Valor econômico, v. 18, n. 4485, 18/04/2018. Empresas, p. B2.

 

Eletropaulo tem até dia 26 para avaliar proposta da Enel

Graziella Valenti

18/04/2018

 

 

 O conselho de administração da Eletropaulo, presidido por Britaldo Soares, tem um excelente dilema à frente. A distribuidora paulista de energia tornou-se alvo de uma grande disputa no setor e, com a proposta pública da italiana Enel anunciada ontem, precisará decidir se seguirá com capitalização do negócio em R$ 1,5 bilhão via bolsa ou não. Além dessa definição, o colegiado também terá que dar seu parecer sobre as condições da oferta de compra.

A expectativa, segundo fontes próximas à companhia, é que essas decisões sejam tomadas entre quarta e quinta-feira (25 e 26) da próxima semana, embora o prazo legal para o colegiado emitir sua opinião vá até o dia 2 de maio (15 dias após o lançamento da oferta).

A Enel condicionou sua oferta de R$ 28 por ação da Eletropaulo - que pode totalizar um investimento de R$ 4,6 bilhões - ao cancelamento da oferta primária de venda de ações no mercado, aprovada pelo conselho da distribuidora paulista na segunda-feira.

A operação de capitalização da Eletropaulo via bolsa conta com a Neoenergia como âncora, ou seja, como compradora principal por um valor mínimo de R$ 25,51. Daí a exigência da Enel. Só após essa emissão de ações, a Neoenergia, cuja principal acionista é espanhola Iberdrola, lançaria uma oferta para compra de até todos os papéis da Eletropaulo em bolsa, por esse mesmo valor. No mercado, porém, ações fecharam em R$ 27,36, após alta superior a 24%.

Como a formação de preço da oferta de venda de ações da Eletropaulo, para capitalização, está marcada para dia 26, o conselho pode manter-se em silêncio até lá. Com isso, a Neoenergia tem tempo, inclusive, de avaliar qual será sua estratégia diante da ofensiva lançada pela Enel.

Disputas por companhias de controle pulverizado, com ofertas de mercado, são pouco comuns no Brasil. A última grande transação desse tipo foi a aquisição da GVT, em 2009, alvo de uma competição entre Vivendi e Telefônica. Na época, a competição também teve início após o principal acionista anunciar uma oferta secundária no mercado. A concorrência pelo ativo resultou numa valorização da ação em quase 50%.

Nos Estados Unidos, uma das mais emblemáticas foi a briga pelo controle da Revlon, no fim da década de 80. A atuação do conselho da empresa, alvo de diversas ofertas de compra, foi levado à corte americana. Na época da decisão, o juiz defendeu que o conselho de administração, em situações de competição por ativo, tem dever fiduciário não só para com a companhia mas também para com seus acionistas e deve buscar a melhor proposta, ser também uma espécie de "leiloeiro".

A proposta da Enel é a terceira pela Eletropaulo. A primeira hostil foi a da Energisa, no começo do mês, já recusada pelo conselho. Na época, o valor da ação em bolsa estava pouco acima de R$ 19 A oferta do grupo italiano já ação em bolsa estava pouco acima de R$ 19. A oferta do grupo italiano já representa, portanto, um ganho superior a 47% para o acionista da distribuidora.

Antes do movimento da Energisa - que conforme fontes próximas foi totalmente hostil e inesperado -, a Eletropaulo preparava uma oferta de ações que além da emissão primária para capitalização do negócio em R$ 1,5 bilhão, teria também uma grande venda secundária pelos dois principais acionistas: BNDES e AES, que somam 35,5% do capital total.

Conforme o Valor apurou, a companhia americana estava pronta para vender toda sua posição na operação, de 16,8% do capital da empresa. BNDES também planejava vender o máximo possível, dos 18,7% que possui.

