O Estado de São Paulo, n. 45540, 24/06/2018. Política, p. A7
Sem celebração, PSDB completa 30 anos
Adriana Ferraz e Pedro Venceslau
24/06/2018
Fundado há três décadas, partido terá comemoração discreta e fechada; crise ética e falta de renovação abalam sigla, avaliam cientistas políticos
O presidente nacional do PSDB, Geraldo Alckmin, précandidato do partido à Presidência, enviou na última quarta-feira um breve comunicado aos integrantes da executiva tucana com três itens relativos à próxima reunião do grupo em Brasília, marcada para terça-feira. Entre eles, estava o convite para um “ato comemorativo” dos 30 anos de fundação da sigla. A ideia, dizem integrantes da cúpula, é fazer um evento discreto e fechado no salão de um hotel “só para a efeméride não passar totalmente em branco”.
Por mais que o discurso oficial diga o contrário, há consenso entre tucanos que não há motivo para celebrações. “É o momento mais difícil da história do partido”, reconheceu o deputado Nilson Leitão (MT), líder do PSDB na Câmara.
Em outra circunstância, o local escolhido seria o auditório Nereu Ramos, na Câmara. Foi lá que, no dia 25 de junho de 1988, os então senadores Mario Covas e Fernando Henrique Cardoso anunciaram diante de centenas de militantes eufóricos a criação do novo partido, ainda sem nome.
Os líderes do movimento dissidente do PMDB colocaram em votação o nome da legenda. Partido Democrático Popular, Partido Social Trabalhista e Partido da Social Democracia Brasileira estavam entre os mais cotados. Após a vitória da sigla PSDB, o senador paranaense José Richa, um dos recém-filiados, colocou a democracia interna como uma marca da nova legenda, que nascia em um momento de “descrença popular com os partidos e instituições”.
Trinta anos depois, a cerimônia fechada no hotel de Brasília ocorre no momento de uma nova onda de decepção popular com partidos e instituições, que desta vez atingiu em cheio o PSDB. “O momento é ruim para todos os partidos e para a política em geral. Há uma crise política sem precedentes”, minimizou o deputado Silvio Torres (SP), tesoureiro do PSDB.
Pré-candidato ao Planalto, Alckmin está estacionado nas pesquisas de intenção de voto com números que variam entre 7% e 10%, o pior desempenho de um tucano nesse período desde 1989. O ex-governador mineiro Eduardo Azeredo, que presidiu o PSDB, entrou para a história como o primeiro ex-presidente do partido preso, reforçando a crise da legenda e dificultando ainda mais o projeto de retomar o poder após 16 anos.
“Há 30 anos, criamos um partido para dar ao País uma opção política à altura de seus desafios. Na Presidência, fizemos o mais bem-sucedido programa de modernização e transformação econômica da história do Brasil”, disse Alckmin ao Estado. “Agora, precisamos lutar mais, vencer de novo as forças que emperram o avanço do País. O Brasil vai mudar para melhor e, nessa luta, o PSDB também.”
O auge eleitoral do partido ocorreu durante o segundo governo FHC, quando elegeu uma bancada de 99 deputados federais e sete governadores, em 1998, e quase mil prefeitos, em 2000. Embora tenha sido o partido mais vitorioso nas eleições municipais de 2016, o PSDB tem hoje a segunda menor bancada na Câmara dos Deputados de sua história, com 49 parlamentares – maior apenas do que a bancada eleita em 1990.
“O PSDB perdeu talvez o seu principal discurso, o discurso ético. E não apenas pelo caso envolvendo Aécio Neves, mas outras lideranças históricas, como Eduardo Azeredo, que está preso, e José Serra, que é investigado. Até o presidenciável tucano, Geraldo Alckmin, é citado em casos que envolvem corrupção”, avaliou o cientista político Marco Antonio Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas.
Líderes. A promessa de uma “democracia interna” feita em 1988 não se concretizou. Prova disso é a falta de renovação de lideranças nacionais e regionais. “Os líderes ainda são os mesmos e estão velhos. Eles representam o ranço do partido. Foi uma geração boa, mas que não se renovou”, disse o professor emérito de Filosofia da USP José Arthur Giannotti.
Teixeira concorda. “Como todo partido, o PSDB não se renovou. Nasceu como um movimento de crítica à política que se praticava na época, ao fisiologismo do PMDB, e hoje se assemelha muito a ele. Aceita nomes que não têm nenhum compromisso com as bandeiras originais do partido dentro de um pragmatismo calculado para vencer eleições”, afirmou.
