roda sobre a plataforma Windows e o soft-ware é em português, facilitando sua utilização. As imagens podem ser exportadas rapidamente. Os gestores do sistema podem ainda acessar remotamente o monitoramento via internet ou mesmo via iPhone, iPod Touch e iPad.