Correio braziliense, n. 20154, 27/07/2018. Economia, p. 6

 

Facebook: um tombo de US$ 119 bilhões

27/07/2018

 

 

CONJUNTURA » Projeção de expansão menor nos próximos meses derruba cotação das ações e faz a companhia registrar a maior queda diária de valor de mercado na história dos Estados Unidos. Analistas apontam perda de credibilidade da rede

O Facebook perdeu US$ 119 bilhões em valor de mercado e se tornou a empresa com a maior queda diária da história do mercado acionário dos Estados Unidos. A baixa ocorreu depois da divulgação dos resultados do segundo trimestre, no qual a companhia anunciou projeções pessimistas para o crescimento da receita e do número de usuários, além de redução na margem de lucro.

O balanço, divulgado após o fechamento do pregão de quarta-feira, desencadeou uma onda de vendas que fez as ações caírem mais de 20%, reduzindo o valor da empresa em US$ 128 bilhões. Ao longo do pregão de ontem, porém, a rede social comandada por Mark Zuckerberg conseguiu recuperar parte do terreno, encerrando o dia cotada a US$ 510 bilhões, com desvalorização de 18,96%. Na véspera, o valor total das ações era de US$ 629 bilhões.

A queda fez evaporar, em apenas um dia, um montante muito próximo ao valor total atribuído a gigantes do mercado como Nike (US$ 125,1 bilhões) e General Electric (US$ 114 bilhões). A desvalorização, além disso, superou o Produto Interno Bruto (PIB) de 133 países, entre os quais Equador, Marrocos, Uruguai e Ucrânia.

Somente o presidente executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, contabilizou um prejuízo de US$ 15,4 bilhões e viu sua fortuna ser reduzida para US$ 67,1 bilhões. Com isso, ele caiu duas posições no ranking dos mais ricos do mundo elaborado pela revista Forbes. Agora, Zuckerberg está em sexto lugar, tendo sido ultrapassado pelo megainvestidor Warren Buffett (US$ 82,6 bilhões) e pelo dono da rede varejista Zara, Amancio Ortega (US$ 72,3 bilhões). O mais rico continua sendo Jeff Bezos, presidente executivo da Amazon, com patrimônio avaliado em US$ 148,6 bilhões.

O tombo do Facebook pode ser visto como um desdobramento do caso da consultoria Cambridge Analytica, que colocou em xeque a capacidade da rede social de proteger a privacidade dos usuários. A consultoria obteve indevidamente informações de 87 milhões de integrantes da rede. No auge do escândalo, no início deste ano, o valor das ações do Facebook chegou a cair US$ 95 bilhões. Antes disso, a companhia já havia enfrentado críticas por permitir a propagação de notícias falsas durante a campanha presidencial dos EUA, em 2016.

A onda de notícias negativas fez o Facebook mudar as políticas de privacidade e segurança. Mark Zuckerberg teve de dar explicações nos EUA e na Europa. O trabalho de contenção de crise parecia ter sido bem-sucedido — em três meses, a empresa conseguiu recuperar o valor que tinha antes da crise. No entanto, a conta chegou agora. “A credibilidade do Facebook com investidores foi afetada. Se os resultados e projeções fossem bons, o impacto poderia não acontecer. Mas não foi o caso”, disse o professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Pedro Waengertner.

 

 

Usuários

No fim de junho, o Facebook atingiu 2,23 bilhões de usuários ativos — aumento de 1,54% na comparação com o primeiro trimestre. Foi o menor ritmo de crescimento em três anos — e metade da média do período, que ficou acima de 3% por trimestre. Em mercados desenvolvidos, o resultado foi ainda pior: nos EUA, o número de usuários ficou estável, em 241 milhões. Na Europa, onde uma nova legislação de privacidade de dados entrou em vigor em maio, a rede perdeu 1 milhão de usuários, caindo para 376 milhões de cadastros.

Aos olhos dos investidores, esses números pesaram  mais do que os dados financeiros do balanço, que tampouco entusiasmaram os analistas de Wall Street. No segundo trimestre, a receita da companhia atingiu US$ 13,2 bilhões, um avanço de 42% que, apesar de robusto, ficou abaixo do ritmo dos últimos períodos — no primeiro trimestre, a métrica subiu 50%, por exemplo.

E não há previsão de melhora no horizonte. O diretor financeiro da empresa, David Wehner, informou que a receita deve continuar se enfraquecendo nos próximos trimestres. “É uma combinação de fatores, entre câmbio, foco em novas experiências, como (as mensagens efêmeras) Stories, e (medidas para) dar mais poder de privacidade aos usuários”, disse, em conferência com investidores na quarta-feira.

Os números decepcionantes do Facebook contaminaram ações de outras empresas de tecnologia e limitaram os ganhos dos mercados acionários norte-americanos. O índice S&P 500, que engloba as 500 maiores empresas dos EUA, encerrou o pregão em baixa de 0,30%. O Nasdaq, que reúne as companhias de base tecnológica, cedeu 1,01%.

Diversas techs foram contaminadas pelo tombo da companhia de Zuckerberg: a Amazon cedeu 2,98%, a Apple caiu 0,31% e o Twitter teve baixa de 2,89%. Alguns analistas veem no episódio uma dimensão mais profunda. “Parece ser o começo do fim da era FAANGs”, disse o estrategista-chefe de mercados da JonesTrading, Mike O’Rourke, citando o acrônimo que representa gigantes do setor, como Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google.

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Cai gasto no exterior

Antonio Temóteo

27/07/2018

 

 

O encarecimento do dólar, que no ano já chega a 13%, começou a afetar os gastos no exterior. Em junho, os brasileiros desembolsaram R$ 1,4 bilhão em viagens para outros país, conforme dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC). O montante é 1,5% menor do que o registrado no mesmo período do ano passado, quando os turistas desembolsaram US$ 1,5 bilhão.

O chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, explicou que entre março e junho, a desvalorização do real totalizou 14,6%, o que afetou as viagens. A divisa norte-americana passou de R$ 3,20 para R$ 3,90 no período. “Com a desvalorização do câmbio nos últimos meses, a taxa de crescimento dos gastos no exterior desacelerou e caiu em junho. O efeito da desvalorização cambial afeta as despesas ao torná-las mais caras”, detalhou.

O advogado Pedro Moura, 25 anos, adiou viagem com a família, diante da escalada do dólar. Ele viajaria com os pais para os Estados Unidos, mas com a alta da moeda estrangeira, preferiu esperar mais alguns meses antes de fazer o passeio. “Passei a comprar o dólar aos poucos, quando vejo um movimento de queda. É melhor do que gastar no cartão”, comentou.

O recuo do mês passado, no entanto, não afetou a contabilidade do ano, que continua positiva. No primeiro semestre, ainda há crescimento das despesas de turistas no exterior. Os viajantes gastaram US$ 9,5 bilhões — 8,7% mais do que entre janeiro e junho de 2017. Os estrangeiros que visitaram o Brasil gastaram apenas US$ 379 milhões em junho, uma expansão de 0,5% em relação ao mesmo período no ano passado. Nos primeiros seis meses do ano, esses gastos totalizaram US$ 3,2 bilhões, alta de 5,9%.