O cientista político Carlos Melo, do Insper, pontuou ainda que o PSDB, em determinado momento, optou por ser apenas oposição ao PT, perdeu seu rosto social democrata, sua posição progressista nos costumes e se descaracterizou. “Em determinado momento, com o fim do ‘malufismo’ em São Paulo, caminhou por uma extensa avenida que se abriu à direita. Mas, agora, perdeu até isso para Jair Bolsonaro. Não é mais direita nem centro-esquerda, como se definiu na fundação.”
Para os especialistas ouvidos pelo Estado, a crise atual não apaga os principais acertos do partido, a maioria econômicos. “O PSDB implementou no País um novo padrão de qualidade de gestão. Fez isso a partir do Plano Real, da Lei de Responsabilidade Fiscal, do controle de gastos”, avaliou o cientista político José Álvaro Moisés, da USP. “Esse legado não se quebrou.”/ COLABOROU FABIO LEITE
História
Em Brasília, André Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas levantam o 'tucano', simbolo do novo partido criado em 1988
PESO HISTÓRICO
EM ALTA – 1998 / 2000
Presidência da República
99 deputados federais
4 senadores
7 governadores
983 prefeitos
EM BAIXA – 2010 / 2012
Oposição
53 deputados federais
6 senadores
8 governadores
695 prefeitos
CENÁRIO ATUAL - 2018
Aliado do governo
49 deputados federais
12 senadores
6 governadores
804 prefeitos
DATAS IMPORTANTES DO PARTIDO
28/3/1988
Dissidentes do PMDB insatisfeitos com o governo Sarney cogitam fundar um novo partido
25/6/1988
Sob comando de Mario Covas, FHC, Franco Montoro e José Richa, grupo cria o PSDB
15/11/1988
PSDB estreia nas urnas elegendo 18 prefeitos, entre eles, Pimenta da Veiga, em Belo Horizonte
27/2/1994
FHC lança o Plano Real como ministro da Fazenda do governo Itamar Franco e ganha projeção eleitoral
3/10/1994
FHC é eleito presidente no 1º turno contra Lula. Covas ganha governo de São Paulo no 2º turno
4/10/1998
Após aprovar no Congresso a emenda da reeleição, em 1997, FHC se reelege no 1º turno derrotando Lula
27/10/2002
José Serra perde eleição presidencial para Lula, tirando o PSDB do poder depois de oito anos
31/10/2010
Após derrota de Alckmin em 2006, PSDB perde eleição com Serra, no 2º turno, para Dilma Rousseff
13/3/2016
Alckmin e Aécio vão a ato pelo impeachment de Dilma em São Paulo e são vaiados por manifestantes
28/10/2014
Com Aécio, PSDB sofre quarta derrota nacional seguida para o PT e pede recontagem dos votos
O presidente nacional do PSDB, Geraldo Alckmin, précandidato do partido à Presidência, enviou na última quarta-feira um breve comunicado aos integrantes da executiva tucana com três itens relativos à próxima reunião do grupo em Brasília, marcada para terça-feira. Entre eles, estava o convite para um “ato comemorativo” dos 30 anos de fundação da sigla. A ideia, dizem integrantes da cúpula, é fazer um evento discreto e fechado no salão de um hotel “só para a efeméride não passar totalmente em branco”.
Por mais que o discurso oficial diga o contrário, há consenso entre tucanos que não há motivo para celebrações. “É o momento mais difícil da história do partido”, reconheceu o deputado Nilson Leitão (MT), líder do PSDB na Câmara.
Em outra circunstância, o local escolhido seria o auditório Nereu Ramos, na Câmara. Foi lá que, no dia 25 de junho de 1988, os então senadores Mario Covas e Fernando Henrique Cardoso anunciaram diante de centenas de militantes eufóricos a criação do novo partido, ainda sem nome.
Os líderes do movimento dissidente do PMDB colocaram em votação o nome da legenda. Partido Democrático Popular, Partido Social Trabalhista e Partido da Social Democracia Brasileira estavam entre os mais cotados. Após a vitória da sigla PSDB, o senador paranaense José Richa, um dos recém-filiados, colocou a democracia interna como uma marca da nova legenda, que nascia em um momento de “descrença popular com os partidos e instituições”.
Trinta anos depois, a cerimônia fechada no hotel de Brasília ocorre no momento de uma nova onda de decepção popular com partidos e instituições, que desta vez atingiu em cheio o PSDB. “O momento é ruim para todos os partidos e para a política em geral. Há uma crise política sem precedentes”, minimizou o deputado Silvio Torres (SP), tesoureiro do PSDB.
Pré-candidato ao Planalto, Alckmin está estacionado nas pesquisas de intenção de voto com números que variam entre 7% e 10%, o pior desempenho de um tucano nesse período desde 1989. O ex-governador mineiro Eduardo Azeredo, que presidiu o PSDB, entrou para a história como o primeiro ex-presidente do partido preso, reforçando a crise da legenda e dificultando ainda mais o projeto de retomar o poder após 16 anos.
