Valor econômico, v. 18, n. 4498, 08/05/2018. Brasil, p. A3.

 

Governo também refaz conta do PIB para baixo

Fabio Graner

08/05/2018

 

 

A previsão de crescimento econômico do governo para 2018 está sendo revista e tem um viés de baixa, em linha com o que tem acontecido no mercado, segundo apurou o Valor. Mas, além de estar refazendo suas contas sobre o nível de atividade deste ano, a equipe econômica também discute qual o melhor momento para anunciar o número que substituirá os 3% atualmente previstos nos documentos oficiais.

Até o próximo o dia 22 de maio, o governo tem que divulgar o segundo relatório bimestral de receitas e despesas deste ano. Nesse documento, também são divulgados os parâmetros macroeconômicos que devem ser levados em conta.

Como os 3% dificilmente serão atingidos, o reconhecimento dessa realidade teria uma oportunidade oficial de ser feita. Por outro prisma, há quem defenda esperar a divulgação do PIB do primeiro trimestre, que será feita só no fim do mês, para se ter um dimensão melhor do desempenho da economia no início do ano e assim traçar uma projeção mais segura.

A decisão será tomada nas próximas semanas. Uma fonte considera que ficará estranho não rever a projeção já neste relatório bimestral, dado que há elementos suficientes para isso e não faria sentido colocar um número no qual já não se acredita em um documento oficial.

Embora uma fonte diga que os 3% de crescimento para este ano ainda não possam ser considerados fora do jogo, esta hipótese realmente tornou-se minoritária. O mercado, que há semanas vem reduzindo suas projeções de crescimento, na média já trabalha com 2,7% de expansão. Como mostra reportagem abaixo, o JP Morgan reduziu por duas vezes nos últimos 15 dias suas estimativas de crescimento.

No próprio governo há cenários com expansão inferior inclusive à projetada no mercado, com números em torno de 2,5% de crescimento. Oficialmente, o Banco Central já trabalha com um número de 2,6%, bem menos otimista que os formalmente divulgados pelo governo no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) e no primeiro relatório bimestral.

O dinamismo abaixo do esperado neste início de ano, reforçado por dados mais recentes como o da produção industrial - que caiu 0,1% em março, quando o governo e o mercado esperavam alta - tem sido também apontado por algumas fontes do governo como fator que levou aos dados ruins do mercado de trabalho no primeiro trimestre deste ano.

Embora o presidente Michel Temer e alguns analistas do governo tenham apontado que a flutuação negativa nesse início é normal, cálculos de dessazonalização feitos por algumas fontes governamentais apontam que o desempenho também foi negativo após esses ajustes feitos para excluir dos dados os efeitos típicos de cada período. Esse desempenho causou estranhamento em alguns analistas da equipe.

"O mercado de trabalho veio mais fraco do que se esperava. As surpresas ocorridas, com números abaixo do esperado, e volatilidade de indicadores afetam o mercado de trabalho. Além disso, incertezas com o ano eleitoral e a alta do dólar também afetam a disposição de contratação", comenta uma fonte.

Mesmo assim, as avaliações internas são de que, mesmo sem toda intensidade antecipada nas projeções mais otimistas do fim do ano passado e início deste ano, o governo ainda considera as perspectivas para a economia como favoráveis, bem como para a criação de empregos ao longo de 2018.

Ainda espera-se efeitos favoráveis que devem se materializar com a queda dos juros, em um ambiente no qual os indicadores de confiança de empresários e consumidores ainda estão melhores do que no passado.

Embora tenham sido vistas surpresas negativas, o governo ainda acredita em um PIB positivo no primeiro trimestre e até considera a possibilidade de uma surpresa favorável advinda do setor externo na contabilidade do PIB, dado que as exportações nesse primeiro período do ano teriam crescido mais que as importações de bens e serviços.

