Fabio Serapião
Relatório diz que presidente do PT recebeu repasse por meio de esquema em ministério
A Polícia Federal concluiu no inquérito em que investiga a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) que há evidências de que a presidente do PT recebeu R$ 885 mil de propina em esquema de corrupção alvo da Lava Jato. No relatório final do caso, enviado ao ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, o delegado Ricardo Hiroshi Ishida lista cinco repasses que teriam sido recebidos por Gleisi que podem ser enquadrados nos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.
Quatro pagamentos citados, segundo a PF, estão relacionados à Consist, investigada na Operação Custo Brasil, desdobramento da Lava Jato em São Paulo que mirou em irregularidades no Ministério do Planejamento na gestão de Paulo Bernardo, marido de Gleisi. O quinto, no valor de R$ 300 mil, teria como origem a TAM Linhas Aéreas, mas os documentos sobre o repasse também foram apreendidos na Custo Brasil.
Todos os pagamentos citados no relatório da PF foram efetuados por meio do escritório do advogado Guilherme Gonçalves, que atuou para Gleisi e Paulo Bernardo.
A empresa de software Consist teria desviado R$ 100 milhões de empréstimos consignados entre 2010 e 2015 no Planejamento. A operação foi deflagrada em 23 de junho de 2016, quando prendeu Paulo Bernardo – ele comandou a pasta de 2005 a 2011, durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Após analisar planilhas apreendidas na Custo Brasil, ouvir pessoas envolvidas e mapear o caminho do dinheiro por meio de quebras de sigilo, a PF encontrou indícios de que Gleisi e Paulo Bernardo e pessoas ligadas ao casal receberam R$ 7 milhões do “fundo Consist”.
“Tais pagamentos aparecem como tendo sido feitos regularmente pelo escritório de Guilherme Gonçalves, mas, na realidade, tratavam-se de valores de corrupção recebidos pelo escritório de Guilherme Gonçalves”, afirma o delegado no relatório ao Supremo.
Gleisi e Paulo Bernardo já são réus na Lava Jato pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. A senadora é acusada de receber R$ 1 milhão do esquema na Petrobrás para sua campanha em 2010. Ela nega.
Despesas. Além dos valores repassados à senadora, a PF identificou que o “fundo Consist” custeou gastos de sua família. Ouvido no inquérito, um funcionário do escritório de Guilherme Gonçalves, Luis Henrique Bender, afirmou que seu patrão pagava os honorários para um advogado de Paulo Bernardo.
Além disso, segundo Bender, em determinada ocasião, Gonçalves pediu que ele comprasse um videogame Nintendo 3DS “para o filho do ministro”. De acordo com Bender, o único ministro que frequentava o escritório era Paulo Bernardo.
Ouvido sobre o repasse de R$ 300 mil da TAM, Gonçalves confirmou que não houve prestação de serviços por parte de seu escritório. Segundo ele, o valor “teria sido pagamento de honorários de campanha de Gleisi Hoffman em 2010”. Ouvido pelos investigadores, o ex-presidente da TAM Marco Bologna primeiro não soube explicar a contratação do escritório de Gonçalves. Depois, disse que o ex-diretor jurídico da empresa poderia ter mais informações. O ex-diretor jurídico Luiz Cláudio Mattos afirmou que Bologna foi o responsável pela indicação para contratação do escritório de Gonçalves.
Defesas. Gleisi afirmou que é “vítima de calúnia e perseguição”. “Nunca tive contas pagas por terceiros nem recebi dinheiro ilegal para mim ou para campanhas eleitorais. A investigação não concluiu nada, a julgar pelas insinuações levianas, que remetem a terceiros, ao invés de sustentar acusações concretas”, afirmou a senadora.
A defesa de Guilherme Gonçalves repudiou as acusações que lhe são imputadas. “Todos os honorários recebidos por seu escritório são frutos exclusivos de seu trabalho. Sua inocência será demonstrada.” A Consist não respondeu ao Estado.
A TAM informou que prestou esclarecimentos às autoridades para auxiliar nas investigações. “A companhia reafirma seu forte compromisso com o cumprimento das normas.”
‘Perseguição’
Gleisi afirma que nunca recebeu dinheiro ilegal para si ou para campanhas
‘Valores de corrupção’
“Tais pagamentos aparecem como tendo sido feitos regularmente pelo escritório de Guilherme Gonçalves, mas, na realidade, tratavam-se de valores de corrupção recebidos pelo escritório de Guilherme Gonçalves (advogado ligado a Gleisi Hoffmann).”
Ricardo Hiroshi Ishida
DELEGADO DA PF