Título: PT rachado na escolha do relator
Autor: Decat, Erich
Fonte: Correio Braziliense, 25/04/2012, Política, p. 3

A escolha do deputado Odair Cunha (PT-MG) para relator da CPI do Cachoeira, um dos cargos de mais destaque na investigação, é resultado de um acordo costurado entre os líderes do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), e do PT, Jilmar Tatto (SP). Também contou com a participação do deputado Paulo Teixeira (SP), visto como um "cavalo de troia" na disputa, e o veto do Palácio do Planalto contra o deputado Cândido Vaccarezza (SP), do grupo oposto. Como "recompensa", Vaccarezza foi indicado para um posto de titular da CPI, que também será composto por Paulo Teixeira (SP). No banco de reserva, como suplentes, estão escalados os deputados Dr.Rosinha (PR), Sibá Machado (AC) e Luiz Sérgio (RJ).

Odair Cunha faz parte do mesmo grupo do partido que conquistou os principais postos da Câmara nos últimos meses (presidência, liderança do governo, liderança do PT, CCJ e presidência da Comissão de Orçamento). No pelotão de frente estão Chinaglia e Tatto. A estratégia usada por eles foi a mesma posta em prática na disputa pela indicação da presidência da Câmara no ano passado, ocasião em que o vencedor foi Marco Maia (RS). Diante da candidatura de Vaccarezza à vaga de relator, o grupo lançou na última semana no páreo o nome do ex-líder do PT Paulo Teixeira (SP). "A candidatura do Paulinho foi posta a pedido expresso da bancada", ressaltou um integrante do grupo.

O objetivo era polarizar a disputa e mostrar que o vencedor entre os dois teria uma margem pequena numa possível vitória. Ou seja, apesar de maioria, o vencedor estaria longe de ser uma unanimidade. Como alternativa ao racha, eles lançaram o nome de Odair Cunha (MG). Montada a estratégia, Paulo Teixeira, segundo alguns petistas ouvidos pelo Correio, retirou o nome na última hora e migrou o apoio coletado ao longo da última semana para Cunha.

A mesma estratégia foi adotada por Chinaglia quando Marco Maia disputou internamente a presidência da Câmara. Detentor dos votos de boa parte da bancada, mas não da maioria, o atual líder do governo retirou a candidatura no último momento para apoiar Maia. Dessa forma, deu-se início à derrocada do grupo de Vaccarezza.

Lula Além de perder no jogo de xadrez imposto, Vaccarezza não contava com apoio do Palácio do Planalto. "Houve um veto real", ressaltou um petista. "O Odair sabe que tem o meu apoio. Eu sabia que não seria eu porque o Jilmar Tatto nunca me procurou", ressaltou Vaccarezza.

Em meio ao clima de racha do partido na Câmara, o ex-presidente Lula Inácio Lula da Silva desembarca hoje em Brasília. Na agenda oficial, consta apenas a participação na estreia do filme Pela primeira vez, a partir das 20h, no Museu da República. Segundo alguns petistas, Lula deve se encontrar para um almoço horas antes com a presidente Dilma Rousseff no Palácio da Alvorada. Ontem, no Palácio do Planalto, ao ser questionada pelos jornalistas sobre a instalação da CPI do Cachoeira, Dilma respondeu apenas: "Minha filha, um beijo, tchau".

Colaborou Juliana Braga

Seis perguntas para

Odair Cunha (PT-MG), relator da CPI do Cachoeira

Uma CPI que tem muitos fatos novos surgindo todos os dias não corre o risco de dar em nada? Não quero me pautar pelos fatos que por ventura venham à mídia. Vou me pautar pelos dois inquéritos da Polícia Federal que culminaram nas operações Vegas e Monte Carlo. A partir disso, vamos estabelecer uma linha de investigação e aprofundar o que está nas operações.

Como o senhor pode aprofundar as investigações? Você pode pedir mais quebra de sigilo das pessoas que você não teve ainda. Pode pedir novos depoimentos ou repetir os que estão nos inquéritos.

A oposição defende a criação de sub-relatorias temáticas. O senhor é a favor? Não. Nós vamos estabelecer um objeto em que todos os integrantes da comissão — sob a coordenação do relator e do presidente — conduzam as investigações. Vamos colocar toda a assessoria da comissão à disposição.

Dentro do PT, deputados diziam que, entre os nomes que estavam na disputa pela relatoria, o senhor era o que tinha menos trânsito. O senhor concorda? É claro que o líder Paulo Teixeira e o Vaccarezza têm um transito reconhecido. Mas esse é mais um argumento a favor deles que eu reconheço. Não acho que isso me diminua. Eles têm essas características e eu, outras.

Quais características? Não vou ficar me gabando. Mas tenho três mandatos de deputado. Cumpri algumas missões que a bancada me confiou. Essa é uma que me honra.

Com a confirmação do senhor como relator, pode-se dizer que o episódio da convocação da ministra Ideli Salvatti é pagina virada dentro da bancada? Sobre esse episódio, eu diria o seguinte: quem precisa saber o que aconteceu, sabe o que aconteceu e ponto.