Correio braziliense, n. 20152, 25/07/2018. Política, p. 3

 

MDB reconfirma Meirelles na corrida

Alessandra Azevedo

25/07/2018

 

 

Sem alianças nem vice, o MDB reafirmou ontem que manterá a candidatura de Henrique Meirelles à Presidência da República. O partido do presidente Michel Temer deve bater o martelo na convenção, marcada para 2 de agosto, em Brasília. Pelo acordo firmado ontem entre lideranças do MDB, em reunião na sede da sigla, o vice só será escolhido depois do anúncio oficial, pelos correligionários que votarem a favor da candidatura do ex-ministro da Fazenda. Como não tem apoio de nenhuma legenda, é grande a probabilidade de que Meirelles tenha que embarcar em uma chapa “puro-sangue”, com segundo nome também emedebista.

Essa possibilidade não é tratada como catastrófica pelo presidenciável, que garante que o partido tem plenas condições de investir em um voo solo. Além de Meirelles ser capaz de bancar a campanha sozinho, sem precisar recorrer aos recursos do fundo partidário, os três minutos de tempo de televisão a que o MDB terá direito por dia, pelas regras do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), são invejáveis quando comparado, por exemplo, aos oito e quatro segundos de Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede), respectivamente.

Mesmo aparentemente convencido de que Meirelles pode concorrer sozinho, o MDB ainda não desistiu de conseguir algum apoio, inclusive do centrão — grupo de partidos formado por PP, DEM, PR, PRB e SD —, que anunciou, na semana passada, que apoiará o tucano Geraldo Alckmin. “O centrão não tem dono. O centrão só tem gente esperta”, disse o presidente do MDB, senador Romero Jucá (RR), após a reunião de ontem. Segundo ele, agora é momento de “todo mundo conversar com todo mundo”, e o cenário só será definido em 15 de agosto, quando serão feitos os registros oficiais das candidaturas. “Acreditamos que haverá alianças, sim”, reforçou Meirelles.

A crença de uma parte da legenda é que o pré-candidato passará a ser mais atrativo politicamente quando começar a aparecer mais, como acontece em relação aos eleitores. “Pesquisas internas mostram que quando as pessoas conhecem Meirelles votam nele. O problema é ele não ser tão conhecido”, pontuou Jucá. Dentro do partido, o apoio é crescente, disse. Dos 629 votos dos delegados que decidirão pela candidatura, Jucá espera que 460 sejam a favor de Meirelles. O presidenciável acredita que pode chegar a 80%, o que corresponderia a 503 votos.

 

De longe

Enquanto Meirelles, Jucá e outros nomes importantes do partido, como o líder da bancada na Câmara dos Deputados, Baleia Rossi (SP), conversavam ontem em Brasília, Temer reforçava à imprensa, no México, que o ex-ministro é o candidato do MDB e que o partido rechaça compor chapa com algum outro. O presidente participará da convenção, na semana que vem, mas provavelmente não terá um papel relevante na campanha.

Integrantes da legenda acham melhor que ele não suba em palanques, por exemplo, e mantenha a atuação mais nos bastidores. “Na verdade, é uma eleição de menos palanque e mais contato. Quem pode falar sobre a postura dele é o próprio presidente. Ele está preocupado em governar, não está preocupado em fazer campanha”, desconversou Jucá.

Um vídeo da campanha de Meirelles, divulgado ontem, reforça a ideia de que o MDB quer mostrar que ele agrada vários quadros, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao presidenciável Alckmin. A peça publicitária tem falas dos dois, e de outros políticos, enaltecendo o pré-candidato emedebista. O objetivo não é descolá-lo de Temer, garantiu Jucá, mas mostrar que “ele não é invenção do governo do Michel”. “É importante que as pessoas saibam que o trabalho do Meirelles é reconhecido por gregos e troianos, da esquerda à direita”, justificou.

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Rede libera acordos

25/07/2018

 

 

A pouco mais de uma semana da convenção nacional e ainda sem partidos em sua coligação, a Rede liberou os diretórios estaduais para tocarem as próprias alianças, e já trabalha com a possibilidade de palanque duplo em alguns estados. O partido entende que a prioridade, além de eleger Marina Silva presidente, é garantir a sobrevivência da sigla elegendo um número suficiente de deputados federais para ultrapassar a cláusula de barreira — um mínimo de nove em nove Estados.

Em ao menos sete diretórios as negociações passam por seis siglas — PT, PCdoB, Podemos, PRTB, PPL e PSC — que têm pré-candidatos próprios ao Planalto. Além deles, PPS e PSB, que, apesar de ainda não terem anunciado apoio oficialmente, estão mais próximos de outros presidenciáveis. “Ainda que, por ventura, tenhamos discordância, o partido tem autonomia para tomar suas decisões (locais) levando em consideração a avaliação do próprio estado”, disse Marina.

O diretório da Rede em Santa Catarina, que pretende lançar o professor Rogério Portanova ao governo, também admite conversas com PPS, PPL, Podemos e PCdoB — dos presidenciáveis João Vicente Goulart, Alvaro Dias e Manuela d’Ávila, respectivamente. O próprio Portanova participou de um encontro suprapartidário.

A dificuldade da Rede em fechar alianças também reflete nas negociações com o PSB nos estados. No Distrito Federal e no Amazonas, os diretórios estaduais desistiram de lançar pré-candidatos ao governo em troca de uma aliança com o PSB, visando aproximar as siglas nacionalmente — o que acabou não ocorrendo. “O PSB está dividido, mas no Amazonas estamos em harmonia”, disse o coordenador do diretório amazonense, João Lúcio.