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J.P. Morgan corta previsão duas vezes em pouco mais de 15 dias

Sergio Lamucci 

08/05/2018

 

 

A divulgação de indicadores econômicos abaixo do esperado fez o J.P. Morgan reduzir a estimativa para o crescimento de 2018 duas vezes em pouco mais de 15 dias. Em meados de abril, a equipe liderada pela economista Cassiana Fernandez cortou a projeção de expansão do PIB neste ano de 3% para 2,7%; no começo deste mês, baixou mais uma vez a previsão, desta vez de 2,7% para 2,4%. O movimento mais recente foi uma reação à queda de 0,1% registrada pela produção industrial em março em relação a fevereiro, feito o ajuste sazonal - o banco previa uma alta de 1%.

"A recuperação deverá ser mais gradual do que nós esperávamos", escrevem os economistas do J.P. Morgan. Eles destacam que o mau resultado da produção industrial se seguiu a um relatório fraco sobre o mercado de trabalho, marcado pelo desempenho ruim dos salários reais (descontada a inflação). A indústria teve uma pequena queda em relação a fevereiro, o que levou a produção a ficar estável na comparação com o quarto trimestre de 2017, na série livre de influências sazonais.

Com o resultado decepcionante da produção industrial, o J.P. Morgan decidiu baixar outra vez a sua projeção para o PIB. Para o primeiro trimestre, o banco cortou a estimativa de crescimento de 0,6% para 0,5% em relação ao trimestre anterior - em meados de abril, já havia reduzido a previsão de 0,8% para 0,6%. O número para o segundo trimestre também piorou, de 1,2% para 0,9% -a projeção era de 1,3% antes da revisão de 16 de abril.

Ao explicar os motivos para a mudança nas previsões, a equipe de Cassiana aponta a herança estatística mais baixa que o resultado da indústria no primeiro trimestre deixou para o segundo - ela ficou negativa em 0,04%. Isso significativa que, se a produção industrial encerrar junho no mesmo nível de março, haverá queda de 0,04% no segundo trimestre. Mas o fator mais importante foram os sinais desencorajadores do mercado de trabalho, diz o J.P. Morgan. Além disso, as incertezas em relação à persistência da recente desvalorização do câmbio também podem impactar o investimento no curto prazo, uma vez que bens de capital importados são parte significativa desse componente da demanda, observa o banco.

Os economistas do J.P. Morgan dizem ainda que as decepções recentes sobre o crescimento afetam a visão do banco sobre a dinâmica eleitoral. "Nós temos argumentado que a recuperação liderada pelo consumo, como nós esperamos, favoreceria os candidatos associados à continuidade do atual arcabouço de políticas", afirma o relatório. "No entanto, se a nossa previsão estiver correta e o PIB crescer apenas 2,4% neste ano, essa perspectiva se torna mais desafiadora, especialmente devido ao desapontamento no mercado de trabalho." Ainda assim, os analistas do J.P. Morgan dizem que continuam a acreditar numa aceleração significativa do crescimento nos próximos trimestres, ainda que agora isso deva ocorrer especialmente na segunda metade do ano.

Os economistas do banco também ponderam que as estruturas partidárias, o financiamento e o tempo de televisão continuam a favorecer um candidato da coalizão de centro que apoie uma reforma da Previdência no ano que vem. Nesse cenário, se não houver um efeito negativo sobre a confiança empresarial depois das eleições deste ano, as perspectivas para a expansão da economia seguem positivas. Para 2019, o J. P. Morgan elevou ligeiramente a projeção de crescimento, de 3,1% para 3,2%.

Com a perda de fôlego da atividade econômica no primeiro trimestre, diversos bancos e consultorias têm revisado para baixo as projeções para o crescimento em 2018. O consenso de mercado do Boletim Focus do Banco Central (BC) mostrou ontem mais uma redução das projeções dos analistas para este ano, de 2,75% para 2,7%. No fim de fevereiro e no começo de março, o número estava próximo de 3%, tendo alcançado 2,92%.

O Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), por exemplo, cortou a sua previsão para 2018 no fim de abril, baixando-a de 2,8% para 2,6%. Para 2019, o consenso do Focus segue em 3%.