Título: Amorim e Panetta discutem parceria
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 25/04/2012, Mundo, p. 17

O ministro da Defesa, Celso Amorim, disse ontem, ao receber seu homólogo norte-americano, Leon Panetta, que a parceria do Brasil com os Estados Unidos não deve se pautar apenas na compra e venda de equipamentos, mas também na troca de informações. Amorim ressaltou a importância para o Brasil sobre a questão de transferência de tecnologia — tema delicado nas negociações comerciais com os Estados Unidos —, em uma cortejada ampliação das relações bilaterais nesse setor. Panetta chegou ontem ao país para uma visita de dois dias durante seu primeiro tour pela América Latina. Os dois conduziram o primeiro Diálogo de Cooperação em Defesa Estados Unidos-Brasil, estabelecido durante a viagem da presidente Dilma Rousseff a Washington, em 9 de abril.

Panetta integra uma série de autoridades de alto escalão do governo norte-americano a visitar o Brasil nos últimos meses, que inclui, entre elas, a secretária de Estado, Hillary Clinton, na semana passada, e seu subsecretário, William Burns, em março. A campanha, segundo o próprio Panetta, demonstra o interesse de Washington na aproximação com o país definido por ele como uma "potência global não apenas na América Latina, mas no mundo".

Amorim e Panetta ressaltaram o avanço e o fortalecimento da cooperação entre Washington e Brasília e a intenção de "aprofundar" essa parceria. Ao serem questionados por jornalistas sobre a venda dos Super Tucanos da Embraer aos EUA e a compra, pelo Brasil, dos caças da norte-americana Boeing, os dois disseram que houve avanços, mas não especificaram datas ou estágios das negociações.

As transações têm dominado a agenda nas relações entre os dois países, especialmente depois que o Brasil foi surpreendido com a notícia da suspensão da licitação de compra dos Super Tucanos, um negócio estimado em US$ 380 milhões. O processo, já em estágio avançado, foi cancelado pelo Pentágono após queixas de uma concorrente norte-americana. O Ministério das Relações chegou a emitir uma nota na qual o governo brasileiro "considerou que esse desdobramento não contribui para o aprofundamento das relações entre os dois países em matéria de defesa". Diante da consternação, o Pentágono anunciou, na semana passada, que abriria nova licitação, sem informar uma data.

Por outro lado, a norte-americana Boeing aguarda definição do governo brasileiro sobre a compra de 36 novos caças, no âmbito do projeto FX-2 — de modernização da Força Aérea Brasileira (FAB). Nesse negócio, estimado em US$ 5 bilhões e estagnado atualmente, o modelo F-18 Super Hornet concorre com o Rafale, da francessa Dassault, e com o Gripen, da sueca Saab. Com a transação, o Brasil espera ampliar a transferência de tecnologia do fornecedor de caças, uma questão cara aos americanos.

O ministro Celso Amorim ressaltou que "a toda hora" o Brasil adquire novos equipamentos americanos. Ele informou, inclusive, que três helicópteros Black Hawk chegaram ontem ao país. Mas ponderou que as negociações devem ser mais amplas. "Evidentemente que temos interesse, sempre que possível, em atrair a produção e a transferência de tecnologia ao país", reforçou. "Acho que, se os EUA têm interesse em aprofundar as relações com o Brasil, elas não podem ser só de compra e de venda."

Panetta, por sua vez, disse reconhecer a importância do tema, mas explicou que a questão esbarra muitas vezes na legislação dos EUA, que protege algumas tecnologias. "Mas, como secretário de Defesa, farei tudo o que puder para facilitar essa transferência ao Brasil", declarou o norte-americano.

"Acho que, se os EUA têm interesse em aprofundar as relações com o Brasil, elas não podem ser só de compra e venda" Celso Amorim, ministro da Defesa do Brasil