O Estado de São Paulo, n.45538 , 22/06/2018. POLÍTICA, p.A4

OPERAÇÃO DA PF PRENDE EX-SECRETÁRIO DE ALCKMIN

 

 

Rodoanel. Além de Laurence Casagrande, ex-titular de Transportes, foram presas outras 13 pessoas suspeitas participar de desvio R$ 131,9 mi nas obras do trecho norte do anel viário

 

A Polícia Federal prendeu ontem em São Paulo 14 pessoas suspeitas de envolvimento em esquema que teria desviado ao menos R$ 131,9 milhões da construção do trecho norte do Rodoanel. Entre os detidos está Laurence Casagrande Lourenço, ex-secretário de Logística e Transportes do governo Geraldo Alckmin (PSDB), além de diretores, gerentes e fiscais da Dersa, estatal paulista responsável por obras rodoviárias, e das empreiteiras OAS e Mendes Júnior.

Batizada de Operação Pedra no Caminho, a investigação é um braço da Lava Jato em São Paulo e foi deflagrada depois que a juíza federal Maria Isabel do Prado, da 5.ª Vara Criminal de São Paulo, determinou as prisões temporárias por ver “risco de destruição de provas” e “coação de testemunhas”.

A magistrada é a mesma que mandou prender duas vezes o engenheiro Paulo Vieira de Souza, ex-diretor da Dersa acusado de desvios no trecho sul do Rodoanel, entre 2007 e 2010. Um 15.º investigado não foi preso porque estava no exterior.

Alckmin, pré-candidato à Presidência pelo PSDB, defendeu ontem uma “investigação rápida e profunda” e o governo Márcio França (PSB) determinou a abertura de uma sindicância pela Corregedoria-Geral da Administração (CGA) para apurar o caso. Já a defesa de Laurence, como é conhecido, afirmou que a prisão do ex-secretário é “injusta”. Ontem, ele renunciou à presidência da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) para se defender .

A maior operação envolvendo o Rodoanel apontou “responsabilidade criminal” de Laurence porque ele assinou os aditivos contratuais com as empreiteiras que alteraram as planilhas e aumentaram os custos do trecho norte – que começou a ser construído em 2013 e ainda não foi concluído. Segundo uma fiscalização feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU), o sobrepreço de serviços em cinco dos seis lotes da obra pode chegar a R$ 625 milhões, R$ 218,5 milhões só em um lote vencido pela OAS. Todo o empreendimento, que tem 44 km de extensão e estava previsto para 2016, deve custar R$ 9,9 bilhões e ser entregue em 2019.

Investigação. Revelada pelo Estado em março de 2016, a investigação teve início a partir de denúncia feita por um ex-funcionário de uma empresa terceirizada pela Dersa e confirmada por um ex-gerente da obra que foi afastado da estatal depois que se recusou a assinar os aditivos contratuais com suspeita de superfaturamento. Além das prisões, a juíza federal autorizou busca e apreensão nas casas e empresas dos investigados e quebra dos sigilos bancário e fiscal dos detidos.

No caso da OAS, a PF identificou cerca de R$ 45 milhões de pagamentos em mais de 60 transações bancárias entre 2013 e 2017 feitas com seis empresas de terraplenagem suspeitas de serem de fachada porque possuem capital social pequeno e endereços de imóveis residenciais. Já na casa de um dos investigados presos, os agentes encontraram R$ 100 mil e US$ 5 mil em dinheiro. Entre os detidos estão o ex e o atual diretor de engenharia da Dersa, Pedro da Silva e Pedro Paulo Dantas do Amaral, respectivamente.

“O que nós podemos perceber tanto da ação penal quanto dessa investigação é que existe, sim, uma sucessão de atos criminosos que foram praticados dentro da Dersa. Desde desvio de dinheiro de reassentamento a, agora, superfaturamento que também consiste no desvio de dinheiro. Tudo relacionado ao mesmo convênio firmado com a União, que destinou R$ 6,4 bilhões”, afirmou a procuradora da República Anamara Osorio, que compõe a força-tarefa da Operação Lava Jato no Estado./ FABIO LEITE, FABIO SERAPIÃO, FAUSTO MACEDO, JULIA AFFONSO e LUIZ VASSALLO

 

‘PEDRA NO CAMINHO’

●  Operação investiga irregularidades no Rodoanel Norte

Ordens judiciais

mandados de prisão temporária -  15

mandados de busca e apreensão - 51

 

Crimes investigados

Corrupção

Organização criminosa

Fraude à licitação

Crime contra a ordem econômica

Desvio de verbas públicas

 

R$ 131,9 milhões

o sobrepreço do trecho norte do Rodoanel, segundo a PF

 

R$ 600 milhões

é o valor do desvio no Rodoanel Norte, segundo o TCU

 

Preso temporariamente

Laurence Casagrande

Ex-diretor-presidente da Dersa e ex-secretário de Logística e Transportes do governo Geraldo Alckmin (PSDB). Ontem, Laurence deixou o cargo de presidente da Companhia Energética de São Paulo (Cesp)

 

Outras investigações do trecho norte do Rodoanel

Dersa - Segundo um ex-funcionário de terceirizada da Dersa, houve superfaturamento de ao menos R$ 170 milhões nos serviços de terraplenagem de quatro dos seis lotes da obra

TCU - O Tribunal de Contas da União aponta indícios de sobrepreço de R$ 106,3 milhões e superfaturamento de R$ 55,6 milhões no lote 2 da construtora OAS