O Estado de São Paulo, n.45538 , 22/06/2018. POLÍTICA, p.A6

‘Fiquei surpreso’, diz ex-governador

 

 

Geraldo Alckmin afirma que relatório do TCU não havia apontado desvio de recursos; investigados dizem que prisões são ‘injustas’ e ‘ilegais’

 

O ex-governador e pré-candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, defendeu ontem as investigações envolvendo obras do Rodoanel em São Paulo. “Tem de ter investigação rigorosa e rápida e, se tiver qualquer desvio, que haja punição exemplar”, disse o tucano no Rio, onde participou de evento com empresários.

Questionado sobre a prisão de seu ex-secretário Laurence Casagrande, Alckmin disse ter ficado “surpreso”. “Claro que fiquei surpreso. A gente não deve se precipitar, tirar conclusões. Vamos aguardar, até para não cometer injustiça”, declarou.

Após apresentar a empresários propostas de campanha, o tucano falou sobre a Operação Pedra no Caminho, que apura suspeitas de irregularidades no trecho norte do Rodoanel. Alckmin disse que o Tribunal de Contas da União já havia apontado problemas, mas não desvios de recursos. “Só se tiver fato novo. Não existia desde então. Do que nós tínhamos conhecimento era de um parecer do TCU, e todas as informações já foram prestadas. O que havia no TCU era uma diferença de interpretação entre as regras do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento, um dos financiadores da obra) e do TCU.”

O ex-governador ainda minimizou o efeito da investigação em sua campanha eleitoral. Para ele, o impacto será “nenhum”. “Que se investigue, que seja rápido e profundo.”

 

‘Ilegal’. O criminalista Eduardo Carnelós, que defende Laurence, classificou ontem a prisão do ex-secretário como “injusta” e “ilegal”. “Por que o sr. Laurence não foi ouvido antes? Tem cabimento prender antes de ser ouvido? Ele teria prestado todos os esclarecimentos.”

A prisão de Laurence, que também foi diretor-presidente da Dersa e ontem renunciou ao cargo de presidente da Companhia Energética de São Paulo (Cesp), foi decretada pela juíza Maria Isabel do Prado, da 5.ª Vara Criminal Federal.

Segundo Carnelós, em depoimento na PF ontem Laurence entregou documentos “que demonstram não ter havido ilegalidade em seus atos”. “Tão logo o meu cliente tomou conhecimento de que era alvo de investigação, peticionamos ao Ministério Público Federal pedindo acesso aos autos. Não fomos atendidos e, hoje (ontem), fomos surpreendidos com a prisão do sr. Laurence.”

O criminalista Daniel Bialski, que defende Pedro Paulo Dantas do Amaral, disse que a prisão do gestor da Dersa “é desnecessária”. Bialski afirmou que Amaral “prestará os esclarecimentos necessários, já que não praticou qualquer ilicitude”. A defesa de Pedro da Silva não foi localizada pela reportagem.

O governo de São Paulo informou que determinou à Corregedoria-Geral da Administração a abertura de sindicância para apurar os fatos. Saulo de Castro Abreu Filho, secretário de Governo, não quis se manifestar. A Dersa informou que, “havendo qualquer prejuízo ao erário, adotará as medidas cabíveis”. A Cesp disse que os fatos “não aconteceram no âmbito da empresa”.

O criminalista Marcelo Leonardo, que representa a Mendes Júnior, disse que não teve acesso aos autos da operação. “Não temos nada a declarar por enquanto.” A OAS informou que os atuais gestores “têm prestado às autoridades os esclarecimentos a respeito de atividades e contratos sobre os quais haja questionamentos – no projeto do Rodoanel em particular”./ ROBERTA PENNAFORT, FAUSTO MACEDO, FABIO LEITE, FABIO SERAPIÃO, JULIA AFFONSO e LUIZ VASSALLO

 

Agenda

Geraldo Alckmin participou ontem de evento com empresários no Rio de Janeiro

 

Apuração

“Tem que ter investigação rigorosa e rápida e, se tiver qualquer desvio, que haja punição exemplar.”

Geraldo Alckmin

EX-GOVERNADOR (PSDB) E PRESIDENCIÁVEL