“Há 30 anos, criamos um partido para dar ao País uma opção política à altura de seus desafios. Na Presidência, fizemos o mais bem-sucedido programa de modernização e transformação econômica da história do Brasil”, disse Alckmin ao Estado. “Agora, precisamos lutar mais, vencer de novo as forças que emperram o avanço do País. O Brasil vai mudar para melhor e, nessa luta, o PSDB também.”
O auge eleitoral do partido ocorreu durante o segundo governo FHC, quando elegeu uma bancada de 99 deputados federais e sete governadores, em 1998, e quase mil prefeitos, em 2000. Embora tenha sido o partido mais vitorioso nas eleições municipais de 2016, o PSDB tem hoje a segunda menor bancada na Câmara dos Deputados de sua história, com 49 parlamentares – maior apenas do que a bancada eleita em 1990.
“O PSDB perdeu talvez o seu principal discurso, o discurso ético. E não apenas pelo caso envolvendo Aécio Neves, mas outras lideranças históricas, como Eduardo Azeredo, que está preso, e José Serra, que é investigado. Até o presidenciável tucano, Geraldo Alckmin, é citado em casos que envolvem corrupção”, avaliou o cientista político Marco Antonio Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas.
Líderes. A promessa de uma “democracia interna” feita em 1988 não se concretizou. Prova disso é a falta de renovação de lideranças nacionais e regionais. “Os líderes ainda são os mesmos e estão velhos. Eles representam o ranço do partido. Foi uma geração boa, mas que não se renovou”, disse o professor emérito de Filosofia da USP José Arthur Giannotti.
Teixeira concorda. “Como todo partido, o PSDB não se renovou. Nasceu como um movimento de crítica à política que se praticava na época, ao fisiologismo do PMDB, e hoje se assemelha muito a ele. Aceita nomes que não têm nenhum compromisso com as bandeiras originais do partido dentro de um pragmatismo calculado para vencer eleições”, afirmou.
O cientista político Carlos Melo, do Insper, pontuou ainda que o PSDB, em determinado momento, optou por ser apenas oposição ao PT, perdeu seu rosto social democrata, sua posição progressista nos costumes e se descaracterizou. “Em determinado momento, com o fim do ‘malufismo’ em São Paulo, caminhou por uma extensa avenida que se abriu à direita. Mas, agora, perdeu até isso para Jair Bolsonaro. Não é mais direita nem centro-esquerda, como se definiu na fundação.”
Para os especialistas ouvidos pelo Estado, a crise atual não apaga os principais acertos do partido, a maioria econômicos. “O PSDB implementou no País um novo padrão de qualidade de gestão. Fez isso a partir do Plano Real, da Lei de Responsabilidade Fiscal, do controle de gastos”, avaliou o cientista político José Álvaro Moisés, da USP. “Esse legado não se quebrou.”/ COLABOROU FABIO LEITE
História
Em Brasília, André Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas levantam o 'tucano', simbolo do novo partido criado em 1988
PESO HISTÓRICO
EM ALTA – 1998 / 2000
Presidência da República
99 deputados federais
4 senadores
7 governadores
983 prefeitos
EM BAIXA – 2010 / 2012
Oposição
53 deputados federais
6 senadores
8 governadores
695 prefeitos
CENÁRIO ATUAL - 2018
Aliado do governo
49 deputados federais
12 senadores
6 governadores
804 prefeitos
DATAS IMPORTANTES DO PARTIDO
28/3/1988
Dissidentes do PMDB insatisfeitos com o governo Sarney cogitam fundar um novo partido
25/6/1988
Sob comando de Mario Covas, FHC, Franco Montoro e José Richa, grupo cria o PSDB
15/11/1988
PSDB estreia nas urnas elegendo 18 prefeitos, entre eles, Pimenta da Veiga, em Belo Horizonte
27/2/1994
FHC lança o Plano Real como ministro da Fazenda do governo Itamar Franco e ganha projeção eleitoral
3/10/1994
FHC é eleito presidente no 1º turno contra Lula. Covas ganha governo de São Paulo no 2º turno
4/10/1998
Após aprovar no Congresso a emenda da reeleição, em 1997, FHC se reelege no 1º turno derrotando Lula
27/10/2002
José Serra perde eleição presidencial para Lula, tirando o PSDB do poder depois de oito anos
31/10/2010
Após derrota de Alckmin em 2006, PSDB perde eleição com Serra, no 2º turno, para Dilma Rousseff
13/3/2016
Alckmin e Aécio vão a ato pelo impeachment de Dilma em São Paulo e são vaiados por manifestantes
28/10/2014
Com Aécio, PSDB sofre quarta derrota nacional seguida para o PT e pede recontagem dos votos