Correio braziliense, n. 20152, 25/07/2018. Política, p. 4

 

Os entraves da Previdência

Hamilton Ferrari

25/07/2018

 

 

ELEIÇÕES 2018 » A reforma das regras de aposentadoria, uma das bandeiras da campanha de Geraldo Alckmin, põe em rumos opostos o Centrão e os tucanos. Bloco de partidos barrou no ano passado o avanço da PEC na Câmara

Considerada uma das prioridades na campanha do pré-candidato Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência da República, a reforma da Previdência Social foi obstruída pelo Centrão desde o fim de 2017 até fevereiro deste ano. O bloco de partidos, composto por PP, DEM, PR, Solidariedade, PTB e outros, se aliou ao tucano na corrida ao Palácio do Planalto de 2018, apesar de ter atuado de forma contrária à proposta de emenda à Constituição (PEC). Mesmo assim, especialistas afirmam que, historicamente, o grupo não vota por “questões ideológicas” e que pode mudar de ideia por conveniência do cenário.

A reforma é vista como uma questão espinhosa, e os candidatos à reeleição no Legislativo preferem não se debruçar sobre a proposta às vésperas do pleito. A PEC já era considerada ácida no ano passado, tanto que enfrentou forte resistência do Centrão, que acabou desmoronando a iniciativa do governo federal.

Mesmo assim, visando ter maior tempo de propaganda eleitoral na televisão e no rádio, Alckmin não abriu mão do acordo com o Centrão. O líder do PTB na Câmara, deputado Jovair Arantes (GO), alegou que a reforma da Previdência não pode ser vista de forma “isolada” e que ela é necessária para o país. Ele avalia que Alckmin será o melhor condutor da agenda de reformas, mas que o partido ainda vai elaborar propostas para um eventual programa de governo para 2019. “Dos nomes, vimos em Alckmin o que tem o perfil mais adequado de fazer um pacto nacional, diante da sua experiência. É um nome que tem todas as credenciais necessárias”, defendeu. “Nem a direita nem a esquerda extremas farão bem ao país, então precisamos ter esse pacto”, completou.

Lucas de Aragão, cientista político e sócio da Arko Advice, disse que o Centrão é capaz de “votar qualquer tema”. De acordo com os especialistas, esses partidos aproveitaram a fragilidade do governo em 2017 — por conta de crises envolvendo a empresa JBS, de Joesley Batista e o presidente Michel Temer — para barganhar demandas de interesse próprio. “A reforma estava na boca para ser aprovada, mas a JBS fragilizou o governo e o Centrão sentiu o cheiro do medo e de perigo e se aproveitou da situação”, afirmou. “Não foi uma recusa ideológica, mas sim por interesse”, sintetizou.

O cientista político e professor do Insper Carlos Melo também avalia que o Centrão vota por “conveniência” em vez de convicção. “A rejeição da reforma da Previdência em 2017 e 2018 pelo Centrão não significa que há uma questão ideológica. E em 2019, tudo vai depender das condições, da negociação do governo, do que o presidente vai oferecer, da força do Planalto e das corporações”, disse. “Em 2017 e em 2018, as eleições já estavam próximas, e o Centrão não põe a mão no fogo por ninguém. Em 2019, o pleito já terá passado”, acrescentou.

A PEC da Previdência foi enviada ao Congresso pelo governo em dezembro de 2016. No início de maio do ano passado, o texto passou na comissão especial, mas está parado no plenário da Câmara. O mercado defende que as mudanças na legislação previdenciária são fundamentais para dar sustentabilidade às contas públicas e aos investimentos no país. Em outra ocasião, Alckmin já ressaltou que vai propor a unificação dos regimes público e geral e que buscará a aprovação do texto ainda no primeiro ano de mandato, se eleito.

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O recuo de Josué

Alessandra Azevedo

25/07/2018

 

 

O presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) caiu no mesmo erro que o adversário Jair Bolsonaro (PSL) cometeu três vezes: anunciou um possível vice antes de ter certeza sobre o interesse dele em ingressar na chapa. A opção indicada pelo Centrão — grupo de partidos formado por PP, DEM, PR, PRB e SD —, Josué Gomes (PR), não pretende aceitar o convite. As legendas ainda devem apoiar Alckmin e já buscam um plano B para sugerir como vice.

Embora a executiva nacional do PR tenha afirmado, ontem, que “ainda não há registro de qualquer decisão” do filho do ex-vice-presidente José Alencar, nos bastidores, é visto como certo que ele não participará de um eventual governo tucano. Nos encontros que teve com Alckmin, esta semana, Josué deixou claro que ele poderia se sentir à vontade para buscar outra opção. Durante a conversa de segunda-feira, ele avaliou que, talvez, não tenha muito a acrescentar eleitoralmente à chapa.

Depois de ter descartado uma união com Bolsonaro, com Ciro Gomes (PDT) e caminhe para fazer o mesmo, oficialmente, em relação a Alckmin, Josué ainda mantém conversas com o PT. Ele tinha encontro marcado ontem com o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), mas a reunião foi adiada. Integrantes do partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda querem que ele seja vice de Pimentel na corrida pela reeleição no estado.