Valor econômico, v. 19, n. 4499, 09/05/2018. Brasil, p. A2.

 

BNDES corta spreads de risco e planeja vender R$ 10 bi da carteira de ações

Francisco Góes

09/05/2018

 

 

Em cenário de juros baixos, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou ontem nova rodada de corte em seus spreads. Desta vez, a redução é nos spreads de risco, que cobrem eventuais perdas do banco por inadimplência dos clientes. "O banco tem tido preocupação de reduzir seus custos", disse o presidente do BNDES, Dyogo de Oliveira, em um encontro com jornalistas ontem pela manhã, do qual participaram cinco diretores da instituição de fomento.

Dyogo afirmou ainda que a BNDESPar, braço de participações acionárias do banco, deve vender um montante superior a R$ 10 bilhões em ações este ano. Esse valor não considera os valores recebidos pela BNDESPar este ano na transação Fibria - Suzano, no total de R$ 8,5 bilhões. Ele não deu detalhes sobre quais empresas da carteira poderão ter participações acionárias vendidas no mercado, mas a estratégia é se desfazer de empresas que, na visão do banco, estão mais "maduras" em sua carteira.

O banco passará também a atuar de forma mais "proativa" na elaboração de projetos de infraestrutura, segmento em que o banco tem carteira potencial de R$ 54 bilhões para este ano. O presidente do BNDES disse que o spread de risco para as operações de crédito diretas será reduzido em percentuais que vão de 25% a 50%, dependendo do rating da empresa no banco.

Nas operações indiretas, via agentes financeiros, a taxa de intermediação financeira cobrada pelo banco cai de 0,23% ao ano para 0,15% ao ano, disse Dyogo. Ele também anunciou que no caso das operações com fiança bancária a taxa de intermediação financeira é reduzida de 0,4% ao ano para 0,25% ao ano. As reduções nos spreads de risco seriam aprovadas ontem pela diretoria do BNDES.

Dyogo informou que queda nos spreads de risco do banco reflete uma melhoria nos níveis de inadimplência na economia. A redução dos spreads de risco também se relaciona com a tentativa do banco de se tornar mais competitivo, segundo reconheceu Dyogo. "O BNDES busca ser mais eficiente, ter custo mais baixo e oferecer uma taxa final para o cliente também mais competitiva", afirmou. O custo das linhas do banco é formado pela taxa básica (Taxa de Longo Prazo), mais o spread básico, que já foi reduzido este ano, mais o spread de risco.

O tamanho da redução dos spreads de risco dependerá da classificação de risco das empresas no BNDES. Quanto melhor a nota de crédito, menor o custo, e vice-versa. Dyogo avaliou, porém que trata-se de uma redução "expressiva" dos spreads de risco do banco.

Segundo o presidente do BNDES, a decisão de reduzir os spreads de risco resulta de uma revisão das metodologias de análise de risco e crédito. "A principal mudança aqui é na incorporação da probabilidade de recuperação do crédito", afirmou. Na visão de fontes no mercado, em um cenário de redução de juros, o BNDES ainda tinha "gordura" para cortar no que se refere aos spreads de risco. "Antes o BNDES tinha uma folga [spreads maiores], mas hoje o mercado de crédito é mais competitivo, então o BNDES é obrigado a se ajustar", disse uma fonte do mercado financeiro.

Com relação ao apoio à area de infraestrutura, Dyogo disse que o diagnóstico, segundo ele, é que faltam projetos de engenharia para desenvolver bons projetos de infraestrutura no Brasil. O que acontece muitas vezes no BNDES, segundo Dyogo, é que um empreendimento é apresentado para ser financiado, mas o projeto de engenharia não está suficientemente maduro, o que leva a uma demora maior na tramitação dentro do BNDES.

"Estruturar projetos é uma 'facility' que o banco vai oferecer, hoje não tem ninguém oferecendo este tipo de serviço [no governo]." Uma vez que a União, Estados e municípios definam projetos prioritários, o banco vai se oferecer para atuar e transformar uma ideia em projeto. De acordo com ele, o banco vai fazer os estudos, elaborar a parte financeira. Já parte de engenharia, e jurídica, o banco poderá contratar terceiros para auxiliá-lo.

Informou ainda que a proposta é ter conhecimento dos projetos, o que resultará em maior rapidez na tramitação dentro do banco. Segundo Dyogo, haverá mais qualidade nos projetos e agilidade na aprovação. "O Brasil precisa de projetos de qualidade para financiar. O banco quer ter projeto para financiar, então faz sentido desenvolver os projetos que quer financiar, conhecer melhor e financiar com mais segurança", avaliou.