O Estado de São Paulo, n. 45504, 19/05/2018. Política, p. A4

 

Advogado de delatores é acusado de cobrar propinas

Ricardo Galhardo

19/05/2018

 

 

Banestado. Em colaboração premiada, doleiros dizem que entre 2006 e 2013 pagaram US$ 50 mil mensais a Antonio Figueiredo Basto por proteção em delações no esquema

Os doleiros Vinícius Claret, conhecido como “Juca Bala”, e Cláudio de Souza, acusados de integrar o esquema comandado pelo “doleiro dos doleiros” Dario Messer, disseram em delações feitas ao Ministério Público Federal que entre 2006 e 2013 pagaram mensalmente uma “taxa de proteção” de US$ 50 mil (cerca de R$ 186 mil ao câmbio atual). O dinheiro, conforme os relatos, era entregue ao advogado curitibano Antonio Figueiredo Basto e um colega dele cujo nome não foi informado.

O advogado é considerado um dos maiores especialistas do Brasil em colaborações premiadas. Ele nega a acusação (mais informações nesta página). Na Lava Jato, Figueiredo Basto foi o responsável por negociações e acordos de delação de Lúcio Funaro, Renato Duque, Ricardo Pessoa, entre outros. Em 2004, intermediou o primeiro acordo no modelo atual do País no caso do Banestado, em nome do doleiro e Alberto Youssef – também pivô da Lava Jato –, e homologado pelo juiz Sérgio Moro.

Segundo Claret e Souza, Enrico Vieira Machado, considerado peça-chave no esquema de Messer, passou a exigir entre 2005 e 2006 o pagamento de US$ 50 mil mensais pela “proteção” de integrantes do esquema. Conforme Claret, Enrico prometia segurança em relação ao “Ministério Público” e à “Polícia Federal”. Fontes com acesso ao caso disseram que a “proteção” seria relativa a futuras delações no caso Banestado.

“Enrico passou a dizer que o escritório deveria pagar US$ 50 mil por mês para fornecer uma proteção a Dario e às pessoas ligadas ao câmbio. Que essa proteção seria dada pelo advogado Figueiredo Basto e outro advogado que trabalhava com ele”, diz trecho da delação feita por Souza aos procuradores Eduardo Ribeiro Gomes El Hage e Rodrigo Timoteo da Costa e Silva, da Procuradoria da República no Rio.

Taxa. Segundo Souza, a “cobrança” teria motivado uma briga entre Enrico e Dario, que se recusava a pagar pela “proteção”. “Enrico, em meados de 2005/2006, começou a exigir dos colaboradores o pagamento de uma taxa mensal de US$ 50 mil a fim de possuir proteção da Polícia Federal e do Ministério

Público. O colaborador pagava US$ 50 mil por mês em reais, que mandavam entregar em endereços indicados por Enrico”, disse Claret, que citou outros doleiros que “também pagavam a citada taxa”. Os pagamentos, conforme o delator, eram destinados a Figueiredo Basto e outro advogado “do qual não se recorda”.

Segundo as delações, Enrico não dava detalhes da “proteção” e integrantes do esquema chegaram a se desligar da operação

por desconfiar da cobrança. “Os pagamentos foram feitos de 2005/2006 até 2013. O colaborador não recebia qualquer tipo de informação verossímil de Enrico. A exigência de tais pagamentos fez com que Najun Turner (doleiro) se desentendesse com Dario e Enrico, pois o mesmo se recusava a pagar”, diz outro trecho da delação de Claret Souza e Claret, apontados como operadores financeiros do esquema do ex-governador Rio

Sérgio Cabral (MDB), foram presos em 3 de março no Uruguai. Extraditados, cumprem prisão domiciliar depois de terem feito delação.

 

Curitiba

Figueiredo Basto durante entrevista como defensor de Alberto Youssef, em 2015

 

CLIENTELA

Alberto Youssef, Doleiro

Depois de dois anos preso, deixou o regime fechado após fechar colaboração. Foi o primeiro delator da Lava Jato e revelou esquemas de propinas na Petrobrás, citando caso da refinaria Abreu e Lima.

 

Delcídio Amaral, Ex-senador

Primeiro político a colaborar com a Lava Jato. Fechou o acordo em  2016. Comprometeu importantes nomes do  PT c de outros partidos. Revelou casos de corrupção na Petrobras.

 

Lúcio Funaro, Operador do MDB

Delatou esquemas de corrupção do “quadrilhão” do MDB.

 

Renato Duque, Ex-diretor da Petrobrás

Condenado na Lava Jato, nego- cia acordo de delação.

 

Ricardo Pessoa, Ex-executivo da UTC

Citou ocultação de propinas a diversos partidos.

 

Pedro Barusco , Ex-gerente da Petrobrás

Delação provocou deflagração da Operação My Way.

 

Renato Chebar , Doleiro

Revelou esquemas de lavagem de dinheiro no governo do Rio.

 

Eduardo Musa, Ex-gerente da Petrobrás

Afirmou que “lobista” indicou diretor da Petrobrás.