Correio braziliense, n. 20099, 02/06/2018. Política, p. 4

 

Perdas de R$ 40 bilhões

Antonio Temóteo

02/06/2018

 

 

Ações da Petrobras desabam 14,86%. Depois do anúncio do Monteiro,papéis negociados nos EUA tímida valorização

O pedido de demissão de Pedro Parente da presidência da Petrobras derrubou as ações da empresa na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) e na Bolsa de Nova York. Somente no Brasil, a companhia perdeu R$ 40 bilhões de valor de mercado. Os papéis preferenciais da estatal caíram 14,86% no pregão de ontem e os ordinários despencaram 14,92%. No fim do dia, a petroleira era avaliada em R$ 231 bilhões. Apesar da desvalorização, após o anúncio da escolha de Ivan Monteiro para comandar a companhia, os American Depositary Receipts (ADRs) negociados nos Estados Unidos tiveram uma tímida valorização depois do fechamento dos mercados.

A decisão de Parente de deixar a empresa surpreendeu o mercado, os investidores e o próprio governo. Usualmente, medidas como essa são anunciadas após o fechamento dos mercados, mas o fato relevante publicado pela Petrobras foi liberado às 11h48. Antes disso, o executivo tinha se reunido com o presidente da República, Michel Temer, para apresentar a carta de demissão. Com isso, a negociação das ações da companhia foi interrompida porque a queda chegou a mais de 15%. “Todos foram surpreendidos. O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, tinha se reunido com ele na quinta-feira e esse assunto não foi tratado entre os dois”, disse um interlocutor do chefe do Executivo.

A saída de Parente, entretanto, afetou positivamente as ações da empresa de alimentos BRF. Ele foi eleito presidente do conselho de administração da companhia em abril e com o início da greve, os rumores de que pediria demissão da Petrobras para assumir a presidência executiva da gigante de alimentos aumentaram. Com isso, as ações ordinárias da empresa subiram 9,2%.

Intervenção

A saída de Parente da Petrobras foi avaliada como um fato negativo pelo diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), Adriano Pires. Conforme ele, o fantasma das ingerências políticas volta a assombrar a companhia. O especialista no mercado de óleo e gás alertou que mesmo com a escolha de Ivan Monteiro, ainda não está claro se o governo deixará de lado o debate sobre a política de preços da estatal. “Os políticos têm pensamentos velhos e pensam que vão recuperar a popularidade do governo com medidas populistas. A escolha do Ivan Monteiro minimiza o estrago feito, mas ainda deixa várias dúvidas”, destacou.

Pires explicou que em vez de intervir na política de preços da Petrobras ou criar um mecanismo de subvenção para refinarias, o Executivo deveria criar um imposto regulatório que possa ser uma válvula de escape para as variações do preço do petróleo e do dólar. “As soluções de mercado são sempre as melhores. Isso existe, por exemplo, na Europa. Quando o preço do petróleo sobe demais, você reduz esse imposto. Quando o valor desaba você pode subir. Com isso, há previsibilidade para todos os participantes do mercado e a população. Os governantes preferem medidas intervencionistas do que respeitar soluções técnicas”, comentou.

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Críticas e elogios dos presidenciáveis

02/06/2018

 

 

Os pré-candidatos à Presidência da República repercutiram a demissão de Pedro Parente, presidente da Petrobras. O executivo esteve em reunião com Michel Temer no Palácio do Planalto e entregou carta de demissão. No documento, afirmou que os resultados obtidos à frente da estatal revelam o acerto de medidas que foram tomadas pela empresa, mas que a greve dos caminhoneiros desencadeou “intenso e emocional debate” e por isso sua permanência na presidência “deixou de ser positiva e de contribuir para a construção das alternativas que o governo têm pela frente”.

O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) poupou Pedro Parente, filiado ao seu partido, de críticas ao falar sobre a demissão do executivo da presidência da Petrobras. Pelas redes sociais, Alckmin afirmou que não se pode “desperdiçar” o trabalho de Parente à frente da estatal. “Com a saída de Pedro Parente, o importante nesse momento é não desperdiçar o trabalho de recuperação da Petrobras”, diz a nota do tucano. O presidenciável defendeu a discussão sobre uma política de preços de combustíveis que “preservando a empresa, proteja os consumidores”.

Um dos presidenciáveis que havia cobrado publicamente a demissão de Parente da Petrobras, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) afirmou que a saída do executivo da estatal não é suficiente e que a política de preços adotada durante a gestão deve ser revista. “Não basta demitir o senhor Pedro Parente”, disse Ciro, em vídeo publicado em suas redes sociais. “É preciso exigir que a política de preços que ele impôs seja trocada”, completou, reforçando que a revisão da situação não pode ser feita com “demagogia”.

Ciro defende que a Petrobras adote um modelo de preços com base em seus custos e lucros comparados com os competidores, e não com base na variação do dólar e dos ativos no mercado internacional. O pedetista cobrou que a empresa atenda aos interesses nacionais, e não aos de acionistas minoritários.

Ciro reforçou a ligação de Parente com o PSDB, que lançou a pré-candidatura de Geraldo Alckmin. Ele classificou como “falta de respeito” o aumento do preço na gasolina em plena crise decorrente da greve dos caminhoneiros. “Essa falta de respeito é a política do PSDB”, disse o presidenciável do PDT.

Também via Twitter, o pré-candidato Flávio Rocha (PRB) criticou as gestões dos últimos três presidentes da Petrobras. “Gabrielli e Graça Foster usaram a Petrobras para conter a inflação e quase quebraram a empresa. Parente repassou o alto custo da ineficiência e gerou a revolta dos caminhoneiros”, declarou Rocha. “O problema não é a política de preços, é o monopólio”, escreveu.

Guilherme Boulos, do PSol, elogiou a saída de Parente. Para ele, a política de preços da Petrobras foi “desastrosa”. Em um tuíte anterior, o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) já havia criticado a postura do presidente da estatal. “Para baixar o diesel, governo retira quase R$ 200 milhões de universidades públicas e do SUS. A opção é cortar em saúde e educação em vez de enfrentar os interesses financeiros que sustentam a política de preços da Petrobras. Retrato das prioridades de Temer e Pedro Parente”, escreveu.

Na contramão das críticas, João Amoêdo (Novo) defendeu Pedro Parente. “Esse é o ambiente que temos hoje: a vellha política afasta os bons profissionais. Reverter esse quadro é um dos nossos objetivos", afirmou.