O Estado de São Paulo, n. 45498, 13/05/2018. Política, p. A12
Temer deixa de cumprir promessas de programa
Ana Neira, Marianna Holanda e Paulo Beraldo
13/05/2018
Análise em parceria com a Tendências Consultoria sobre os 2 anos da gestão se baseia no documento Ponte para o Futuro
O presidente Michel Temer completou ontem seu segundo ano de governo com melhora em setores da economia, mas ainda longe da promessa de plena retomada do crescimento. A gestão Temer conseguiu se equilibrar nos 24 últimos meses. A avaliação de analistas ouvidos pelo Estado, contudo, é de que a gestão será “burocrática” até o fim do mandato, sem a perspectiva de aprovação de reformas estruturais como a da Previdência.
Conforme levantamento feito pelo Estado em parceria com a Tendências Consultoria, com base no documento Uma Ponte para o Futuro – redigido pela Fundação Ulysses Guimarães com as diretrizes para a nova gestão – e no primeiro discurso de Temer como presidente, das 15 promessas feitas, metade foi cumprida pelo governo do emedebista. O foco das metas atingidas está na área na área econômica (mais informações nesta página).
Com rejeição recorde entre os presidentes desde a redemocratização, Temer conseguiu reduzir inflação e taxa de juros. O desemprego se mantém em patamares ainda elevados, apesar de apresentar uma pequena redução no último ano.
Das promessas de reformas estruturais, apenas a trabalhista foi aprovada. As denúncias de corrupção deixaram a base de Temer frágil para a aprovação de leis impopulares em um ano eleitoral. Para o cientista político do Insper Carlos Melo, a gestão
Temer “vai andar de lado”. “Será uma gestão burocrática, com a equipe econômica fazendo o que dá e está ao alcance.”
As acusações envolvendo não apenas o presidente como seus aliados mais próximos teriam sido decisivas, segundo Melo. Temer anunciou um Ministério de “notáveis”. Nestes dois anos, porém, a Operação Lava Jato atingiu o “núcleo duro” do governo e ex-ministros foram presos. A Câmara barrou a autorização para o julgamento de duas acusações formais contra o presidente.
Claudio Couto, professor de Gestão e Políticas Públicas da FGV-SP, acredita que o governo não deve conseguir aprovar mais nada até o fim do ano. “As dificuldades têm a ver com a própria fraqueza do governo, são mais consequência que causa. As denúncias tornaram Temer um líder tóxico do qual ninguém quer se aproximar.”
Já o professor de Ciência Política da Universidade de Brasília Ricardo Wahrendorff Caldas vê com menor impacto as denúncias contra Temer, as quais avaliou como “mal formuladas, de forma corrida” e que não teriam afetado tanto sua imagem.
O governo, segundo Caldas, cumpriu promessas de controle da inflação, aprovação da lei da terceirização e a reforma trabalhista. “As dívidas foram a não aprovação da reforma da Previdência e o combate ao desemprego. Achavam que postos de trabalho seriam criados naturalmente e não foi bem assim.”
A assessoria de imprensa do do Planalto afirmou que a atual gestão persistirá na aprovação de projetos essenciais para o País, como o Cadastro Positivo aprovado na semana passada .
Temer disse ao Estado que está “disposto a fazer um acordo” com o presidente eleito para tentar aprovar a reforma da Previdência ainda neste ano. / COLABORARAM WAGNER DA SILVA e DANIEL GELBAUM, ESPECIAIS PARA O ESTADO
Presidência
O presidente Michel Temer no Palácio do Planalto; emedebista completou ontem dois anos de mandato
MINISTÉRIO
● Dez ministros e ex-ministros de Michel Temer são investigados e dois foram presos
Romero Jucá (MDB)
Sai do governo após o vazamento do áudio onde fala de suposto “acordo” para paralisar a Lava Jato. Presidente do MDB e senador, é investigado na Lava Jato.
Eliseu Padilha (MDB)
Investigado por organização criminosa e corrupção passiva na mesma denúncia contra Temer. Teria recebido R$ 8 mi para financiar campanhas do MDB. É ministro da Casa Civil.
Moreira Franco (MDB)
Investigado na mesma denúncia contra Temer e Padilha. É ministro de Minas e Energia.
Gilberto Kassab (PSD)
Teria recebido R$ 20 mi como vantagens indevidas. É ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
Marcos Pereira (PRB)
Investigado pelo recebimento de R$ 7 mi na campanha de 2014. Foi ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços até janeiro de 2018.
José Serra (PSDB)
Em 2017 deixa o ministério das Relações Exteriores. Já teve inquérito arquivado, mas ainda é investigado pela Procuradoria Geral da República.
Blairo Maggi (PP)
Teria recebido R$ 12 mi em campanha eleitoral em 2006. É ministro da Agricultura.
Ricardo Barros (PP)
Investigado por corrupção passiva, peculato e crimes contra a administração. Foi ministro da Saúde até abril de 2018.
Bruno Araújo (PSDB)
Investigado por crimes de corrupção ativa, passiva e lavagem de dinheiro. Deixou o ministério das Cidades de 2017.
Helder Barbalho (MDB)
Inquérito investiga recebimento R$ 1,5 mi na campanha eleitoral em 2014. Saiu da Integração Nacional.
Ex-ministros alvo de prisão:
Geddel Vieira (MDB)
Foi ministro da Casa Civil e está preso por lavagem de dinheiro e associação criminosa.
Henrique Alves (MDB)
Foi ministro do Turismo. Chegou a ser preso e é investigado por corrupção ativa, passiva e lavagem de dinheiro.
Espólio
● Levantamento feito pelo Estado em parceria com a consultoria Tendências analisou principais pontos do documento “Uma ponte para o futuro” e do primeiro discurso de Michel Temer na Presidência
Promessas
SIM - 6
NÃO - 7
PARCIAL - 2
Promessas
1) Formação de maioria política no Congresso
PARCIAL - 2
2) Reforma da Previdência, incluindo fixação da idade mínima para requisição
NÃO - 7
3) Criação de soluções para o desajuste fiscal
SIM - 6
4) Acabar com as despesas obrigatórias ou vinculadas
SIM - 6
5) Fim das indexações para salários e benefícios previdenciários
NÃO – 7
6) Avaliação anual de todos os programas estatais por um comitê independente
PARCIAL - 2
7) Interromper o crescimento da dívida pública brasileira
SIM - 6
8) Queda da taxa de juros a partir de 2016
SIM - 6
9) Inserção plena no comércio internacional, com maior abertura comercial
NÃO - 7
10) Convenções coletivas prevalecendo sobre as normas legais
SIM - 6
11) Redução do número de impostos e unificação da legislação do ICMS
NÃO - 7
12) Eliminação de cargos comissionados e funções gratificadas
NÃO - 7
13) Redução do índice de desemprego
NÃO - 7
Manutenção dos programas sociais como Bolsa Família, Fies e Prouni
NÃO - 7
15) Prioridade à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico
NÃO - 7