Correio braziliense, n. 20154, 27/07/2018. Economia, p. 6
Acordo Mercosul e UE avança
27/07/2018
Johannesburgo — O presidente da República, Michel Temer, indicou ontem que o Mercosul poderá chegar, em setembro, a um termo de acordo de livre comércio com a União Europeia. As tratativas começaram no fim da década de 1990, e ainda há cerca de 30 questões pendentes, segundo ministros do governo. Temer negou que o acordo fechado pelos Estados Unidos com a União Europeia afete as negociações do Mercosul com o bloco.
“As conversações continuam, há uma reunião marcada novamente. Eu e o presidente Macri (Argentina) nos esforçamos muito para isso ao longo do tempo. E não é improvável que, em setembro, se consiga fechar esse acordo. Eu acredito”, disse o presidente, durante a 10ª Cúpula dos Brics — bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Segundo o ministro Blairo Maggi (Agricultura), um dos entraves ao acordo é a tarifação zero do vinho nos blocos. Além dos europeus, que possuem forte produção e exportação da bebida, Uruguai e Argentina, produtores tradicionais na América do Sul, são a favor. Mas, segundo o ministro, a ainda incipiente indústria nacional poderia ser extremamente prejudicada com a medida, afetando inclusive, o turismo do Sul do país.
Temer disse que as reuniões do Brics ontem foram produtivas por terem acertado a instalação de uma sede do Novo Banco de Desenvolvimento no Brasil. “Estamos levando para São Paulo uma sucursal do Banco do Brics e também um escritório a Brasília, além de um memorando de cooperação aérea entre os vários países”, afirmou. O presidente russo, Vladimir Putin, foi outro que demonstrou interesse em abrir um escritório do banco em seu país, onde já há 21 projetos com a instituição. De acordo com ele, com o Banco dos Brics, as empresas de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul passarão a ter mais acesso ao crédito e poderão, portanto, apresentar um melhor desenvolvimento.
Encontros
O presidente disse ontem que pediu ao líder da China, Xi Jinping, que retire a sobretaxa sobre exportações brasileiras de carne de frango e açúcar. Temer também apelou ao chinês para que abra o mercado a produtos derivados de soja processados, como óleo e farelo. Segundo ele, houve receptividade à proposta. “Pedimos a ele (Xi Jinping) que deixe um pouco de lado, digamos, a sobretaxa que houve em relação ao frango e ao açúcar, para que possamos aumentar nossas exportações”, disse, após deixar a reunião bilateral com o líder chinês na África do Sul.
Temer destacou que a reunião bilateral de ontem foi o quinto encontro de negociação entre os líderes do Brasil e da China, no qual tratam principalmente das exportações de produtos agrícolas. Segundo o presidente, ele mencionou na reunião bilateral os programas de privatização e concessões públicas e pedido aumento de investimentos privados chineses, principalmente nos leilões previstos de distribuidoras de energia elétrica da Eletrobras.
O presidente também disse ter se reunido em privado com Putin, ao longo do dia, e que discutiram relações para além da economia. “Ele propôs que fizéssemos nossos povos se unirem mais. Significa atividades, como partida desportiva, uma espécie de campeonato entre os países do Brics; fazer um festival de cinema e introduzir a cultura nas nossas relações”, disse.