Naquele momento, início de março, a Eletropaulo tinha conversas com três interessados potenciais que já consideravam serem âncoras da megaoferta: Enel, Neoenergia e GP Investimentos. Mas a oferta da Energisa modificou os planos, de acordo com pessoas próximas à operação.

O conselho da distribuidora entendeu que a venda da posição dos dois maiores sócios, numa oferta de ações, os colocaria em posição de vantagem frente aos demais acionistas - pois venderiam na frente em condições previamente negociadas. Daí, então, é que de forma negocial nasceu o formato adotado pela Neoenergia: âncora da colocação primária de ações, com preço-mínimo acordado, somado a uma subsequente oferta de aquisição aos acionistas. Era uma forma de tratar todos os acionistas da mesma forma, sem vantagem prévia para AES e BNDES.

Caso o conselho de administração da Eletropaulo cancele a venda de ações na bolsa, a Neoenergia poderá, então, lançar uma oferta concorrente ou mesmo um outro interessado. Cada proposta concorrente que eventualmente surgir deve ser, no mínimo, 5% superior à maior das ofertas vigentes. Também é possível, em casos muito disputados, que sejam feitas interferências compradoras dentro do próprio leilão - o da Enel está marcado para dia 18.

A disputa pela Eletropaulo está esgotando os esforços na Avenida Faria Lima, centro financeiro de fusões e aquisições do país. Bancos e grandes escritórios de advocacia estão todos ocupados com a transação. A Eletropaulo está sendo assessorada pelos escritórios Lefosse e pelo Barbosa Müssnich & Aragão (BMA). A Enel conta com o BTG Pactual, o Morgan Stanley e o Cescon, Barrieu, Flesch & Barreto. A Neoenergia está assessorada pelo Banco do Brasil e pelo Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. & Quiroga (assessor também na oferta de venda de ações). Energisa tem assistência do Citibank, do Stocche Forbes e do Veirano Advogados.

A CPFL Energia, agora controlada pela chinesa State Grid, que também avaliou a transação à distância, está assistida pelo Santander e pelo Credit Suisse, mais o Pinheiro Neto Advogados. 

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Dinheiro de controladoras deverá financiar aquisição

Rodrigo Polito/ Camila Maia

18/04/2018

 

 

A italiana Enel e a Neoenergia, controlada pela espanhola Iberdrola, devem contar com recursos de suas respectivas holdings para fazer frente ao possível investimento no controle da Eletropaulo.

"Temos intenção de operar a maior distribuidora da América Latina, no coração econômico da América Latina, no qual nosso objetivo é crescer", disse ao Valor o presidente da Enel no Brasil, Carlo Zorzoli. O executivo lembrou que, apenas em 2017, o grupo investiu R$ 9 bilhões no Brasil, montante que incluiu a compra da Celg da Eletrobras e da hidrelétrica Volta Grande, que era da Cemig. Em 2016, os investimentos no país tinham somado R$ 5 bilhões.

Segundo Zorzoli, a oferta da companhia, de R$ 28 por ação, vai beneficiar os acionistas da Eletropaulo e os cidadãos de São Paulo, "que terão um grupo muito focado em distribuição de energia e capacidade de investimentos de classe global". Ele afirmou que a holding Enel vai garantir todos recursos necessários para a melhoria da qualidade do serviço da companhia. "Não vamos precisar de um aumento de capital ou algo do tipo."

Em nota, a Enel destacou que o investimento total sob a oferta deverá totalizar até R$ 4,7 bilhões de reais, equivalente a € 1,1 bilhão ao câmbio de ontem. Segundo a empresa, a controladora vai fornecer o financiamento necessário para a transação.

Recursos também não devem ser problema para a Neoenergia, que pode contar com aportes da sua controladora espanhola, a Iberdrola. Ainda assim, o Valor apurou que a Neoenergia mantém o interesse pela Eletropaulo, mas não há garantias se a empresa fará uma contraproposta. O conselho de administração da companhia se reúne no dia 20 para referendar a proposta e, caso queira continuar na briga, subir o preço.

