Correio braziliense, n. 20106, 09/06/2018. Política, p. 3

 

Um casal na mira do Supremo

Renato Souza

09/06/2018

 

 

Acusados de terem recebido R$ 1 milhão em propina da Petrobras, os petistas Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo entram na fila do STF

O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), liberou ontem para julgamento uma ação penal contra a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) e o ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo. O processo corre no âmbito da Operação Lava-Jato. De acordo com o Ministério Público Federal, o casal recebeu R$ 1 milhão em propina de dinheiro proveniente de desvios realizados nos cofres da Petrobras. O caso será julgado pela 2ª Turma do STF. Caberá ao presidente da Turma, ministro Ricardo Lewandoski, a tarefa de marcar a data da audiência.

Os valores teriam sido destinados à campanha política da senadora, em 2010, e pagos em quatro parcelas de R$ 250 mil. Celso de Mello é revisor do processo e já concluiu a fase de instrução, quando são juntadas provas e as testemunhas são interrogadas. A agenda de julgamentos do Supremo para o segundo semestre deste ano ainda não foi fechada. Esse será o segundo caso da Lava-Jato que tem um desfecho no Supremo. O primeiro foi a ação penal contra o deputado Nelson Meurer (PP-PR), que foi condenado a 13 anos e noves meses de prisão na audiência realizada na Corte no dia 29 de maio.

Gleisi e o marido respondem por lavagem de dinheiro e corrupção. Atualmente, além de ocupar uma vaga no Senado, ela também é presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, e uma das mais engajadas na pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República. De acordo com a denúncia do Ministério Público, o dinheiro de propina foi repassado para que eles atuassem para manter o executivo Paulo Roberto Costa no cargo a diretor de Abastecimento da Petrobras. Atualmente, ele é um dos principais delatores do esquema.

Ainda de acordo com o processo, o dinheiro teria sido repassado pelo doleiro Alberto Yousseff. Para manter as operações, e dar aparente legalidade ao recebimento de dinheiro desviado, Yousseff teria criado empresas de fachada, que fizeram contratos com a estatal de petróleo. O empresário Ernesto Kugler Rodrigues, que também é acusado de envolvimento no esquema, também é réu no mesmo processo. Em nota, o advogado da senadora Gleisi Hoffmann, Rodrigo Mudrovitsch, afirmou que acredita que ela será absolvida. “A defesa recebe com naturalidade a notícia do julgamento e confia que a senadora será absolvida.” No processo, a parlamentar sustenta que não cometeu nenhum dos crimes dos quais é acusada. A defesa de Paulo Bernardo sustenta na ação que não foram apresentadas provas de que o ex-ministro interferiu para manter Paulo Roberto Costa na diretoria da Petrobras.

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"Me perdi", diz Cabral

09/06/2018

 

 

O ex-governador do Rio Sérgio Cabral (MDB), preso desde 17 de novembro de 2016 e já condenado a mais de 100 anos de prisão por liderar um esquema de corrupção no estado do Rio, afirmou em depoimento que movimentou cerca de R$ 500 milhões em doações eleitorais e que, desse dinheiro, usou aproximadamente R$ 20 milhões para gastos pessoais, o que é ilegal. “A promiscuidade (de doações) foi grande. Foi nessa promiscuidade que eu me perdi, (...) que usei dinheiro de campanha para fins pessoais."

Cabral, por outro lado, seguiu negando que tenha pedido a empresários algum porcentual de propina sobre qualquer contrato firmado com o governo. “Eu nunca pedi a um empresário que incluísse um porcentual qualquer em nenhuma obra ou serviço do meu governo. Garanto isso ao senhor, falo em nome dos meus filhos e do neto que conheci essa semana”, afirmou o ex-governador ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal.

Cabral é acusado de ocultar e lavar dinheiro no exterior. Também respondem a esse processo o ex-secretário Wilson Carlos e dois ex-assessores de Cabral, Carlos Miranda e Sérgio de Oliveira, além dos doleiros Renato e Marcelo Chebar. Foram os doleiros que contaram, em colaboração premiada, ter movimento mais de US$ 100 milhões de Cabral fora do país. O dinheiro já foi repatriado.