O Estado de São Paulo, n. 45496, 11/05/2018. Metrópole, p. A2 18
Marielle: ministro confirma vereador e ex-PM investigados
11/05/2018
Participação de PM da ativa também é averiguada pela polícia do Rio; segundo Jungmann, os três não são os únicos alvos da apuração
O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, confirmou ontem que o vereador do Rio Marcello Siciliano (PHS), o ex-PM Orlando de Araujo, que está preso acusado de chefiar uma milícia, e um outro policial militar carioca estão entre os investigados pelo assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes. O ministro disse, no entanto, que eles não são os únicos investigados.
Marielle e o funcionário foram executados a tiros no centro do Rio, na noite de 14 de março. A polícia já vinha investigando a participação de milícias no duplo homicídio.
Jungmann falou em Brasília, após reunião da Câmara Intersetorial de Prevenção Social e Segurança Pública. “Eu disse lá atrás que tudo apontava para as milícias”, lembrou, ao ser questionado se as três pessoas estavam sendo investigadas.
“Não estou dizendo que são esses três especificamente. O que posso dizer é que esses e outros são investigados e que a investigação do caso Marielle está chegando a sua etapa final. Acredito que, em breve, nós devemos ter os resultados”, afirmou o ministro.
Segundo reportagem de ontem do jornal O Globo, a testemunha que acusou o vereador contou também que um policial atualmente em atividade no bairro de Olaria, zona norte carioca, e um ex-PM, que trabalhou no batalhão do Complexo da Maré, também na zona norte, estavam no carro, um Cobalt prata, usado pelos assassinos. Maré e Olaria são duas região conflagradas do Rio. Jungmann não mencionou ontem a investigação de um segundo ex-PM.
No veículo, ainda de acordo com a testemunha, havia outros dois homens. Essa dupla já teria participado de crimes semelhantes e está sendo investigada pela Delegacia de Homicídios do Rio.
Conforme a testemunha, Siciliano mandou matar Marielle porque ela estava “atrapalhando” a milícia com sua atuação política em comunidades da zona oeste dominadas pelo grupo criminoso. Mas integrantes do PSOL têm afirmado que ela não teve protagonismo nesses locais. Seu mandato na Câmara era pautado pela defesa de populações das favelas, negras e mulheres, mas sem se vincular a comunidades específicas.
Por nota, a Polícia Militar fluminense informou não ter sido comunicada sobre o envolvimento de seus agentes. “Até o presente momento, as informações divulgadas na imprensa sobre a participação de integrantes da corporação não foram confirmadas pela esfera investigativa.” Disse ainda continuar colaborando com a apuração.
Já Siciliano tem afirmado não ter ligação com a morte de Marielle, com quem, garante, mantinha bom relacionamento. Declara também jamais ter se envolvido com milícias.
Em carta escrita dentro da prisão, o ex-PM Araújo negou envolvimento com o crime e com milícias. Segundo ele, a testemunha que o acusa é um policial. Os dois teriam trabalhado em uma empresa de segurança, da qual o detento teria se afastado ao saber dessa conexão criminosa. No texto, Araújo cita o nome desse delator, mas a identidade da testemunha está sendo mantida em sigilo e ele está sob proteção do Estado.
Reconstituição. Ontem à noite, a Polícia Civil e o Exército interditaram parte das ruas do Estácio, no centro do Rio, para a reconstituição do assassinato.
O modelo da arma usada, a distância e o ângulo em que os tiros foram disparados e até mesmo o grau de perícia do assassino são algumas das informações que os policiais esperavam obter. “Como não temos a imagem do momento do crime, a reprodução simulada é uma ferramenta imprescindível”, explicou o delegado Giniton Lages, da Divisão de Homicídios. O som de uma rajada de tiros, por exemplo, pode confirmar o uso de uma submetralhadora.
A imprensa teve de se manter atrás das grades de proteção, em um ponto que não permitia a visão do local. O uso de drones foi proibido e o trânsito de moradores, restrito.
Isso foi necessário porque seriam usadas balas e munição de verdade. Além disso, quatro testemunhas do crime foram chamadas para participar da reconstituição. Seriam três pessoas que estavam no local na hora do crime e a assessora que viajava ao lado de Marielle, no banco de trás, e sobreviveu ao ataque – a identidade das quatro não foi confirmada pela polícia. A reconstituição não havia terminado até 0h20 de hoje.
Intervenção. Sobre a intervenção federal na segurança do Rio, decretada em 16 de fevereiro, Jungmann afirmou ontem que a maioria da população ainda não conseguiu perceber a mudança. “Mas as medidas saneadoras estão sendo tomadas e vão apresentar resultados.”
Simulação
Polícia e Exército isolaram ruas do centro do Rio para reconstituir a execução
PONTOS-CHAVE
Polícia apura participação de milícia no crime
Acusação
Uma testemunha disse à polícia do Rio que o vereador Marcello Siciliano (PHS) manifestou interesse no assassinato da vereadora de Marielle Franco.
Comparsas
Segundo a testemunha, um policial militar da ativa e Orlando de Araújo, ex-PM acusado de chefiar uma milícia, também estão envolvidos no crime.
Investigação
Ministro da Segurança, Raul Jungmann confirmou ontem que o vereador, Araújo e um PM são investigados. Segundo ele, não são os únicos alvos da apuração.
Defesa
Siciliano e o ex-PM Araújo negaram participação no assassinato de Marielle e envolvimento com milícias. O outro citado, um policial da ativa, não foi identificado.