O objetivo de adquirir a Eletropaulo faz parte da estratégia da Neoenergia de crescer no mercado brasileiro e de ganhar escala. Em entrevista concedida ao Valor na última semana, o presidente mundial da Iberdrola, Ignacio Galán, que também é o presidente do conselho de administração da Neoenergia, disse que o grupo tem plano de investir € 5,8 bilhões no Brasil - o equivalente a R$ 24 bilhões. O valor inclui apenas ativos atuais da empresa e não considera possíveis aquisições e participações em novos leilões de energia e transmissão.

Para aquisições, a Iberdrola precisaria fazer um aumento de capital na Neoenergia, que tinha R$ 1,2 bilhão em caixa no fim de 2017 e uma alavancagem medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda de 4,38 vezes. O Valor apurou que um sindicato de bancos está cotando uma emissão de R$ 5,5 bilhões em notas promissórias para a companhia, montante que seria destinado à aquisição. 

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Copel busca saída legal para renovar concessão de usina

Rodrigo Polito

18/04/2018

 

 

A elétrica paranaense Copel estuda uma alternativa para a renovação da concessão da hidrelétrica Foz do Areia, maior usina da companhia e responsável por quase 35% de todo o parque gerador da empresa, cujo contrato tem vencimento previsto para 2023. A principal estratégia da companhia é buscar uma solução legal semelhante ao decreto concedido pelo governo no início deste ano e que permite a renovação da concessão da hidrelétrica de Porto Primavera, da Cesp, viabilizando assim a privatização da companhia paulista.

"Evidentemente que faz parte da estratégia da Copel buscar a renovação dessa concessão. Estamos nos preparando para isso. Vários estudos em andamento. Em relação à regulação à legislação atual, restam três alternativas. Uma é a adesão à possibilidade de renovação antecipada [da concessão] da medida provisória 579. Outra é levar a concessão até o fim do periodo e participar de um novo leilão de concessão. E uma terceira [alternativa], estamos estudando aquele decreto que foi editado pelo governo em janeiro para a privatização da Cesp e avaliando a possibilidade de nos encaixarmos nessa oportunidade aí também", disse ontem o presidente da Copel Geração e Transmissão, Sergio Lamy, em teleconferência com analistas.

"Temos a expectativa que realmente possa haver uma legislação mais favorável que venha facilitar para nós atingirmos esse objetivo de reconquistar a concessão da usina de Foz do Areia", afirmou o executivo.

Segundo o diretor de Finanças e de Relações com Investidores da Copel, André Rudek de Moura, o pagamento de um eventual bônus de outorga para ter a renovação da hidrelétrica pode superar a cifra de R$ 5 bilhões. "Temos que lembrar que temos uma concessão que está vencendo em 2023, de uma usina bastante importante. Teríamos que estar preparados para este investimento adicional que talvez possa passar de R$ 5 bilhões."

O executivo contou que parte dos recursos para este pagamento poderá ser obtida com a venda de ativos não estratégicos da Copel. Segundo ele, a empresa está em fase final de contratação de assessores financeiros e legais para auxiliar na elaboração do plano de desinvestimentos. A expectativa é que o plano seja apresentado ao conselho de administração da Copel no fim de maio.

Localizada no município de Pinhão (PR), a hidrelétrica de Foz de Areia possui capacidade instalada de 1.676 megawatts (MW). O parque gerador da Copel, de 4.838 MW, é composto por 29 usinas, sendo 16 hidrelétricas, uma termelétrica e 12 eólicas.

Na teleconferência, Rudek também contou que foi registrada a inscrição de 600 funcionários no plano de demissão voluntária da Copel, cujo prazo para adesão terminou em março. Segundo ele, os impactos previstos com a realização do plano serão divulgados no resultado do primeiro trimestre de 2018. Ele, porém, antecipou que a empresa estima uma economia da ordem de R$ 150 milhões nos próximos anos com a iniciativa.