Correio braziliense, n. 20098, 01/06/2018. Política, p. 2

 

Empresário preso por complô no Sul

Renato Souza

01/06/2018

 

 

CRISE DOS COMBUSTÍVEIS » Investigações sigilosas da Polícia Federal apontam que patrão estimulou a greve dos caminhoneiros, com ameaças aos motoristas e ordens para deixar carretas abandonadas em postos no Rio Grande do Sul. A pena pode chegar a 16 anos de prisão

A Polícia Federal realizou a primeira prisão de um patrão que estimulava os funcionários a aderirem à greve dos caminhoneiros.  O alvo da Operação Unlocked, deflagrada ontem, foi um empresário do setor de transportes do Rio Grande do Sul. De acordo com as investigações, ele estava ameaçando motoristas para que eles não voltassem ao trabalho e determinava que os trabalhadores abandonassem as carretas em postos de combustíveis. A prática, conhecida como locaute, representa violação das leis trabalhistas, e é prevista no Código Penal. A pena pode chegar a 16 anos de prisão. A suspeita da participação de empresários nos protestos foi levantada pelo presidente Michel Temer, nos primeiros dias de greve.

A identidade do homem é mantida em sigilo, mas a prisão ocorreu em um condomínio de alto padrão na cidade de Xangri-lá, no litoral norte. O delegado Alexandre Isbarrola, superintendente da PF no Rio Grande do Sul, afirmou que não poderia dar detalhes da investigação, para não prejudicar outras ações, mas disse que a corporação está mobilizada nos atos que levam a interdição de vias. “O efetivo da Polícia Federal está mobilizado e trabalhando fortemente para a identificação deste e outros fatos que venham ocorrer para impedir o livre (tráfego) de mercadorias. Vamos identificar e responsabilizar essas pessoas, sendo comprovada a formação de quadrilha ou bando.”

De acordo com a PF, mais de 60 policiais cumpriram três mandados de busca e apreensão nos municípios de Vale Real e Caxias do Sul, e um de prisão temporária em um condomínio de luxo em Xangri-lá. Duas pessoas também foram detidas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), acusadas de incitar protestos em Tabuleiro do Norte, no Ceará. Um dos detidos é vereador da cidade. A região mantinha, até ontem, o último bloqueio de rodovias do estado. Tropas do Exército Brasileiro também foram utilizadas para dispersar os manifestantes e liberar a passagem de veículos. O vereador que foi detido, de acordo com a PRF, mantinha seis caminhões e um carro de passeio parados no local do protesto e teria desacatado os policiais que tentaram remover um dos veículos.

WhatsApp

O professor João Guilherme Porto, mestre em direito empresarial da Faculdade Arnaldo, de Belo Horizonte, destaca que a prática de locaute se configura com a atuação das empresas ou empresários para impedir o exercício da atividade profissional. “A infração de locaute está prevista na lei de greve como um artifício utilizado pelos patrões para que os empregados não tenham acesso às ferramentas de trabalho. É uma espécie de greve ao contrário. Tenho receio quando entidades de governo apontam prática de locaute. Também existe previsão no Código Penal, que prevê a possibilidade de prisão dos autores”, afirma.

O Planalto tomou conhecimento de um áudio que promete uma nova paralisação dos caminhoneiros, a partir de 0h de segunda-feira. Sem autoria definida, tem sido divulgado em diversos grupos de WhatsApp desde ontem. A promessa é de que, se o governo federal não colocar em práticas as medidas acordadas, os transportadores vão cruzar os braços novamente. Apesar da viralização do conteúdo, a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) nega a autenticidade do áudio, afirma que não há uma mobilização da categoria para realizar outra greve e não reconhece o movimento.

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Ainda sem suspeito

01/06/2018

 

 

O delegado Núbio Lopes, da Delegacia de Homicídios da Polícia Civil de Vilhena, em Rondônia, afirmou ao Correio que ninguém foi preso por suspeita de participação da morte do caminhoneiro José Batistela, de 70 anos. As informações de Núbio contrapõem as afirmações do ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann. Em coletiva realizada na noite de quarta-feira, Jungmann afirmou que “o principal suspeito da morte do caminhoneiro havia sido preso pela Polícia Federal”.

No entanto, o delegado Núbio Lopes, que é o responsável pelas investigações do caso, contou que as diligências ainda estão em andamento, mas não foram realizadas prisões. José Batistela foi morto enquanto dirigia o veículo, na BR-364, quando uma pedra foi jogada contra o para-brisas do caminhão e atingiu o motorista na cabeça. Ele foi atendido pelo Corpo de Bombeiros, mas não resistiu. Informações obtidas pela reportagem apontam que no local havia um quebra-molas, que obrigou o idoso a reduzir a velocidade. Esse fato reforça a hipótese de que o crime foi premeditado.

Em nota, a assessoria do ministro Raul Jungmann informou que um homem, identificado como Vagner de Souza Nava, foi preso em flagrante na Delegacia de Polícia Federal em Vilhena, como suspeito, poucas horas antes da coletiva do ministro. Ainda de acordo com o posicionamento, a pessoa presa “continua suspeita, e por meio dela a investigação pretende chegar a todos os que fizeram o ataque”. Procurada para comentar o assunto, a Polícia Federal não respondeu aos questionamentos até o momento.