Título: Obama ignora a força de Dilma
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 15/04/2012, Economia, p. 20
Nova York — Enquanto alguns membros da comitiva da presidente Dilma Rousseff comemoravam o fim da viagem oficial aos Estados Unidos, esta semana, e avaliavam que ela havia se saído "muito bem", especialistas computavam o pequeno saldo da visita e criticavam a estratégia da diplomacia brasileira. O momento escolhido não foi o mais adequado, pois o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, está em plena campanha para tentar se reeleger em novembro próximo, e, portanto, tem evitado temas polêmicos. A demora em retribuir a visita de Obama, que esteve no Brasil menos de três meses depois da posse de Dilma, também foi outro ponto negativo, na avaliação dos especialistas.
"Dilma tem se concentrado mais na política interna do que na externa, assim como Obama tem focado em assuntos domésticos e nas guerras do Oriente Médio e do Afeganistão", avalia o diretor executivo do centro para estudos brasileiros do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Columbia University, Thomas Trebat. "Apesar da falta de um diálogo mais robusto, a visita da presidente brasileira aos EUA foi uma oportunidade para os dois presidentes se conhecerem melhor. Foram dados alguns passos. Mas eles serão maiores quando ela voltar após o término das eleições", emenda.
O especialista da conceituada universidade nova-iorquina, entretanto, reconhece ainda que há muita desinformação sobre o Brasil, principalmente, do presidente norte-americano. "Não houve anúncios relevantes porque Obama não está preocupado com o Brasil e ele ainda não sabe valorizar o potencial do país para contribuir na solução dos problemas globais", afirma ele lembrando que um dos poucos países com os quais os EUA têm superavit comercial é o Brasil. Para Trebat, o único saldo positivo da visita foi o anúncio de mais dois consulados no Brasil (um em Porto Alegre e outro em Belo Horizonte). Ele duvida que a obrigatoriedade do visto ocorra emo curto ou médio prazo. "Acho muito difícil isso", diz.
O brasilianista destaca ainda que Dilma ainda é muito pouco conhecida nos Estados Unidos. A presidente e seus sete ministros passaram quase incógnitos pela maioria dos jornais norte-americanos, especialmente nos da capital da maior economia do planeta.
Jornais O principal deles, o Washington Post, por exemplo, deu somente uma linha mencionando a passagem de Dilma pela Casa Branca e dividiu o espaço com o evento de Páscoa "Egg Roll" — tradicional corrida do ovo na colher de pau que ocorre nos jardins da Casa Branca todos os anos e do qual participaram mais de 30 mil pessoas no mesmo momento em que a comitiva brasileira chegava. Com isso, o discurso de Dilma no Salão Oval era abafado pelo barulho da festa que ocorria no quintal de Obama.
O diário The New York Times foi um dos poucos a dar destaque ao encontro e até criticou o fato de Obama ter dado mais atenção à corrida dos ovos do que a Dilma. O mesmo fez o jornal britânico The Guardian, que captou o verdadeiro clima da visita com o título: "Todos querem conversar com a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, menos Obama". O artigo ressaltou que nem o fato de Dilma ter 77% de aprovação e de milhões de turistas brasileiros gastarem mais de US$ 5 mil per capita nos Estados Unidos sensibilizou o governante norte-americano.
Oratória Ao contrário de seu padrinho político e antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma não tem o mesmo dom da oratória. Apesar de cometer muito menos erros de português, não conseguiu entusiasmar os cerca de 700 estudantes de Harvard. Dilma foi aplaudida sentada. "Ela não tem o carisma de Lula. Aliás, ninguém tem. Ele contava piada, falava coisas engraçadas, sabia conquistar a plateia", comenta Trebat. "Dilma é competente, inteligente, completa, redonda em seus comentários, mas são os de uma professora que não faz a turma se empolgar", afirma.
A mesma opinião é compartilhada pelo economista sênior para América Latina da Economist Intelligence Unit (EIU), Robert Wood. "O carisma pessoal de Lula ajudou a projetar o Brasil no cenário internacional. Dilma, até agora, se esforçou para levar as coisas adiante, mas o discurso contra a "guerra cambial" e o protecionismo que engatinha no país não têm ajudado muito", completa.
TropeçosA visita da presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos teve alguns tropeços. O principal deles foi protagonizado pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Ele anunciou que o Massachusetts Institute of Technology (MIT) montaria uma filial no Brasil e foi desmentido, logo em seguida, pelo instituto e por membros do próprio governo que informaram que foi feito apenas um convite para a reitora Susan Rockfield.