Valor econômico, v. 18, n. 4485, 18/04/2018. Política, p. A5.

 

Senadores visitam Lula, que tem passaporte e frigobar roubados no PR

Rafael Moro Martins

18/04/2018

 

 

As bancadas dos partidos aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fizeram ontem trocas de última hora na composição da Comissão de Direitos Humanos do Senado para contornar um despacho da juíza federal substituta Carolina Moura Lebbos, da 12ª Vara, responsável pela execução penal da sentença de Lula, e permitir que todos os 11 senadores que viajaram a Curitiba pudessem ver o ex-presidente.

A magistrada havia determinado que somente poderiam participar da visita "membros integrantes de referida Comissão". Por conta disso, os blocos partidários nomearam Humberto Costa (PT-PE), José Pimentel (PT-CE) e Lídice da Mata (PSB-BA), que viajaram ao Paraná, para ocupar os lugares de Jorge Viana (PT-AC), Ângela Portela (PDT-RR) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que ficaram em Brasília.

Além deles, estiveram com Lula Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), autora do requerimento de inspeção, Gleisi Hoffmann (PT-PR), Fátima Bezerra (PT-RN), Lindbergh Farias (PT-RJ), Paulo Paim (PT-RS), e Paulo Rocha (PT-AC).

Esta é a primeira vez que a Comissão de Direitos Humanos do Senado visita o local desde que a Operação Lava-Jato foi deflagrada.

Nas palavras de João Capiberibe (PSB-AP) a visita "não deixou de ser política" e a comitiva teria ouvido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que ele está "tranquilo e indignado" em seu décimo dia no cárcere em que cumpre os 12 anos e 1 mês de prisão em regime fechado a que foi condenado no caso do tríplex.

"O presidente Lula diz que a única arma que tem é a sua inocência, e que por isso ele se submeteu [à prisão], não pediu asilo numa embaixada ou atravessou a fronteira", disse Capiberibe.

Os senadores entraram na superintendência da Polícia Federal em Curitiba por volta das 14h10 e permaneceram no local por quase duas horas. Depois disso, saíram e falaram a jornalistas adotando um tom em que a política, e não as condições carcerárias, dominaram a conversa.

"Lula mesmo disse que suas condições são razoáveis. O banheiro [da sala em que ele cumpre a pena, no último andar do prédio] é limpinho, tem um armário, mesa, livros e muitas cartas para ele ler", descreveu Regina Souza (PT-PI), presidente da comissão.

"Mas ele está isolado, quer conversar, tem necessidade de conversar. O recado que ele deixa é que está menos preocupado com ele e mais preocupado com restabelecer o estado de direito nesse país", afirmou a petista.

"Lula diz que não está preocupado com ele, que suas condições não são tão diferentes dos últimos 20 anos da vida dele, [em que] ele disse que não frequentou um restaurante, não foi ao cinema, ficava em casa conversando com Marisa, os filhos e os netos", atalhou Capiberibe.

Na tarde de ontem, um carro usado por um dos assessores militares do Gabinete Institucional da Presidência, que sempre acompanha Lula, foi arrombado e diversos objetos pessoais do ex-presidente foram furtados. Segundo disse a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), foram roubados talão de cheque, roupas, cartas e um passaporte. De acordo com boletim de ocorrência lavrado pelo tenente que estava com o carro, teriam sido roubados ainda um frigobar, um telefone celular iPhone 6, além de dinheiro em espécie.