Título: Governistas se dizem vítimas de arapongas
Autor: Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 24/04/2012, Política, p. 4

Se os deputados distritais confirmarem nos próximos dias a CPI da Arapongagem, um dos assuntos que surgirá é parte de investigação em curso na Divisão Especial de Repressão aos Crimes contra a Administração Pública (Decap). Em 25 de novembro do ano passado, um servidor da Subsecretaria de Inteligência admitiu que gravou clandestinamente imagens do gabinete do governador Agnelo Queiroz (PT) informações que acabaram vazando. A ocorrência é tratada por aliados do governo como uma evidência de que gabinetes oficiais estariam sendo devassados a partir de dados colhidos por informantes infiltrados. A investigação da Polícia Civil será, portanto, munição de governistas na tentativa de demonstrar que também eram vítimas de espionagem.

A CPI da Arapongagem surgiu a partir das denúncias de que haveria uma central de grampos instalada na Casa Militar, coração do GDF. Teriam sido alvo de consultas no Infoseg — o sistema de informações de segurança do Ministério da Justiça — promotores de Justiça e políticos, como o deputado federal Fernando Francischini (PSDB-PR). O depoimento de um servidor da Secretaria de Segurança à Polícia Civil será argumento de governistas para mostrar que informações confidenciais do GDF também circularam nas mãos de adversários. Em 25 de novembro de 2011, João Aparecido Teixeira declarou ao delegado Filipe de Moraes Maciel, da Decap, que ele foi o autor de gravações dos gabinetes de Agnelo, tanto no de Águas Claras, como no do Buriti. Admite ainda ter entregue o material a um grupo de policiais militares.

Aliados do governador associam os nomes citados em depoimento por João Teixeira ao do deputado federal Francischini, uma vez que eles, recorrentemente, trocam mensagens no Twitter. Entre os assuntos em debate, está a criação da CPI. Ao saber da conexão, Francischini desqualificou a inferência. "Acho que o GDF e o governador Agnelo estão realmente sendo arapongados, principalmente pelo STJ e pelo procurador-geral da República, que conduzem investigações de lavagem de dinheiro público no Ministério do Esporte, Anvisa e agora sobre os tentáculos do Cachoeira", disse o deputado. E concluiu: "Dos meus seis mil seguidores no Twitter, o pessoal do Agnelo agora acha que existe uma rede de inteligência aberta via TT. É a primeira rede de inteligência no Twitter para acompanhar o PT no Brasil".

Em novembro do ano passado, ao prestar depoimento na Decap, João Teixeira, então lotado na Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do DF, disse que suas atribuições consistiam em "realizar fotografias, filmagens, varreduras para identificação de escutas clandestinas, com o objetivo de subsidiar os relatórios de inteligência".

Proteção e defesa As filmagens feitas por João, segundo ele admitiu, por conta própria, tinham o objetivo de "proteger e defender os colegas da seção de eventuais alegações de desvios de condutas". O fato é que essas gravações, que na época expuseram a imagem do chefe da Casa Militar, coronel Rogério Leão, bem como documentos retirados de um notebook com dados da inteligência da Secretaria de Segurança acabaram vazando.

João Teixeira contou aos policiais da Decap que entregou parte dos dados a uma pessoa identificada no depoimento como cabo Glaydson (José da Rocha) a pedido da tenente-coronel Soraya. A militar é Soraya Barbosa Sales de Almeida, exonerada do cargo de analista de inteligência por suspeita de que seria uma pessoa infiltrada a serviço de adversários de Agnelo. Teixeira contou também que, em 18 de novembro, esteve reunido com Soraya e os tenentes-coronéis Recio (Récio Torres) e Vieira Neto (Arnaldo). Segundo conta em depoimento, os policiais sabiam das informações gravadas por ele e teriam dito que não fariam mau uso dos dados.

O Correio procurou João Teixeira, que preferiu não falar com a reportagem sobre o assunto. Quanto às denúncias de espionagem que motivaram a criação da CPI, o GDF afirma que consultas feitas ao Infoseg não constituem irregularidade, uma vez que o governo é cadastrado para pesquisar informações no sistema com dados de segurança do Ministério da Justiça. Integrantes da Casa Militar, policiais civis e militares têm senha para pesquisar envolvimento de pessoas em crimes, especialmente quando há algum tipo de aproximação com o governador. Medidas, segundo o governo, para garantir a integridade física e moral do chefe do Executivo.