O Estado de São Paulo, n. 45507, 22/05/2018. Economia, p. B1

 

Alta de 56% no diesel em 10 meses leva a protestos e governo promete medidas

22/05/2018

 

 

Combustível. Caminhoneiros alegam que forte elevação no preço inviabiliza sua atividade, e querem corte de impostos do diesel; governo fez reunião ontem e voltará a discutir a questão hoje, numa tentativa de pelo menos dar mais previsibilidade aos reajuste

Desde que a Petrobrás iniciou sua nova política de preços para os combustíveis, em 3 de julho do ano passado, o óleo diesel subiu 56,5% na refinaria, segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) – passou de R$ 1,5006 para R$ 2,3488 (sem contar os impostos). O aumento acompanhou a cotação do petróleo no mercado internacional, exatamente a intenção da estatal. Mas, para os caminhoneiros, essa alta vem tornando sua atividade inviável. E, por conta disso, fizeram ontem um protesto que paralisou estradas em todo o País.

O que os caminhoneiros querem é que o governo promova alguma mudança que faça cair os preços do combustível – o pedido é que sejam reduzidos impostos. “Se o nosso transporte é essencial, queremos um preço diferenciado para o diesel no setor de cargas”, disse Diumar Bueno, presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (não ligados a transportadoras).

O governo fez uma reunião ontem à noite para discutir a questão, mas não conseguiu chegar a uma decisão. Hoje, terá mais rodadas de reuniões. A primeira delas será pela manhã, no Ministério da Fazenda, onde o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, receberá o presidente da Petrobrás, Pedro Parente, e o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco. Eles deverão tentar encontrar uma forma de evitar oscilações tão frequentes no preço da gasolina e do diesel no mercado doméstico.

Ontem, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse que a Petrobrás seria chamada a conversar sobre uma maneira de dar mais previsibilidade às variações de preços dos combustíveis.

Há, porém, fortes limites ao que o governo pode fazer em relação a esse impasse. A política de atrelar os preços dos combustíveis à variação do petróleo no mercado internacional é um dos pilares da gestão de Pedro Parente na Petrobrás e foi muito bem recebida pelo mercado, ao marcar uma diferença fundamental em relação à administração da empresa no período em que Dilma Rousseff era a presidente da República. Naquele período, os preços eram segurados para não alimentarem a inflação, e o resultado foi bem ruim para a estatal.

Com a nova política, a empresa demonstra ao mercado que possui autonomia e não atua para atender os interesses de governo, mas dos seus acionistas. Mexer nisso agora seria um grande problema para o governo.

Reduzir impostos também seria uma saída difícil nesse momento, como deixou claro ontem o ministro Eduardo Guardia. “Uma discussão (sobre a redução da tributação sobre combustíveis) começou no governo, mas não há uma decisão”, disse, em teleconferência com a imprensa internacional. “Não temos essa flexibilidade, em razão da consolidação fiscal. Optamos por não aumentar impostos, porque a nossa estratégia é de reduzir custos. Mas não temos espaço para cortar tributos no momento.”

Teste. “Esse é o primeiro teste da nova política de preços da Petrobrás. Porque, até então, os preços estavam em baixa. Agora, é um período de continuidade de altas no mercado internacional . Na semana passada, o preço do diesel foi reajustado quatro vezes”, disse o ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e professor do Grupo de Economia da Energia da UFRJ (GEE/UFRJ), Helder Queiroz, que defende um tratamento diferenciado para o diesel e para o gás de cozinha (GLP).

Plinio Nastari, presidente da consultoria Datagro, porém, defende a política de preços seguida pela Petrobrás. “Temos de ter consciência de que, no Brasil, não existe combustível fora do preço de mercado. Os preços que estamos observando são os que refletem aproximadamente a realidade de preços internacionais.” 

 

Reivindicação

“Se o nosso transporte é essencial, queremos um preço diferenciado para o diesel.”

Diumar Bueno​, PRESIDENTE DA CONF. NACIONAL DOS TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS