Título: Brasil cobra explicações
Autor: Almeida, Kely: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 20/04/2012, Cidades, p. 26

O governo brasileiro encaminhou ontem uma nota à Embaixada do Irã cobrando esclarecimentos a respeito das denúncias que pesam contra um diplomata de 51 anos. O homem é suspeito de assediar quatro garotas de 9 e 15 anos, dentro da piscina de um clube da Asa Sul, no último sábado. O ministro das Relações Exteriores, Antonio de Aguiar Patriota, disse que o caso é preocupante e inaceitável. Mesmo com a repercussão, a embaixada nega o crime. Em nota, a representação afirmou que o episódio foi um "mal entendido". Para os familiares das meninas, a explicação e a volta do iraniano para o Oriente Médio, na noite da última terça-feira, são um desrespeito aos brasileiros.

Em encontro com os jornalistas na tarde de ontem, Antonio Patriota informou que a intenção do Ministério das Relações Exteriores é exigir explicações da Embaixada do Irã a respeito do suposto abuso sexual envolvendo um diplomata daquele país. A nota do governo brasileiro frisa que a convenção de Genebra orienta as representações estrangeiras a respeitar as leis do lugar em foram designadas. Patriota disse que o ministério se reuniu com familiares das vítimas e considerou "preocupantes" as alegações da embaixada iraniana. "Na minha opinião pessoal, seriam situações inaceitáveis se envolvessem qualquer representante brasileiro no exterior", ressaltou o ministro.

Pela primeira vez, desde o registro da ocorrência, a Embaixada do Irã se pronunciou. A explicação foi divulgada por meio de nota, na noite da última quarta-feira. O documento nega os abusos do representante do país e define como inverdades as informações divulgadas recentemente pela imprensa. "Uma das causas mais importantes é a falta de conhecimento sobre as virtudes e as diferenças entre as culturas e o mal entendimento e as suas consequências decorrentes que isso pode causar", diz a justificativa. A nota afirma ainda que "o papel e uma reação midiática não propícia e provocante podem ajudar ainda a criação do cinismo na sociedade brasileira, que possui identidades culturais diferentes, introduzindo uma polêmica gratuita, sobretudo quanto fosse tendencioso politicamente".

A declaração da embaixada gerou revolta nos familiares das garotas. Eles garantem que o conselheiro acariciou partes íntimas das meninas enquanto elas nadavam. "É um absurdo eles (da embaixada) negarem. Essas pessoas vêm de fora e acham que podem fazer o que querem aqui? Elas têm mais direito que a gente? Que país é esse?", desabafou o pai de uma das crianças. O homem contou ainda que, no dia em que foram registrar a ocorrência, a mulher do diplomata pediu que não o fizessem. "Ela falou que a repercussão do caso no país deles poderia render até morte para a família."