Correio braziliense, n. 20153, 26/07/2018. Brasil, p. 5

 

Um país cada vez mais idoso

Otávio Augusto

26/07/2018

 

 

SOCIEDADE » IBGE estima que a população crescerá até 2047, quando deverá atingir 233,2 milhões. A partir daí, haverá declínio. Em Brasília, no ano do centenário, a capital terá dois moradores com mais de 65 anos a cada jovem

Um a cada quatro brasileiros será idoso até 2060. As pessoas com mais de 65 anos passarão dos atuais 9,2% para 25,5% da população. Daqui a 13 anos, essa parcela da sociedade superará pela primeira vez o número de crianças e adolescentes até 14 anos. Em 2031, enquanto os idosos serão 43,2 milhões, os mais jovens somarão 42,3 milhões. Menos nascimentos, gravidez tardia e aumento da longevidade são os fatores que concretizam a nova cara da população.

A expectativa de vida do brasileiro alcançou a maior média da história: 76 anos. Um salto de 22 anos em relação ao registrado na década de 1960, por exemplo, quando chegava a 54. Até 2060, haverá o incremento de quatro anos, quando se viverá 82,7 anos. Com a população cada vez mais velha e em maior número, os desafios do Brasil em ter políticas públicas que promovam a integração e qualidade de vida dessa população se torna mais urgente.

“O que explica o envelhecimento é a queda na taxa de fecundidade total, que reduz o número de nascimentos ao longo do tempo. Essa queda é observada em todos os estados — primeiro no Sul e Sudeste e, depois, nas outras regiões”, destacou Leila Ervatti, demógrafa do IBGE.

O Brasil tinha 28 milhões de idosos no ano passado, o que representa 13,5% do total da população. Em 10 anos, chegará a 38,5 milhões (17,4% do total). A fatia de pessoas com mais de 65 anos alcançará 15% da população já em 2034, ultrapassando a barreira de 20% em 2046. Em 2042, a projeção do IBGE é de que a população brasileira tenha 57 milhões de idosos (24,5%). Em 2010, estava em 7,3%.

Problemas

Apesar dessa parcela da população se avolumar, não há o que comemorar. Faltam políticas públicas de integração social e de qualidade de vida. “É muito triste ser idoso, não vou mentir.” A afirmação da aposentada Josefa Ramos, 73 anos, revela a expectativa dessa população. “Não é fácil ser velho. Quando o cabelo fica branco, as pessoas param de nos dar valor, acham que estamos caducando”, lamenta. Ela sonhava em ser cozinheira profissional, mas trabalhou como doméstica e hoje vive no Lar do Velhinho do Núcleo Bandeirante.

Entre 2017 e este ano, a população do Brasil ganhou 800 mil pessoas e atingiu 208,4 milhões de habitantes. Uma das tendências que mais chamaram a atenção do IBGE foi a desaceleração do crescimento populacional. O aumento foi de apenas 0,38%. De 2016 para 2017, o crescimento havia sido de 1,6 milhão de pessoas, o dobro do registrado agora. O IBGE estima que a população brasileira cresça pelos próximos 29 anos, até 2047, quando deverá atingir 233,2 milhões. Nos anos seguintes, a população cairá, até chegar a 228,3 milhões em 2060.

“A longo prazo, a redução da população impacta a quantidade de pessoas em idade reprodutiva. Isso já ocorre em países europeus, onde as taxas de fecundidade são muito baixas e, por consequência, há um reduzido número de pessoas em idade ativa, sendo inclusive necessário que esses indivíduos recebam algum tipo de incentivo para que tenham filhos pensando na população que sustentará os idosos”, conclui Leila.

Enquanto o número de idosos aumentará, o de crianças de 0 a 9 anos deve cair nas próximas décadas. Hoje, essa faixa etária representa 14% da população (29,3 milhões). Em 2038, crianças até 9 anos serão 11,1% do total de brasileiros, ou 25,8 milhões. Atualmente, a população entre 20 e 49 anos é de 96,4 milhões (46,2%). Em 20 anos, cairá para 93,1 milhões (40,3%), chegando a 80 milhões em 2060, ou 35,4% do total.

A mudança no perfil etário deve modificar a economia. No total, para cada 100 pessoas com idade de trabalhar, que é a faixa compreendida entre 15 e 64 anos, o país teria 67,2 indivíduos acima desta idade ou abaixo de 15 anos. “Esse é um desafio de muitos países. A transição demográfica  enfrenta esse problema. Isso traz problemas para previdência e saúde. Será necessário um esforço maior dos que estarão trabalhando para sustentar a aposentadoria de quem já parou. Hoje já temos deficit. O mais urgente é o problema da aposentadoria”, alerta o economista e professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília, Carlos Alberto Ramos.

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Retrato do DF

26/07/2018

 

 

Em 2060, Brasília será centenária. Terá dois moradores idosos para cada jovem e a menor taxa de fecundidade do país. À revelia da média do país, a cidade símbolo de desenvolvimento continuará crescendo, mas a passos mais comedidos. Isso porque a soma do número de nascimentos, de mortes e do fluxo migratório continuará positivo.

O envelhecimento da população do DF também terá destaque. Se hoje os de 65 anos ou mais representam 6,9% da população, esse indicador chegará a dois dígitos em 2030 (11,5%) e saltará a 26,1% em 2060, seis pontos percentuais menor que o da média nacional. E eles viverão muito: os homens chegarão a 79,53 anos e as mulheres, 85,65.

Hoje, cada mulher no DF tem, em média, 1,68 filho. Daqui a 42 anos, essa taxa deve cair para 1,5. A queda parece pequena, mas vai aproximar a capital federal dos índices atuais da Europa —  onde a baixa população jovem já é um problema.  O DF terá também o segundo maior índice de envelhecimento do país — percentual de idosos acima de 60 anos de idade em relação a jovens de até 15 anos — chegaria a 207,14%, muito acima do índice nacional de 173,47%.

O sociólogo Antônio Carlos Mazzeo, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), critica a falta de planejamento para essa nova realidade. “É um fenômeno novo para a cidade. Aqui, sempre teve mais jovens do que velhos. Contudo, nas grandes capitais está havendo uma queda na taxa de nascimento”, explica.

Saldo migratório

Símbolo de crescimento, a população do DF não deve encolher até 2060. Atualmente, são 2,9 milhões de habitantes. Em 2060, chegará a 3,7 milhões. Um dos motivos será o saldo migratório positivo para a capital, quando pessoas de outros estados vêm ao Planalto Central em busca de emprego, qualidade de vida e estudo. Brasília ganha mais população do que perde. Ou seja, a soma dos nascimentos, dos migrantes, das mortes e do êxodo é positiva para o crescimento populacional.

Mazzeo alerta para o planejamento que o futuro exige. “O risco é envelhecer a população sem um preparo para a saúde, para o emprego, para a qualidade de vida. Se não há instrução mínima, não há como sobreviver. Como está sendo pensado o Brasil mais velho com o sistema de saúde sucateado? Como será a previdência dessas pessoas?”, pondera.

Apesar do crescimento da população, o número de nascimentos tende a diminuir e os registros de mortes aumentarem na capital federal. Segundo o IBGE, a média geométrica de crescimento populacional do DF será negativa em 2060: equivalerá a -0,10%. Atualmente, é 1,40%. De 2018 a 2060, os nascimentos cairão de 44 mil para 32 mil. O número de óbitos, por sua vez, crescerá em mais de 30 mil. Saltará de 12,9 mil, para 44,8 mil (OA)