O Estado de São Paulo, n.45529 , 13/06/2018. POLÍTICA, p.A8

PGR vê indícios de que Cristiane Brasil fraudou registros

Breno Pires

Fabio Serapião

 

 

PF vasculha gabinete e dois endereços ligados à deputada do PTB, acusada de fraudes no Ministério do Trabalho

Indicada no início do ano pelo PTB para assumir o Ministério do Trabalho e Emprego, a deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ) foi apontada pela Procuradoria-Geral da República como suspeita de fazer parte de organização criminosa que praticava fraudes na concessão de registros sindicais no ministério, objeto de investigação da Operação Registro Espúrio.

O gabinete e dois endereços ligados à deputada em Brasília e no Rio de Janeiro foram vasculhados ontem pela PF e pela PGR na segunda fase da operação por decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal. Os investigadores identificaram mensagens suspeitas trocadas entre Cristiane Brasil e um dos principais operadores do esquema, Renato Araújo Júnior, servidor exonerado do ministério.

“Além de orientar o servidor (Renato) em relação a como agir na análise de pedidos, há inclusive mensagens que tratam da cobrança de valores previamente combinados”, afirmou a Procuradoria-Geral da República em nota. Segundo a investigação, há “indícios de que a parlamentar integra a organização criminosa que atua no Ministério” e que Araújo era braço direito da deputada e atuava “em conformidade com os interesses desta no exercício da função pública”.

Fachin também proibiu a deputada de frequentar o Ministério do Trabalho e de manter contato com demais investigados ou servidores. Ainda não está claro, no entanto, se ela está proibida de manter contato com o pai, Roberto Jefferson, que é presidente do PTB e um dos investigados na operação.

Cristiane Brasil só não se tornou ministra do Trabalho em janeiro porque decisões judiciais, inclusive do Supremo, criaram obstáculo, sob alegação de que ela já tinha sido condenada em ação trabalhista. Foi nomeado Helton Yomura, ligado a ela.

Na representação que baseou a primeira fase da Registro Espúrio, a PF e a PGR já haviam destacado a necessidade de aprofundar investigação sobre a “possível participação” de Cristiane Brasil e de outros deputados do PTB no esquema. Ela tinha sido citada por Renato Araújo em um diálogo com deputado Wilson Santiago Filho (PTB-PB). O servidor disse que tem “priorizado ao máximo” tanto o deputado quanto a deputada.

A Registro Espúrio investiga suposta organização criminosa formada por políticos, dirigentes de sindicatos, lobistas, advogados e funcionários públicos que cometiam crimes de fraude e corrupção para liberar ou vetar registros sindicais no ministério de acordo com interesses privados. Na primeira fase, do núcleo político da investigação, foram alvos de busca e apreensão Roberto Jefferson e os deputados federais Jovair Arantes (PTB), Paulinho da Força (Solidariedade) e Wilson Filho (PTB), bem como as sedes do PTB, do Solidariedade, da Força Sindical e da UGT. Todos negam envolvimento com as acusações.