O Estado de São Paulo, n. 45530, 14/06/2018. Economia, p. B1

 

FED indica que juros vão subir mais este ano e pressão sobre o Brasil aumenta

14/06/2018

 

 

Banco central dos EUA elevou taxa para o intervalo de 1,75% a 2,0% e sinalizou a possibilidade de um total de quatro altas no ano, o que  pode afetar economias de países emergentes como Argentina e Brasil; após decisão, BC fez três intervenções para conter alta do dólar

Um dos motivos que levaram à volatilidade do mercado financeiro nos últimos meses se concretizou ontem, com a indicação do banco central americano de que a taxa de juros do país deve ter quatro altas em 2018. Ontem, o Fed anunciou a segunda elevação do ano, para a faixa de 1,75% a 2,0%. No comunicado, a maioria dos dirigentes do banco sinalizou a possibilidade de mais duas altas, o que pode levar a taxa para o intervalo de 2,25% a 2,50% até dezembro. A expectativa no início do ano era de que seriam apenas três altas.

A decisão aumenta a pressão sobre países emergentes, como Argentina, Turquia, Índia e Brasil – que já vinham sofrendo os efeitos colaterais da expectativa de um aperto maior na política monetária americana por causa do aquecimento da economia. Com os juros mais altos por lá, os investidores tendem a transferir para os EUA recursos de países onde o risco é maior, desvalorizando moedas locais em relação ao dólar. No mês passado, a Argentina teve de recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) depois de uma forte queda do peso. Turquia e Índia elevaram a taxa de juros. No Brasil, com o agravante das incertezas em torno das eleições, o dólar, que chegou a ser cotado a R$ 3,13 em janeiro, começou a caminhar em direção aos R$ 4.

Ontem, o Banco Central precisou fazer três intervenções para conter a alta da moeda americana após a reunião do Fed, despejando mais US$ 4,5 bilhões em dinheiro novo no mercado de câmbio. O dólar chegou a encostar em R$ 3,74, mas perdeu fôlego e encerrou o dia cotado a R$ 3,71. No curto prazo, o fortalecimento do dólar pode provocar pressão inflacionária, já que muitos insumos no País são cotados pela moeda americana. Alguns analistas também não descartam uma antecipação da alta dos juros no Brasil.