O Estado de São Paulo, n.45541 , 25/06/2018. INTERNACIONAL, p.A9

ERDOGAN É REELEITO E DIZ QUE TURQUIA DEU LIÇÃO DE DEMOCRACIA AO MUNDO

 

 

Mais poder. Oposição diz que competição não foi justa, mas reconhece vitória de presidente; eleições são especialmente importantes, pois representam a mudança do atual sistema parlamentar para presidencialista, no qual o chefe de Estado concentra todo o poder do Executivo

 

ISTAMBUL

 

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, foi reeleito ontem em primeiro turno para um novo mandato de cinco anos, com poderes consideravelmente reforçados, informou a mídia do país. Antes mesmo do fim da apuração, Erdogan proclamou sua vitória em um discurso em Istambul e ressaltou que a votação no país deu uma “lição de democracia” para o mundo.

Apurados 97,17% das urnas, Erdogan tinha 52,59% dos votos, informou a agência oficial de notícias Anatolian. O segundo colocado, o oposicionista de centro-esquerda Muharrem Ince, tinha 30,76% dos votos. O curdo Selahattin Demirtas, também de esquerda, contava com 8,15% e a conservadora Meral Aksener somava 7,41%.

O Supremo Conselho Eleitoral da Turquia não havia confirmado oficialmente a reeleição de Erdogan. Mas o maior partido de oposição, o social-democrata Partido Republicano do Povo (CHP), reconheceu a vitória do presidente. “Não foi uma competição justa, mas aceito que Erdogan ganhou”, disse Muharrem Ince à TV Fox na Turquia.

Antes mesmo de Erdogan se proclamar vitorioso, seus partidários saíram às ruas em diversas partes do país para festejar. Erdogan também destacou a cômoda maioria obtida pela aliança Cumhur (Público), integrada por seu Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP, islâmico) – que governa a Turquia desde 2002 – e o direitista Movimento de Ação Nacionalista (MHP).

Dos 600 assentos, ao menos 293 ficarão com o bloco. A Aliança Nacional, de Ince, tem 147 vagas garantidas e o partido curdo contará com 66. A extrema direita – que tende a votar com o presidente – deverá ter 49 parlamentares e os conservadores, 45.

 

Autoritarismo. Em 15 anos de governo, Erdogan se impôs como o mais poderoso líder turco desde o fundador da República, Mustafa Kemal Ataturk. Transformou a Turquia por meio de megaprojetos de infraestrutura e liberou a expressão religiosa, tornando Ancara um importante ator regional. Mas os críticos acusam o presidente de 64 anos de autoritarismo, especialmente desde a tentativa de golpe de julho de 2016, seguida de grandes expurgos que atingiram os mais diversos setores da sociedade, incluindo opositores e jornalistas, e causaram preocupação na Europa. O presidente também tem sido alvo da rejeição dos mercados, especialmente pelo excesso de intervenção do governo no banco central do país. Com a inflação acima de dois dígitos, a instituição demorou a subir juros para conter a disparada dos preços e a depreciação da lira.

Segundo o presidente, a hora agora é de deixar de lado as tensões que marcaram o período eleitoral. “Nosso foco é o futuro da Turquia. Vamos manter os esforços para tornar a Turquia mais forte em todos os campos”, afirmou o presidente reeleito. “A segurança nas urnas e na votação, a liberdade de escolha, tudo isso são expressões da democracia. A Turquia, com uma taxa de participação de quase 90%, deu uma lição de democracia ao mundo inteiro.”

O presidente turco havia convocado em abril as eleições presidenciais e legislativas antecipadas. Inicialmente, elas estavam marcadas para novembro de 2019. As eleições são especialmente importantes, pois representam a mudança do atual sistema parlamentar para um regime presidencialista, no qual o chefe de Estado concentra todo o poder do Executivo. Erdogan afirma que essa medida é necessária para assegurar a estabilidade no governo, mas seus opositores o acusam de querer monopolizar o poder.

Três pessoas morreram e pelo menos 19 foram detidas durante a jornada eleitoral. Segundo testemunhas, houve uma briga quando agentes do Ministério do Interior e um membro do AKP entraram em centro de votação em Erzurum, no leste do país. Os filiados à oposição tentaram expulsá-los e os recém-chegados mataram três pessoas e feriram outras três./ /EFE,AFP  E REUTERS