O Estado de São Paulo, n. 45479, 24/04/2018. Economia, p. B1.

 

Dólar fecha em R$ 3,45 e atinge maior nível desde dezembro de 2016

Ana Paula Ragazzi e Douglas Gavras

24/04/2018

 

 

A incerteza com as eleições de outubro e a perspectiva de aumento dos juros nos EUA já provocam volatilidade no mercado de câmbio, o que deve se acentuar nos próximos meses com o desenrolar da corrida eleitoral mais incerta dos últimos anos no Brasil. Reagindo à alta dos títulos americanos, o dólar se valorizou ontem em relação às moedas de países fortes e de emergentes. Ante o real, a moeda à vista subiu 1,19%, fechando a R$ 3,4497. É a maior cotação desde 2 de dezembro de 2016.

Um ambiente de maior volatilidade do câmbio é ruim para a economia: prejudica o planejamento de exportadores e importadores, que negociam usando a moeda americana como referência, e de quem, por exemplo, planeja viajar para o exterior.

Ontem, os investidores reagiram à alta dos títulos do Tesouro americano, com o rendimento das notas de 10 anos, que chegaram perto de 3%, com a perspectiva de alta dos juros. Por serem considerados mais seguros, os títulos de dívida dos EUA, ao renderem mais, acabam atraindo recursos de países emergentes, onde o risco é maior.

“A partir de agosto, o cenário interno vai pressionar mais o dólar que o externo”, diz Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central. “Mas nada parecido com 2002, quando o ex-presidente Lula foi eleito. As reservas internacionais estão altas e o País é outro.”

A economista do Itaú Julia Gottlieb diz que os sinais que apontam para ambientes externo e interno mais instáveis são visíveis há cerca de um mês. “Nós tivemos um aumento da tensão comercial entre Estados Unidos e China, que impactou nas outras moedas. Também pesa a diferença menor entre os juros americanos e a Selic, os nossos juros básicos, o que torna o Brasil menos atrativo.”

Hoje, o temor é de um aumento da inflação americana e, em seguida, a necessidade de o Fed, o banco central dos Estados Unidos, segurar os preços com uma alta maior dos juros, atualmente entre 1,5% e 1,75%, diz.

“A economia americana está perto do pleno emprego e continua contratando. Também há um estímulo fiscal grande. Imagina-se que isso dê algum gás, pressionando salários, preços e a inflação”, diz Schwartsman.

Nesta semana, também serão divulgados dados de balanços de 180 companhias americanas. Confirmado o aquecimento da economia por lá, fica mais forte a expectativa de que o Fed eleve juros mais rapidamente.

Nenhum dos analistas ouvidos pelo Estado aposta que o dólar se estabilize em um patamar maior que R$ 3,50 agora, mas dizem que é preciso observar a média trimestral.

Se o dólar se mantiver em um patamar mais alto, pode haver um pequeno reforço nas exportações e um aumento da pressão na inflação, sobretudo por itens como combustíveis.

O estrategista-chefe da XP Investimentos, Celson Plácido, ressalta, porém, que a inflação está controlada, longe de assustar. Ele diz que um bom termômetro são as outras moedas emergentes: a maioria tem reagido da mesma forma que o real ante o dólar.

Quando se olha o desempenho das demais moedas de emergentes ou de outros países exportadores de commodities, o real tem um dos desempenhos mais fracos. “O real sente as incertezas eleitorais. É como se todo mundo estivesse com febre, mas a temperatura do Brasil é um pouco mais alta”, diz Plácido. / ANA PAULA RAGAZZI e DOUGLAS GAVRAS

 

Alta

1,19%

foi o quanto subiu a cotação do dólar ontem