O Estado de São Paulo, n. 45507, 22/05/2018. Economia, p. B3
Caminhões bloqueiam estradas em 19 estados
José Maria Tomazela
22/05/2018
Manifestação / Caminhoneiros reivindicam preço diferenciado no combustível para o transporte de cargas
Um protesto de caminhoneiros contra o aumento no preço do diesel paralisou ontem rodovias em 19 Estados e no Distrito Federal, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF). Apenas em rodovias federais, a PRF contabilizava 124 pontos com manifestações até o fim da tarde. Para a Confederação Nacional dos Transportes Autônomos (CNTA), houve 127 bloqueios totais ou parciais, incluindo rodovias estaduais de São Paulo e Santa Catarina. A previsão era de que o protesto continuasse hoje.
Os caminhoneiros reivindicam preço diferenciado para o transporte de cargas e o fim da cobrança de pedágio para o eixo suspenso, além de melhoria no valor do frete. Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, os reajustes constantes do diesel nas refinarias e dos impostos que recaem sobre o combustível tornaram a situação insustentável. “Mesmo com a mobilização marcada, o governo anunciou outro aumento (que entra em vigor hoje). Há correção quase diária, que dificulta a previsão de custos por parte do transportador.” Segundo ele, os protestos estão sendo pacíficos. “Não apoiamos barricadas, nem depredação de patrimônio público.”
O presidente da CNTA, Diumar Bueno, disse que a mobilização deve prosseguir por tempo indeterminado. “Vamos continuar até que o governo nos atenda”, afirmou.
De acordo com a Polícia Federal, os Estados com maior número de manifestações eram Paraná, com 20 bloqueios, Rio de Janeiro, com 15 estradas bloqueadas, e Minas Gerais e Bahia, com 14 pontos cada um. No Paraná, o juiz federal Marcos Josegrei da Silva proibiu a interdição de rodovias, prevendo multa de R$ 100 mil por hora de bloqueio, mas permitiu protestos em meia pista, desde que o tráfego não fosse interrompido. Em Santa Catarina, houve 9 bloqueios, incluindo rotas de abastecimento das granjas de aves e suínos. Em Mato Grosso do Sul, no acesso a Campo Grande, manifestantes fizeram barricadas com pneus e atearam fogo.
Em São Paulo, os caminhoneiros entraram em comboios na capital, causando congestionamentos nas Marginais do Tietê e do Pinheiros e nas Avenidas Escola Politécnica e Jacu-Pêssego. Houve bloqueios em três pontos da Via Dutra, na Fernão Dias, em Atibaia, e no acesso à Refinaria de Paulínia. Em Jacareí, na Dutra, um caminhão que tentou furar o bloqueio foi apedrejado e teve o pneu furado.
Até o fim da tarde, segundo o presidente da CNTA, o governo não havia indicado que abriria negociação. “Acho que o governo vai nos procurar quando o movimento, que já é significativo, ganhar mais corpo. Vai começar a faltar produto”, disse. No Rio Grande do Sul e em Mato Grosso, ainda há soja da safra sendo escoada por rodovias – por onde passam 56% da produção nacional. Com o aumento que entrou em vigor hoje, o preço médio do diesel nas refinarias subiu para R$ 2,3716.
Protesto
Bloqueios na BR-262 em Minas, na Marginal do Pinheiros, em São Paulo, e na Régis Bittencourt
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Alta do petróleo está ligada a questões geopolíticas
Fernanda Nunes e Denise Luna
Crise em produtores como a Venezuela e sanções ao Irã reduzem produção global e elevam preços
A forte alta da cotação do petróleo e dos seus derivados neste ano foi provocada por fatores geopolíticos e a tendência é que os preços se mantenham elevados também nos próximos meses, dizem especialistas. No último dia 17, a cotação atingiu US$ 80 o barril, o que não acontecia desde novembro de 2014. Ontem, fechou a US$ 79,22.
Com esse crescimento, o setor começa sair de uma crise que durou cerca de três anos, período em que o barril do óleo tipo Brent, negociado na Bolsa de Londres, despencou da casa dos US$ 100 para US$ 30.
No cenário internacional, a alta do petróleo acompanhou o crescimento da demanda, que superou as expectativas em 1,8 milhão de barris por dia neste primeiro semestre. Aliado a isso, houve problemas em grandes países produtores. Sem dinheiro para investir, a Venezuela, por exemplo, reduziu sua produção de 2,5 milhões de barris/dia, em 2016, para 1,5 milhão de barris/dia atualmente.
Ainda pesa a sanção americana ao Irã, que deve representar um corte de mais 250 mil barris/dia no segundo semestre, podendo chegar a 500 mil barris/dia no ano que vem. O diretor para a América Latina da consultoria IHS Markit, Ricardo Bedregal, destaca que, em junho, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) se reunirá para decidir se compensará essa queda da oferta ou se manterá os volumes atuais para que o barril chegue a US$ 80, decisão especialmente favorável à Arábia Saudita, o maior produtor mundial.
A alta do insumo tem efeito direto na receita das petroleiras. A Petrobrás ganha com as exportações de petróleo, venda de combustíveis e de outros derivados nas refinarias brasileiras e de gás natural. Em contrapartida, perde com o pagamento de mais compensações financeiras a governos pela exploração de recursos naturais.
“A relação entre oferta e demanda deve permanecer apertada durante todo este ano, provocando a alta da cotação, e pode ter algum alívio no ano que vem. Se o barril do petróleo permanecer na casa de US$ 70 será muito bom para a Petrobrás, que assim conseguirá bater com facilidade a meta financeira de redução da dívida para o fim do ano”, diz Bedregal.
Efeito. Maurício Tolmasquim, professor da Coppe/UFRJ, destaca que os fatores geopolíticos que motivam a alta do petróleo não vão desaparecer tão cedo. O esperado, portanto, é que a cotação se mantenha elevada. O efeito positivo é que essa alta pode estimular as empresas petroleiras a investir mais para ampliar a produção em países como o Brasil, considerado uma das melhores oportunidades de aquisições no mundo todo.
Leilões
O governo brasileiro agendou mais dois leilões este ano, quando serão oferecidos blocos do pré-sal. Em março, a União já arrecadou R$ 8 bilhões com uma licitação de áreas de pós-sal.