Correio braziliense, n. 20154, 27/07/2018. Política, p. 3
PSB só decidirá o rumo na última hora
Gabriela Vinhal
27/07/2018
ELEIÇÕES 2018 » Legenda cancela reunião e definirá apenas na convenção, em 4 de agosto, se vai apoiar algum candidato ou se ficará neutra
Após adiar a reunião do Diretório Nacional, o PSB deixará para decidir o futuro da sigla na convenção nacional, em 4 de agosto, um dia antes do prazo limite, segundo o calendário eleitoral. Sem um consenso entre os estados, o partido não consegue definir se apoiará algum candidato — Ciro Gomes (PDT) ou Lula (PT) — ou se manterá neutralidade nestas eleições.
A votação, que antes seria de 137 dirigentes, conforme o Correio mostrou em reportagem na última terça-feira, passa a ser definida por cerca de 500 convencionados — entre militantes, filiados, políticos e ex-parlamentares. Os estados com maior número entre os diretórios definitivos acumulam o maior número de delegados. O movimento reflete a dificuldade do partido em alinhar um posicionamento acerca das alianças e assusta lideranças, que articulavam coligações.
Para parlamentares do partido, a solução de deixar para última hora mostra divergência entre as bancadas nacionais. Uma pessoa próxima à sigla disse ainda que, para evitar mostrar o racha, caciques do PSB devem chegar a uma definição em cúpula ainda na semana que vem e só anunciar durante a convenção. “Deixar a situação exposta, para que a resposta seja uma surpresa, é perigoso. Tem que ter cuidado, porque algumas feridas podem demorar a ser fechadas.”
O deputado Júlio Delgado (PSB), presidente da sigla em Minas Gerais, ressaltou que, se analisada pelos dirigentes, cada estado conseguiria controlar e articular alianças. Dar poder aos convencionados, por sua vez, seria arriscado, por ter pessoas com posicionamentos “divergentes” dentro do mesmo diretório. “Somos oito integrantes no diretório mineiro. Mas, entre os convencionados, são 30. Eu nem conheço todos eles, por isso será imprevisível”, explicou. Delgado, entretanto, quer que o partido feche com o Ciro. Se houver essa aliança, o mineiro Márcio Lacerda já foi cotado para ser o vice.
Já para o deputado e presidente do PSB no Espírito Santo, Paulo Foletto, seria ruim se o partido optasse pela neutralidade, mas reconhece que São Paulo e Pernambuco reúnem o maior número de convencionados e, por isso, têm peso na votação. O líder esclareceu que os dois estados mantêm preferências opostas — o primeiro quer a neutralidade e o segundo, o PT. “Só não queria que fosse o PT, por questões locais. Se for o Alckmin, como deseja (Márcio) França, tudo bem. Mas também pode ser o Ciro”, deixou em aberto.
Pressão
Como forma de tentar pressionar o partido e dar um passo atrás sobre o PT e o PDT, ontem, o governador de São Paulo, Márcio França, ensaiou lançar a ex-secretária do Planejamento do Governo do Distrito Federal Leany Lemos como candidata da sigla à Presidência. França nunca escondeu o desejo de manter a legenda neutra nessas eleições, por causa do bom relacionamento que mantém com o pré-candidato Geraldo Alckmin (PSDB), de quem foi vice-governador no estado paulista.
Entretanto, o PSB confirmou que Leany seguirá como postulante ao Senado e ressalta o “quadro técnico e qualificado” da servidora de carreira do Congresso. Em nota, a legenda disse ainda ser a favor da “plena participação das mulheres no processo democrático e considera candidaturas femininas imprescindíveis para o avanço da democracia, especialmente neste momento de profunda crise de representatividade”.
Frase
"Só não queria que fosse o PT, por questões locais. Se for o Alckmin, como deseja (Márcio) França, tudo bem. Mas também pode ser o Ciro”
Paulo Foletto, presidente do PSB no Espírito Santo
________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Príncipe quer ser vice de Bolsonaro
Rodolfo Costa
27/07/2018
A pré-candidatura de Jair Bolsonaro, do PSL, segue sem conseguir atrair legendas para uma aliança. E o partido bate cabeça para a escolha do vice. O empresário Luiz Philippe de Orleans e Bragança, príncipe da família real brasileira, acenou ontem com a possibilidade de ocupar o cargo. A disposição, no entanto, ainda não estanca os problemas. A advogada Janaína Paschoal segue cotada. Ela se encontrará na próxima segunda-feira com Bolsonaro. Além das dificuldades em definir a chapa, disputas internas entre caciques escancaram uma divisão que pode limitar o voo do deputado federal nas eleições.
O desconforto interno entre dirigentes do PSL se alastrou após o presidente em exercício do PSL, Gustavo Bebianno, coordenador jurídico da campanha de Bolsonaro, sugerir o adiamento da Cúpula Conservadora das Américas. O argumento é de que a participação do presidenciável no evento poderia ser questionada na Justiça Eleitoral. A decisão não pegou bem entre outros caciques da legenda. Um interlocutor de Bolsonaro, no entanto, desconversa sobre o atrito. “Se houve, não chegou ao nosso conhecimento. A nossa preocupação é com a campanha eleitoral”, sustentou.
A preocupação principal de Bolsonaro é definir o vice. Luiz Philippe destacou ontem, em nota, a disponibilidade para ocupar o cargo. “Não há outro caminho para mudanças senão se disponibilizar para servir ao Brasil, se assim desejarem os brasileiros”, afirmou. No entanto, ele ainda é apenas um dos nomes que se encontram na lista de preferências da legenda.
Depois de sondar o senador Magno Malta (PR-ES), o general da reserva Augusto Heleno (PRP) e o general Mourão (PRTB), a advogada Janaína Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, é a noiva da vez. Pessoas próximas a Bolsonaro admitem que ela segue como a principal opção para compor a chapa presidencial. A jurista, entretanto, argumenta que questões familiares ainda são um obstáculo para aceitar o convite. O encontro da próxima segunda é tratado no PSL como fundamental para selar o acordo.
Não é para menos a aposta em Janaína. Pelo fato de ser mulher, tê-la como vice poderia quebrar a resistência que Bolsonaro tem entre o eleitorado feminino, pondera o analista político Cristiano Noronha, sócio da Arko Advice. “Vejo-a como uma opção com um peso politicamente e eleitoralmente maior”, ponderou. Entretanto, o especialista vê desvantagens em relação a um equilíbrio eleitoral. “Ela também é tão polêmica e faz declarações enfáticas e confrontativas quanto o presidenciável”, justificou.