O Estado de São Paulo, n. 45488,   03/05/2018.  Política, p. A6

 

PGR denuncia Blairo por corrupção ativa

Teo Cury

03/05/2018

 

 

Ministro é acusado de participar de esquema de compra e venda de vagas no Tribunal de Contas de Mato Grosso quando era governador

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, apresentou ontem ao Supremo Tribunal Federal denúncia contra o ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP), por corrupção ativa, no âmbito da Operação Ararath. De acordo com a Procuradoria, em 2009, enquanto ocupava o cargo de governador de Mato Grosso, Maggi participou de um esquema de compra e venda de vagas no Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Raquel requer, além da condenação às penas previstas no Código Penal, que sejam determinadas a perda da função pública do ministro – que também tem mandato de senador –e a reparação do dano patrimonial no valor de R$ 4 milhões.

Um dos beneficiados pelo esquema em Mato Grosso teria sido Sérgio Ricardo de Almeida, atualmente afastado do cargo de conselheiro por decisão liminar (provisória) do ministro Luiz Fux, do STF, relator do caso. Almeida foi denunciado pela prática de corrupção ativa e por lavagem de dinheiro.

Em nota, o ministro, que foi governador de Mato Grosso de 2003 a 2010, disse que a denúncia causou “profunda estranheza e indignação”.

Verba pública. As investigações apontam que o dinheiro usado para o pagamento das vantagens indevidas saiu dos cofres públicos. Os valores teriam sido desviados da Assembleia Legislativa e do Executivo estadual por meio de contratações simuladas de serviços que jamais foram prestados.

De acordo com a denúncia, a organização criminosa fez pagamentos ao então conselheiro Alencar Soares Filho para que ele se aposentasse. A medida foi efetivada em 2012 e permitiu a indicação do ex-deputado estadual Sérgio Ricardo de Almeida para o TCE, informou a Procuradoria. Em troca da aposentadoria, Alencar Soares Filho teria aceitado propina que pode chegar a R$ 12 milhões.

Na peça encaminhada ao ministro Luiz Fux, a procuradorageral informa que em 2009, após receber adiantamento de R$ 2,5 milhões de Sérgio Ricardo, Alencar Soares aceitou outra proposta de Maggi e de Éder Morais, então secretário de Fazenda, para continuar no cargo.

Como recompensa, o conselheiro teria recebido bônus de R$ 1,5 milhão. A denúncia aponta ainda que foram repassados R$ 4 milhões ao conselheiro, que recebeu autorização para ficar com o saldo da devolução.

O objetivo desse novo acordo, de acordo com a Procuradoria, era assegurar que Éder Morais, e não mais Sérgio Ricardo, fosse indicado para o TCE. Ao Ministério Público Federal, Morais disse que “algum tempo depois, tomou conhecimento de que Sérgio Ricardo e Alencar Soares teriam voltado a negociar a vaga no Tribunal de Contas” e que não se opôs à medida porque a indicação era da Assembleia Legislativa.

Sérgio Ricardo foi indicado em maio de 2012 pelo então governador Silval Barbosa, à época no MDB. Silval também foi alvo da Operação Ararath, que começou em 2013 e investigou um suposto esquema de corrupção no governo de Mato Grosso entre 1995 e 2015.

O ex-governador, que ocupou o cargo entre 2010 e 2014, assinou acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal. Entre as informações prestadas por Silval em sua delação está a de um esquema de compra de apoio no Legislativo estadual, uma espécie de “mensalinho”.

 

Indenização. Além da condenação e da reparação do dano patrimonial, a procuradora-geral da República também solicitou o pagamento de indenização por danos morais coletivos, acrescido de juros de mora e correção monetária pelos danos causados à imagem e à credibilidade das instituições públicas.

 

Evento

Blairo Maggi ontem no Palácio do Planalto; ministro diz que acusação ‘causa profunda estranheza e indignação’

 

Investigação

PF DEFLAGROU OPERAÇÃO ARARATH EM NOVEMBRO DE 2013

1 Governador preso

Em maio de 2014, a PF prendeu o então governador de Mato Grosso, Silval Barbosa.

 

2 Esquema

Segundo a PF, esquema em MT era chefiado por Silval e seu antecessor no cargo, Blairo.

 

3 Cadeira no TCE-MT

PF diz que quando Blairo era governador, uma vaga de conselheiro custava R$ 4 milhões.

 

4 Delação

Em agosto de 2017, o ministro Luiz Fux, do Supremo, homologou a delação de Silval.

 

5 ‘Liderança’

Janot atribuiu a Blairo a função de líder “proeminente” na organização delatada por Silval.

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Assembleia suspende rito de impeachment de Fernando Pimentel

Leonardo Augusto

03/05/2018

 

 

Depois de receber dois recursos, Casa determina paralisação da tramitação do pedido feito contra o governador de Minas

A Assembleia Legislativa de Minas Gerais suspendeu, ontem, a tramitação do pedido de impeachment do governador Fernando Pimentel (PT) aberto na quinta-feira passada. A decisão ocorreu depois que o líder do governo na Casa, Durval Ângelo (PT), e o primeiro-secretário da Assembleia, Rogério Correia (PT), entraram com recurso contra a abertura do processo.

Os recursos foram recebidos pela Mesa, que determinou a paralisação dos prazos para tramitação do pedido. A expectativa é que os recursos sejam analisados na terça. Não há prazo limite para análise desse tipo de pedido pela presidência da Casa.

Caso continuasse em andamento, os líderes dos partidos teriam de indicar os integrantes da comissão especial para analisar e emitir parecer sobre o impedimento. O prazo era de 15 dias, contados a partir de sábado passado, quando foi publicada a entrada do pedido.

O recurso apresentado por Durval Ângelo alega que o pedido de impeachment teria de ser lido pelo presidente da Assembleia, Adalclever Lopes (MDB), e não pelo primeiro vice-presidente, Lafayette Andrada (PRB), como ocorreu.

Já o recurso apresentado por Rogério Correia questionava o fato de a justificativa da aceitação do pedido do impeachment não ter sido indicada pelo primeiro vice-presidente.

Os dois deputados do PT alegam estar amparados no regimento da Assembleia para apresentação dos recursos.

O impeachment do governador foi apresentado pelo advogado Mariel Marra. O pedido sustenta que Pimentel cometeu crime de responsabilidade por não ter repassado os chamados duodécimos, recursos enviados mansamente pelo Executivo aos outros poderes.

O pedido foi aceito em meio a uma crise entre Pimentel e o MDB, sigla do presidente da Assembleia. Um dos pontos de atrito é a possibilidade de a presidente cassada Dilma Rousseff (PT) ser candidata ao Senado em uma das duas vagas em disputa nas eleições de outubro. Adalclever é pré-candidato a uma das vagas, mas ele poderia perder o posto para a ex-presidente. PT e MDB devem compor a mesma chapa.

Na sexta-feira, um dia depois da aceitação do pedido, Pimentel e Adalclever almoçaram juntos em Uberaba, no Triângulo Mineiro, durante encontro com produtores rurais.