O Estado de São Paulo, n. 45505, 20/05/2018. Política, p. A10

 

Aliança competitiva em reduto eleitoral ainda é minoria

Adriana Ferraz, Felipe Siqueira e Talita Nascimento

20/05/2018

 

 

Nove dos 14 presidenciáveis citados em pesquisas têm candidatos a governador do mesmo partido nos seus Estados de origem

A cinco meses das eleições, a maioria dos presidenciáveis não tem asseguradas alianças competitivas que lhes proporcionem ampla visibilidade e expectativa de vitória em seus redutos, onde, em tese, a situação eleitoral de cada um deveria ser mais confortável. Levantamento feito pelo Estado mostra que as incertezas que rondam o cenário político nacional permitiram, por enquanto, que nove dos 14 pré-candidatos citados em pesquisas de intenção de voto contem com nomes de seus partidos para a disputa em seus Estados, mas com poucas chances de vitória.

Apesar de não ter conseguido unir o PSDB paulista em torno do nome do ex-prefeito João Doria, o presidenciável tucano, Geraldo Alckmin, é o único que tem um correligionário liderando as pesquisas de intenção de voto em seu reduto eleitoral. O ex-governador ainda tem o apoio formal de Márcio França (PSB), que lhe sucedeu no Palácio dos Bandeirantes. Se antes era visto como um problema, o palanque duplo de Alckmin em São Paulo figura agora como vantagem quando comparado à situação de seus adversários.

Além de Alckmin, os pré-candidatos que já asseguraram palanques eletrônicos em seus Estados são Guilherme Boulos (PSOL), Manuela D’Ávila (PCdoB) e Marina Silva (Rede). PT e MDB também devem compor essa lista, já que podem lançar, respectivamente, o ex-prefeito Fernando Haddad – em substituição ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso pela Lava Jato – e o exministro da Fazenda Henrique Meirelles ou o próprio presidente Michel Temer.

Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT) são os que enfrentam as situações mais complexas em seus Estados. Em ambos os casos, os presidenciáveis terão de negociar alianças para ter suas imagens e nomes expostos no horário eleitoral reservado para os candidatos ao governo. Bolsonaro ainda não indicou quem pode apoiar no Rio, e Ciro deve fechar com o PT pela reeleição do atual governador cearense, Camilo Santana. Pelas regras atuais, no entanto, Santana somente poderá pedir votos para Ciro se o PT e o PDT fecharem uma aliança nacional.

Responsável pela articulação de Ciro no Nordeste, o deputado André Figueiredo (PDT-CE) admitiu que o partido trabalha para assegurar alianças na região – na Bahia, no Piauí, no Ceará e no Acre, essa composição se dará com o PT. Mas essa estratégia, segundo ele, vale apenas para o segundo turno. “Na possibilidade de Lula ser candidato, nós teríamos, talvez, um problema maior. Caso contrário, esse problema será superado. No primeiro turno, consideramos essa possibilidade (de apoio do PT a Ciro) absolutamente remota. Esperamos que essa composição com PT e PDT seja efetivada no segundo turno”, disse.

Sem palanque para disputar o governo do Rio, o PSL aposta na candidatura de um dos filhos do presidenciável do partido ao Senado, o deputado estadual Flávio Bolsonaro, como ponto de apoio relevante no Estado.

 

Base. Para pesquisadores, a ausência de candidatos aos governos estaduais que apoiem o presidenciável – e emprestem alguma viabilidade eleitoral – pode ser um fator complicador. “Prejudica muito, porque os Estados formam a base da campanha do candidato à Presidência”, disse o professor David Fleischer, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB). “A falta de base afeta ainda mais Bolsonaro se Lula não for candidato: Bolsonaro vai ficar sem assunto, porque ele é o candidato anti-Lula.”

Com a decisão de Bernardinho (Novo) de não disputar o governo do Rio, o DEM do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que mantém sua pré-candidatura ao Planalto, intensificou negociações para lançar o ex-prefeito fluminense Eduardo Paes. “Não tenho dúvida, ele será o nosso candidato no Rio e é favorito. Vamos montar alianças com alguns partidos, chapa forte, candidaturas proporcionais, campanha vitoriosa”, afirmou o prefeito de Salvador e presidente da sigla, ACM Neto.

A opção Paes passou a ser cogitada após Cesar Maia, também ex-prefeito do Rio e pai de Rodrigo Maia, não aceitar entrar na disputa. Antes, ele havia sido cortejado pelo PSDB, que não tem candidato no Estado.

Regras. Para a Rede, as candidaturas nos Estados devem servir apenas como palanque para Marina, já que nenhuma delas se mostra competitiva até agora. No Acre, Estado de origem da pré-candidata, o nome ao governo deve ser o de Janaína Furtado, ainda não citada nas pesquisas de intenção de voto.

