Título: Um poeta à frente da Suprema Corte
Autor: Abreu, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 20/04/2012, Política, p. 6

Em uma solenidade concorrida, com mais de 2 mil convidados, o ministro Carlos Ayres Britto tomou posse ontem nos cargos de presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Em seu discurso, Britto propôs um pacto entre os Três Poderes em prol do cumprimento da Constituição e frisou que o Judiciário "não pode jamais perder a confiança da coletividade".

Sentado ao lado da presidente Dilma Rousseff e do vice-presidente Michel Temer, Ayres Britto sugeriu o primeiro trabalho conjunto: "Proponho aos Três Poderes da República a celebração de um pacto. O que me parece mais simples e ao mesmo tempo necessário, que é um pacto do mais decidido, reverente e grato cumprimento da Constituição". Na mesma sessão, o ministro Joaquim Barbosa foi empossado vice-presidente da Corte.

Simbolicamente, o novo presidente da Suprema Corte distribuiu aos convidados um exemplar atualizado da Constituição. Poeta nas horas vagas e autor de seis livros, Ayres Britto abusou de frases de efeito ao discursar. "Quem tem o rei na barriga um dia morre de parto, permito-me a coloquialidade do fraseado, e o juízes não estão imunizados quanto a essa providencial regra de vida em sociedade", destacou. Coube à cantora baiana Daniela Mercury fazer a abertura da cerimônia de posse. Antes de interpretar o Hino Nacional e quebrar o protocolo ao pedir a participação dos convidados, ela recitou o verso de um poema de Britto. "Não sou como camaleão que busca lençóis em plena luz do dia. Sou como pirilampo que, na mais densa noite, se anuncia."

Em um momento conturbado no Supremo, no qual o antecessor de Britto na Presidência, Cezar Peluso, distribuiu críticas aos colegas e à presidente Dilma em entrevista ao site Consultor Jurídico, Ayres Britto fez um alerta: "Mais que impor respeito, o Judiciário tem que se impor ao respeito".

Ayres Britto é sergipano de Propriá. Ele tem 69 anos e exercerá a Presidência da Corte até 18 de novembro, quando completa 70 anos e se aposenta compulsoriamente. Os sete meses de mandato devem marcar a reaproximação do Supremo com os demais Poderes. Para Britto, o tempo será suficiente para "plantar sementes".

De perfil liberal e conhecido como apaziguador, Britto é ministro do STF desde 2003, quando foi nomeado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ministro se destacou como relator de importantes processos, como o que autorizou pesquisas com células-tronco embrionárias, a demarcação contínua da reserva indígena Raposa Serra do Sol e a união civil entre pessoas do mesmo sexo.

Gestão A gestão de Ayres Britto deve ser marcada pelo mais esperado julgamento da Suprema Corte, o do mensalão. O novo presidente do STF defende que o caso vá a plenário ainda neste primeiro semestre — só depende de o ministro Ricardo Lewandowski concluir a revisão do processo.

Nos sete meses em que Britto comandará o tribunal, outros temas terão destaque, entre os quais os julgamentos que tratarão da legalidade das cotas raciais nas universidades, da validade de planos econômicos do governo Collor e da constitucionalidade do financiamento privado de campanhas.

"Mais que impor respeito, o Judiciário tem que se impor ao respeito"

Carlos Ayres Britto, presidente do STF