Título: ONU aprova envio de observadores à Síria
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 15/04/2012, Mundo, p. 26

Em um inédito alinhamento no Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre o tema, seus 15 membros aprovaram ontem, por unanimidade, uma resolução que permite o envio de até 30 observadores militares não armados à Síria, para supervisionar o cumprimento do cessar-fogo acordado entre o governo de Bashar Al-Assad e seus opositores. Os primeiros cinco enviados devem chegar a Damasco hoje. Rússia e China, que até então vinham se opondo a medidas mais duras do conselho contra a aliada Damasco, endossaram o texto apresentado pelos Estados Unidos. É a primeira vez que os embaixadores no organismo entram em um acordo para uma resolução contra o país árabe desde o início dos conflitos, deflagrados com os protestos por mudanças democráticas há mais de um ano.

O cessar-fogo entrou em vigor na quinta-feira como resultado de um plano de paz apresentado pelo enviado da ONU para a Síria, Kofi Annan, ex-secretário-geral do organismo, e aceito pelo regime sírio e opositores. Ativistas denunciam, porém, que as forças governamentais continuam os ataques de morteiros, especialmente em Homs, ainda que esporádicos. Ontem, em relatos enviados ao Correio, ativistas disseram que diversos bairros desta cidade — considerada o coração das manifestações — foram atingidos. Uma ativista denunciou que dois cinegrafistas, de nacionalidade síria, foram atingidos por disparos das forças oficiais em Homs e em Damasco. "Esses homens arriscaram suas vidas para permitir que a comunidade internacional tomasse conhecimento dos crimes cometidos pelo regime da Síria, uma vez que a mídia estrangeira está proibida de fazê-lo", disse a ativista, que preferiu não se identificar.

Após a aprovação da Resolução 2.042 ontem, a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Susan Rice, que presidente o organismo este mês, escreveu em sua conta no microblog Twitter que "por 15 votos a 0, o Conselho de Segurança das Nações Unidas demonstrou que julgará o regime na Síria por suas ações, e não por suas palavras". O embaixador sírio na ONU, Bashar Jaafari, disse que seu governo tem de permitir o trabalho dos observadores internacionais. O texto foi apresentado pelos EUA com o apoio da Grã-Bretanha, da França e da Alemanha, e competia com um outro, ingressado pela Rússia. Após várias negociações, a versão norte-americana foi "revisada" e aceita pelo embaixador russo, Vitaly Churkin, que antes mesmo da votação adiantou a repórteres que Moscou estava "satisfeita" com a resolução e a aprovaria.

Em Genebra, Annan se reuniu com o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, logo após a apreciação do documento. Um comunicado divulgado pela Secretaria-Geral dizia que os dois saudavam a adoção da resolução e "se comprometiam a fazer seu melhor para enviar a equipe (de observadores) o mais rápido possível". "A Secretaria-Geral reiterou que o governo da Síria é quem tem a responsabilidade primária de parar a violência e retirar suas forças. Ela também acrescentou que os atores envolvidos, incluindo os "Amigos da Síria", devem exercitar sua influência para encorajar a oposição a adotar passos recíprocos para cessar a violência", afirmou o comunicado oficial. Segundo a ONU, pelo menos 9 mil pessoas já morreram na Síria desde o início dos conflitos.

Por 15 votos a 0, o Conselho de Segurança das Nações Unidas demonstrou que julgará o regime na Síria por suas ações, e não por suas palavras

Susan Rice, embaixadora dos Estados Unidos na ONU, em sua conta no Twitter