O mesmo deve valer para Manuela e Boulos, que rechaça a baixa competitividade de sua candidata. “A Lisete Arelaro é uma das maiores autoridades em educação pública do País. É também a única mulher até aqui na corrida. Ela representará em São Paulo o mesmo projeto que estamos construindo para o Brasil”, disse Boulos.

Já o PT em São Paulo segue isolado em seu maior reduto e sofre com a ausência de Lula. Amigo pessoal do ex-presidente, o ex-prefeito de São Bernardo do Campo Luiz Marinho, pré-candidato ao governo, aparece na quarta colocação nas pesquisas de intenção de voto./ COLABOROU ROBERTA JANSEN

 

Cenários

“Na possibilidade de Lula ser candidato, nós teríamos, talvez, um problema maior. Caso contrário, esse problema será superado. No 1.º turno, consideramos essa possibilidade (de apoio do PT a Ciro) remota.”

André Figueiredo

DEPUTADO FEDERAL (PDT-CE)

 

“Os Estados formam a base da campanha do candidato à Presidência. A falta de base (no Rio) afeta ainda mais Bolsonaro se Lula não for candidato: Bolsonaro vai ficar sem assunto, porque ele é o candidato anti-Lula.”

David Fleischer

PROFESSOR DA UNB

 

Rede de apoio

Incertezas do cenário nacional afetam acordos dos presidenciáveis nos Estados

 

CANDIDATO À PRESIDÊNCIA

São Paulo

Geraldo Alckmin (PSDB)

APOIA CANDIDATO DO SEU PARTIDO

João Doria (PSDB)

APOIA CANDIDATO DE OUTRO PARTIDO

Márcio França (PSB)

 

Guilherme Boulos (PSOL)

APOIA CANDIDATO DO SEU PARTIDO

Lisete Arelaro ( PSOL)

APOIA CANDIDATO DE OUTRO PARTIDO

Não

 

Lula  (PT)

APOIA CANDIDATO DO SEU PARTIDO

Luiz Marinho

APOIA CANDIDATO DE OUTRO PARTIDO

Não

 

Michel Temer (MDB)

APOIA CANDIDATO DO SEU PARTIDO

Paulo Skaf (PT)

APOIA CANDIDATO DE OUTRO PARTIDO

Não

 

Rio de Janeiro

Jair Bolsonaro PSL

APOIA CANDIDATO DO SEU PARTIDO

Não tem candidato formal ao governo

APOIA CANDIDATO DE OUTRO PARTIDO

Não declarou apoio a ninguém por enquanto

 

Rodrigo Maia (DEM)

APOIA CANDIDATO DO SEU PARTIDO

Eduardo Paes  (DEM)

APOIA CANDIDATO DE OUTRO PARTIDO

Não

 

Paulo R. de Castro (PSC)

APOIA CANDIDATO DO SEU PARTIDO

Wilson J. Witzel (PSC)

APOIA CANDIDATO DE OUTRO PARTIDO

Não

 

Paraná

Alvaro Dias ( Podemos)

APOIA CANDIDATO DO SEU PARTIDO

Não

APOIA CANDIDATO DE OUTRO PARTIDO

Osmar Dias* (PDT)

 

Rio Grande do Sul

Manuela D’Ávila (PCdoB)

APOIA CANDIDATO DO SEU PARTIDO

Abgail Pereira (PCdoB)

APOIA CANDIDATO DE OUTRO PARTIDO

Não

 

Goiás

Henrique Meirelles (MDB)

APOIA CANDIDATO DO SEU PARTIDO

Daniel Vilela (MDB)

APOIA CANDIDATO DE OUTRO PARTIDO

Ronaldo Caiado* (DEM)

 

Ceará

Ciro Gomes (PDT)

APOIA CANDIDATO DO SEU PARTIDO

Não

APOIA CANDIDATO DE OUTRO PARTIDO

Camilo Santana (PT)

 

Rio Grande do Norte

Flávio Rocha (PRB)

APOIA CANDIDATO DO SEU PARTIDO

Não

APOIA CANDIDATO DE OUTRO PARTIDO

Robinson Fada* (PSD)

 

Acre

Marina Silva (Rede)

APOIA CANDIDATO DO SEU PARTIDO

Janaina Furtado (Rede)

APOIA CANDIDATO DE OUTRO PARTIDO

Não

 

Alagoas

Fernando Collor ( PTC)

APOIA CANDIDATO DO SEU PARTIDO

Não tem  candidato formal ao governo

APOIA CANDIDATO DE OUTRO PARTIDO

Não declarou " apoio a ninguém por enquanto