O Estado de São Paulo, n.45510 , 25/05/2018. POLÍTICA, p.A6

Ciro articula 24 partidos em torno de petista

Igor Gadelha 

 

 

Presidenciável do PDT monta coalizão a favor da reeleição de Camilo Santana no Ceará

Pré-candidato à Presidência da República pelo PDT, o ex-ministro Ciro Gomes articula uma coligação inédita de 24 partidos no Ceará, seu reduto eleitoral, em torno da reeleição do governador Camilo Santana (PT), afilhado político do pedetista. A costura tem a ajuda do presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB), seu antigo desafeto político. O Ceará tem o oitavo maior colégio eleitoral do País, com 6,2 milhões de eleitores, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Eunício foi responsável por trazer para o grupo de Ciro partidos como o MDB, PR, PRB e, mais recentemente, o Solidariedade. Até então opositores ferrenhos, os dois fizeram pacto de não agressão e devem estar no mesmo lado na campanha deste ano. O senador tentará a reeleição na chapa de Santana e já indicou apoio ao pedetista na disputa nacional.

“(O ex-presidente) Lula foi a força de que nós precisávamos. Nós temos agora, bem pertinho, mais na frente, a oportunidade de dizer ao Brasil que o Nordeste tem condições de avançar muito mais pelas mãos de um outro nordestino”, disse Eunício, sábado passado, em Sobral, reduto político de Ciro.

O pedetista também ganhou a ajuda do DEM, partido que tem o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), como pré-candidato ao Palácio do Planalto. Presidente estadual da legenda, o empresário Chiquinho Feitosa intermediou reaproximação entre o grupo do pedetista e o PSD, que estavam rompidos oficialmente desde 2017.

“É uma reaproximação buscando ter uma relação como tínhamos no passado”, afirmou ao Estadão/Broadcast o líder do PSD na Câmara, Domingos Neto, que preside o partido no Ceará. Neto é casado com a sobrinha de Chiquinho, que é cunhado do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes.

Com essa articulação, o grupo de Ciro garantiu à candidatura de Santana apoio de partidos das mais diversas tendências políticas, superando a coligação com 18 legendas que apoiaram o petista na disputa de 2014. Entre os integrantes da aliança estão, por exemplo, siglas de esquerda, como PT, PDT, PCdoB e PSB, e outras do centro e que apoiaram o impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff (PT), entre elas, DEM, PP, PR, PSD, PV, PSC e PTB. Segundo o ex-governador Cid Gomes (PDT), irmão e coordenador da campanha de Ciro, a meta é usar essa coligação para garantir votos de ao menos 50% dos eleitores cearenses.

 

Palanques. A estratégia de reunir um grande número de partidos na mesma coligação reduziu a formação de palanques para outros presidenciáveis no Ceará. Um dos únicos a desafiar a reeleição de Santana será o PSDB, do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin.

Os tucanos lançaram nesta semana como pré-candidato a governador o general do Exército Guilherme Theófilo. Porém, ele só tem até agora o apoio de uma sigla: o PROS. “Na minha vida política desde 1986, nunca estive tão só. Isso é inédito na história do Ceará e em outros Estados do Brasil. Não existe isso. Me senti tão só”, desabafou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).

O PSOL também terá um palanque para Guilherme Boulos, seu pré-candidato à Presidência. No Estado, a sigla deve lançar o bancário Ailton Lopes como candidato a governador. Fora PSDB e PSOL, outros presidenciáveis como Maia e o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) não devem ter apoio de candidatos ao governo no Ceará.

Até mesmo o PT, partido do governador, também deve ficar sem palanque no Ceará. Santana já comunicou ao partido que fará campanha para Ciro. “O único nome que o PT teria para construir uma candidatura viável é o nome do Lula. Não sendo Lula, defendo que o nome seja o do Ciro e que o PT indique o vice já no primeiro turno”, disse o governador.

 

Aliados

O pré-candidato ao Planalto Ciro Gomes (PDT) e o governador Camilo Santana (PT), que tenta reeleição no Ceará

 

‘Nordestino’

“O Nordeste tem condições de avançar muito mais pelas mãos de outro nordestino.”

Eunício Oliveira (MDB-CE)

PRESIDENTE DO SENADO

 

“É uma reaproximação buscando ter uma relação como tínhamos no passado.”

Domingos Neto (PSD-CE)

PRESIDENTE ESTADUAL DO PARTIDO

 

PARA LEMBRAR

Camilo sugeriu apoio a pedetista

O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), afirmou em entrevista ao Estado, semana passada, que seu partido deveria apoiar a pré-candidatura de Ciro Gomes (PDT) à Presidência da República. Para Santana, “o PT não pode apostar no isolamento suicida” no cenário em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato, fique impossibilitado de concorrer à eleição. “Não acredito que vão deixar o Lula ser candidato. Isso é um fato. Não adianta a gente se enganar”, disse Santana. Ele sugeriu até que o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) seja apontado como vice em uma eventual composição com Ciro. A declaração de Santana gerou reações dentro do PT. A presidente da sigla, a senadora Gleisi Hoffmann, convocou reunião com governadores do partido para defender a candidatura de Lula e estancar o movimento a favor de um plano “B” na eleição presidencial. Esse encontro ocorreu anteontem em Brasília. “Não houve enquadramento. Todos reafirmaram apoio à candidatura do presidente Lula”, disse Gleisi. O PT diz que lançará candidatura de Lula no dia 9 de junho.